Elnaz Rekabi, que competiu no campeonato asiático de escalada de cabeça descoberta, na Coreia do Sul, fez, esta terça-feira, uma publicação nas redes sociais a garantir que está bem e a justificar a ausência do hijab durante a prova.
Corpo do artigo
15264005
O nome e a participação de Elnaz Rekabi numa prova do campeonato asiático continuam a dar que falar. Numa altura em que o Irão está a ser palco de uma vaga de protestos após a morte de Mahsa Amini, de 22 anos, a 16 de setembro, três dias depois de ter sido detida por infringir o estrito código sobre o uso do hijab, o gesto de Elnaz, que competiu sem o véu e com o cabelo solto na final das Competições de Escalada da Ásia, foi visto como um ato de apoio aos protestos das mulheres iranianas.
O gesto correu mundo mas, esta terça-feira, o paradeiro da atleta causou preocupação, depois de a BBC ter noticiado que vários amigos da iraniana relataram que não a conseguiam contactar desde domingo, receando que tivesse sido detida.
1581910159881740288
O governo iraniano prontamente negou qualquer detenção - mesmo que tenha havido garantidas de que o telemóvel e passaporte da atleta tinham sido confiscados na embaixada iraniana da Coreia do Sul - e, agora, Elnaz Rekabi deixou uma mensagem nas redes sociais a descansar a família e amigos, pedindo desculpa pela preocupação causada.
"Saudações a todos os meus queridos compatriotas do Irão. Com uma carreira de 20 anos como membro da seleção nacional de escalada, peço desculpas pelas preocupações que causei. Estou agora a regressar ao Irão, conforme estava estabelecido", pode ler-se. Sobre o facto de não ter competido com o véu, a atleta deixou uma justificação: "Uma chamada imprevista para competir fez com que o meu hijab caísse por acidente".
Ameaças e pressões
Apesar de Elnaz Rekabi garantir que está tudo bem, algumas atletas que também se recusaram a competir sem hijab partilharam que sofreram pressões das autoridades iranianas para pedir desculpa de forma semelhante à que Rekabi fez esta terça-feira e até recusaram voltar para o Irão. Shohreh Bayat, uma árbitra de xadrez, contou que, há dois anos, recebeu ameaças de morte depois de fotos dela sem hijab durante o campeonato do Mundo feminino da modalidade terem começado a circular. A juiza insistiu que estava a usar um lenço mas acabou por pedir asilo no Reino Unido por correr o risco de ser detida.
"Tive de escolher o meu lado e a minha segurança. Pediram-me para escrever um pedido de desculpa no Instagram e fazer um pedido de desculpa publicamente. Deram-me uma lista de coisas que devia fazer e sabia que, se seguisse essa lista e fosse contra os meus princípios, nunca me ia perdoar. Sobre a Elnaz só tenho uma coisa a dizer: a atitude dela vale bem mais do que as palavras que ela escreveu", vincou à BBC.
Protestos começaram em setembro
O Irão foi abalado por uma vaga de protestos após a morte de Mahsa Amini, de 22 anos, a 16 de setembro, três dias após ser detida por ter infringido o estrito código sobre o uso de vestuário feminino previsto nas leis da República islâmica, em particular o uso do véu. A família diz que Mahsa foi espancada até à morte durante a detenção. A polícia garante que morreu de ataque cardíaco e negou ter exercido violência, enquanto responsáveis oficiais indicaram que o incidente está sob investigação.
A liderança iraniana acusou entidades estrangeiras de se aproveitarem da morte de Mahsa para fomentar uma rebelião contra a República islâmica e acusou os manifestantes de "sedição", referindo que diversos membros das forças de segurança foram mortos nos confrontos.
A Amnistia Internacional disse ter obtido uma cópia de um documento oficial onde se refere que o quartel-general das Forças Armadas ordenou aos comandantes militares em 21 de setembro que "confrontassem severamente os agitadores e contrarrevolucionários".
A Amnistia não indicou como obteve os documentos. As autoridades iranianas também não reagiram no imediato.
As autoridades iranianas restringiram o acesso à internet e bloquearam o acesso ao WhatsApp e Instagram, aplicações dos media sociais utilizadas pelos manifestantes para organizar e partilhar informação.