"Projeto de André Villas-Boas tem uma visão clara de competência e integridade"
António Tavares encabeça a Assembleia Geral da candidatura de Villas-Boas e considera que o acordo com a Ithaka nunca deveria ter sido concluído em cima das eleições.
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Provedor da Santa Casa da Misericórdia do Porto, antigo deputado na Assembleia da República e professor universitário de Ciência Política, António Tavares é o presidente da Mesa da Assembleia Geral da candidatura de André Villas-Boas à liderança do F. C. Porto. Em resposta a um conjunto de perguntas enviadas por escrito, enaltece a transparência da Lista B, que procura a estabilidade desportiva e financeira a longo prazo.
Pinto da Costa garantiu Sérgio Conceição por mais quatro anos. Isso pode pesar nas eleições?
A decisão eleitoral deve centrar-se em algo muito mais vasto e significativo do que esse anúncio. No sábado, os sócios do F. C. Porto são chamados a uma reflexão crucial: que futuro querem para o nosso clube? Mais do que a permanência de uma figura no comando técnico, importa decidir quem terá a visão e a capacidade para liderar toda a instituição F. C. Porto nos difíceis desafios que irá enfrentar. Da nossa parte, o André apresentou de forma muito clara o caminho que pretende traçar, as estratégias, os princípios que estão inerentes a esta candidatura, as competências das pessoas, das equipas que a compõem. Acho que não podíamos ter sido mais claros sobre qual é a nossa visão, o que é que pretendemos trazer, como é que pretendemos lá chegar, quem é que está connosco. A partir daqui, serão os sócios do F. C. Porto, democraticamente, a decidir o que é que será o destino do clube. É um momento decisivo, um momento de escolha entre a gratidão pelo passado e a coragem para moldar o nosso futuro.
O que distingue o projeto desportivo e financeiro de Villas-Boas do de Pinto da Costa?
Uma visão clara de competência e integridade, valores que são chave para o futuro do F. C. Porto. O André traz uma abordagem que combina a sua experiência internacional com uma gestão transparente e moderna, em que cada decisão se alinha com os melhores interesses do clube e de todos os portistas. Este é um projeto que vê além do imediatismo; procura uma sustentabilidade a longo prazo tanto no plano desportivo como financeiro. A integridade do André, e da equipa que conseguiu reunir à sua volta, é uma garantia que as práticas de gestão, financeira e desportiva, vão ser pautadas pela clareza e pela responsabilidade. O projeto idealizado e estruturado pelo André não tem medo de fazer as mudanças necessárias para garantir que o clube não apenas sobreviva, mas prospere.
O que viu em Villas-Boas para integrar o projeto dele?
O André tem o ADN do F. C. Porto. Tem uma coragem intrínseca e uma capacidade de liderança que exemplificam o espírito combativo do F. C. Porto. Integrar este projeto foi uma decisão impulsionada tanto pela emoção quanto pela convicção racional. Como sócio n.º 4608 do F. C. Porto, sentiria que estaria a virar as costas ao meu clube se não aderisse a este movimento de renovação e mudança. Há uma componente emocional significativa nesta decisão, que ressoa profundamente comigo e com todos aqueles que vivem o F. C. Porto no coração. As conversas que fui tendo foram reveladoras e alinharam-se perfeitamente com o meu entendimento de quais devem ser os valores e a direção futura do clube. O André não apenas partilha uma visão de mudança urgente como também a comunica com uma paixão que é contagiosa e inspiradora.
Se for presidente da Assembleia Geral, vai trabalhar para mudar os estatutos do F. C. Porto?
A mudança dos estatutos do clube terá de obedecer também àquilo que a estratégia do clube vai exigir para o resto desta década. Para isso será necessário, em sede própria, encontrar os mecanismos de diálogo e de confluência para que todos encontrem nos estatutos o motor que vai dinamizar o clube e mobilizar os seus associados. Serão sempre os associados que irão liderar esse projeto de revisão e não outros interesses difusos. Como tenho dito a assembleia geral é a consciência crítica do clube e deve ser o espelho do sentimento geral dos associados representados no Conselho Superior.
Mas que parte dos estatutos podem ser mudados?
Na sequência do que disse, será prematuro fazer este tipo de entendimento. Contudo, parece-me que a data eleitoral deve coincidir com um momento da época que seja menos crítico para as equipas que lutam pelos títulos nas várias modalidades. O debate democrático não se pode perder no clube. A estabilidade emocional das modalidades, ao mesmo tempo, também exige cautelas. Teremos de encontrar o equilíbrio necessário para tal num profundo e participado debate de ideias.
A Ithaka vai ficar com direitos comerciais de 30% do F. C. Porto. Este acordo é bom ou mau para o vosso projeto?
É um negócio estruturante que envolve a cedência dos direitos comerciais do estádio por 25 anos. É um negócio que claramente não deveria ter sido concluído nove dias antes das eleições, e que deveria ter merecido uma explicação mais detalhada aos sócios. Relativamente ao interesse no negócio, temos de conhecer melhor os detalhes, só dispomos da informação que todos os sócios, através da comunicação social, obtiveram através do parco comunicado da SAD do F. C. Porto. Os números partilhados pelo vice-presidente financeiro da lista A, que conhece muito mais do que todos os sócios, apesar de não exercer qualquer cargo no clube ou na SAD, comprovam que esta área de receitas comerciais é exatamente aquela que tem mais potencial de crescimento. Se os números são estes, parece que o F. C. Porto não está a valorizar devidamente os direitos cedidos, que deveriam no mínimo valer duas vezes mais.
O F. C. Porto está ou não em incumprimento com a UEFA?
A informação que temos é que F. C. Porto se encontra em incumprimento financeiro devido a atrasos nos pagamentos a parceiros, trabalhadores e nas obrigações fiscais e sociais. Estes atrasos resultarão numa multa significativa e numa possível suspensão de três anos das competições europeias, que, ao mínimo erro, pode levar à exclusão por um ano. Esta situação é muito grave e não pode mais ser ocultada dos sócios. Se formos eleitos, comprometemo-nos a apresentar à UEFA um plano concreto que demonstre o nosso compromisso e capacidade de cumprir as obrigações financeiras de forma responsável. v