Haller, do Borussia Dortmund, tem carreira em suspenso devido a um cancro. Há finais felizes
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Quando esta época Sebastién Haller assinou contrato com o Borussia Dortmund, depois de brilhar pelo Ajax, estava longe de imaginar que, afinal, ia ser obrigado a disputar outro jogo: o da vida. O avançado decidiu fazer exames após sentir um desconforto na barriga e os resultados deixaram os médicos desconfiados. Um dia depois, mais análises e um diagnóstico que ninguém queria dar: cancro maligno nos testículos. Chegou o choque e os dias difíceis, como a partilha da notícia com a família.
"O nome da doença é difícil de ouvir. A minha mulher ficou em choque, mas conseguiu lidar. Com a minha mãe, não foi igual. Porque mãe é mãe. Liguei aos meus irmãos para garantir que eles estariam lá para ela, para me certificar que ela ficaria bem", contou, em entrevista. Agora, depois de uma cirurgia, Haller, que está a fazer tratamentos de quimioterapia, vai estar afastado dos relvados alguns meses e reina a incerteza. Mas há histórias em que pode inspirar-se, cujos relatos mostram que um diagnóstico nem sempre é uma sentença.
Por cá, o judoca Jorge Fernandes, por exemplo, conseguiu a medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Tóquio depois de superar um tumor ósseo maligno, em 2015. Chegou a treinar doente, entre sessões de quimioterapia, e era no filho que ganhava força. Um dos muitos relatos com final feliz e cuja força, que muitos não sabiam ter, os levou à vitória da maior das batalhas.
Ricardo Nunes: "Um choque tremendo. O meu mundo desabou"
Guarda-redes diagnosticado com cancro no testículo em 2019. Hoje, passa uma mensagem de esperança
Ricardo Nunes conseguiu fazer a maior defesa da vida depois de um diagnóstico avassalador. Corria o ano de 2019 quando, após fazer um exame de rotina, percebeu que tinha uma pequena inflamação na próstata. O médico do Chaves, clube pelo qual jogava na altura, aconselhou-o a fazer uma ecografia ao órgão reprodutor. Foi detetado um problema. Mais exames depois, vieram as más notícias: um cancro maligno no testículo. Palavras avassaladoras que deixaram o guardião sem reação.
"Foi um choque tremendo, o meu mundo desabou. A morte passou-me pela cabeça. A palavra cancro é assustadora. Foi um turbilhão de emoções: pensei nos meus filhos, que não sabia se ia ver crescer, no que tinha de deixar... Deixei o futebol, o meu foco passou a ser outro", contou, ao JN.
Depois do diagnóstico, e numa altura em que a dor e o choque ainda estavam a ser digeridos, chegou a divulgação. Uma decisão que, admite Ricardo, o ajudou imenso, ainda que no início tenha havido algum arrependimento. "O Chaves achou bem tornar a minha situação pública e não me opus. Ao início arrependi-me um bocadinho, porque foi perturbadora a quantidade de chamadas e mensagens que recebi. E, naquela altura, não estamos com cabeça para receber as pessoas, mesmo com mensagens de carinho. Mas depois soube-me muito bem, senti que as pessoas estavam solidárias e ajudaram-me muito".
O agora guarda-redes do Varzim foi obrigado a remover um dos testículos e à colocação de uma prótese. Um processo de recuperação que demorou cinco meses e que acabou com boas notícias: o tumor não estava em mais lado nenhum. Hoje, Ricardo é vigiado e admite que, apesar das boas notícias, vive em sobressalto. "Deixa marcas, sempre. Vivemos em constante sobressalto. Mas agora gosto de dar o meu testemunho e passar uma mensagem de esperança", vincou.
Nuno Pinto: "Tratamentos foram muito duros. Ficava dois dias parado"
Ex-jogador não se deixou ir abaixo na cruzada contra o linfoma. É agora treinador do Olímpico do Montijo
Corria o ano de 2018 quando o então presidente do V. Setúbal, Vítor Hugo Valente, deu uma conferência de imprensa, juntamente com toda a equipa sadina. Os motivos eram todos menos os melhores: o líder estava ali para anunciar que o defesa Nuno Pinto ia interromper a carreira devido a um linfoma. O então lateral não disse uma palavra e não segurou as lágrimas. Mas a notícia de que padecia de cancro não o apanhou de surpresa.
"Lembro-me do dia em que recebi a notícia mas não foi chocante, porque todos os exames que fiz indicavam que podia ter a doença que tive. Dar a notícia aos meus pais é que foi mais complicado", lembrou o agora treinador do Olímpico do Montijo, ao JN.
O sinal de alerta foi um gânglio na zona inguinal a aumentar. Nuno falou com o médico do V. Setúbal, que também nunca desconfiou que pudesse ser um diagnóstico tão grave. Mas mesmo depois de saber do linfoma, quando fez uma biópsia, Nuno recusou atirar a toalha ao chão: acreditou que ia vencer a batalha e até treinou durante os tratamentos de quimioterapia, apesar de serem muitos duros.
"O que me passou pela cabeça foi que ia recuperar e voltar a jogar. Não pensava noutra coisa. Nunca me passou pela cabeça a morte. A conferência foi um dos momentos mais difíceis, porque senti naquele momento que não podia ajudar o clube. Nunca deixei o futebol, porque independentemente de estar a fazer os tratamentos, continuava a treinar. Os tratamentos são duros, eu ficava dois dias sem fazer nada. Treinava na mesma mas sem grande contacto, porque tinha o cateter no peito. Os treinos ajudaram porque esquecia-me de tudo", explicou.
E eis que seis meses de tratamento depois, Nuno conquistou uma nova vida e voltou aos relvados: "Foi como se estivesse a jogar pela primeira vez, estava muito nervoso!".
Pedro Tavares: "Nunca me vou esquecer das palavras do médico"
Avançado enfrentou doença pouco comum e deu a volta por cima. Tornou-se no "Senhor Coimbrões"
Pedro Tavares, conhecido como o "Senhor Coimbrões", tinha 25 anos quando recebeu a pior notícia da vida. Depois de lhe aparecerem uns gânglios inflamados no pescoço, o avançado foi fazer exames e o diagnóstico foi uma doença pouco comum: linfoma de Hodgkin, em que as células do sistema linfático tornam-se anómalas e começam a dividir-se e a crescer a um ritmo demasiado rápido e de forma descontrolada e desordenada.
"O impacto é assustador", contou o jogador, ao JN. "Acha-se logo que o diagnóstico é uma sentença e, na altura, não havia tanta informação como há agora. Sabia que o prognóstico era bom, apesar de ter de fazer tratamentos de quimioterapia e radioterapia, porque os médicos disseram-me que a percentagem de sucesso era muito alta", acrescentou. Apesar do choque inicial, Pedro, que recebeu a notícia numa sexta-feira, quis ir a jogo na mesma no domingo. E depois, foi obrigado a parar seis meses.
"Decidi ir a jogo porque pensei que me ia ajudar. O apoio da família e dos amigos é muito importante", contou, admitindo que tentou obter a maior quantidade de informação que conseguiu: "Eu sentia a necessidade de falar, eu pesquisava, sentia a necessidade de obter o máximo de informação. Era cismático e pensava: será que os médicos me estão a dizer a verdade?".
Os tratamentos de quimioterapia e radioterapia eram duros mas, no final, Pedro acabou a sorrir e voltou a fazer o que mais gosta: jogar futebol. E a sensação, essa, não tem descrição.
"Durante os meses de tratamento, não fiz nada. Sentia-me muito cansado. Depois, fui fazer o exame de contraste e disseram-me que estava tudo bem. Pedi logo para me tirarem o cateter, só queria correr, jogar. E voltar a tocar numa bola tantos meses depois... é brutal. Nunca me vou esquecer das palavras do médico: 80% da cura está na cabeça dos pacientes"".