Reinaldo Teixeira, gestor algarvio, 61 anos, ambiciona dar continuidade ao trabalho de Pedro Proença, agora líder da FPF. O dirigente, presidente da Associação de Futebol do Algarve e coordenador dos delegados da Liga, revela, ao JN, numa entrevista por email, as ideias mestras da candidatura.
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Quais são os motivos que o levam a concorrer à presidência da Liga?
Nos últimos meses fui procurado e incentivado por vários representantes das Sociedades Desportivas. Tive um forte apoio também de diversos parceiros e agentes do futebol. Disponibilizei-me apresentando sempre as condições que me motivam e que para mim inegociáveis: valores, ética e transparência; e capacidade de compromisso, de construir equipas e de gerar concretização. O futebol português precisa urgentemente de concretizar medidas essenciais. Gerou-se um apoio muito forte e foi assim que, com toda a naturalidade, na quarta-feira, entregámos o nosso dossier de candidatura, subscrito por 17 Sociedade Desportivas. Podíamos ter apenas 4 subscrições, como é sabido, mas gerou-se este apoio muito claro, que se estende igualmente a outros clubes, e que muito nos orgulha e agradecemos, com máximo sentido de responsabilidade.
Queria eleições em março, vão ser a 11 de abril. É uma desvantagem?
Tem sido uma desvantagem para a Liga Portugal, que acabou forçada demasiado tempo a gestão corrente, quando existem tantos dossiers de máxima urgência. Estou absolutamente convencido que a votação do próximo dia 11 de março vai dar uma resposta muito evidente sobre esse tipo de procedimentos, e sobre a gestão e transparência que se exige para uma instituição como a Liga Portugal.
O que é que mais o distingue da outra candidatura?
É preciso falar menos e fazer mais. É preciso garantir uma Liga comprometida em executar o que é urgente: maximizar receitas, reduzir despesas, agilizar os mais diversos dossiers, desde logo a centralização. As prioridades do Plano Estratégico 2023-27 estão bem definidas e os clubes querem vê-las resolvidas. O que a minha liderança e a minha equipa garantem é experiência e capacidade de execução. Teremos profissionais de excelência nas áreas cruciais: centralização; competições; diversificação e internacionalização dos conteúdos; no marketing, infraestruturas e eventos. Com um objetivo principal: executar.
Qual é a sua opinião sobre José Mendes, líder da outra lista?
É um ilustre académico e político, com percurso universitário, no Governo e passagem pelo futebol enquanto presidente da Assembleia Geral do Sporting de Braga e da Liga Portugal. Com a ação que é conhecida.
Se vencer, como imagina liderar a Liga com José Gomes a presidente da AG?
Acredito sinceramente que José Mendes pedirá a demissão em casa de derrota. Caso não aconteça, fui muito claro no dia da apresentação da candidatura: depois da minha eleição como presidente, pedirei aos clubes que indiquem, em eleição para a Assembleia Geral, o nome do Comendador António Saraiva.
É difícil suceder a Pedro Proença?
Pedro Proença é inimitável e tem uma forma de estar muito própria. Serei seguramente um presidente diferente, que naturalmente levará à Liga Portugal um perfil de liderança específico, reconhecido da minha vida de gestão empresarial e de intervenção desportiva. Estou absolutamente seguro de que a sucessão será tranquila, também porque Pedro Proença deixou uma casa muito bem organizada.
Esteve na Liga com Pedro Proença. É um candidato ligado ao presidente da Federação?
Obviamente conhecemo-nos muito bem, sou Coordenador dos Delegados da Liga Portugal há 10 anos. Entrei na Liga há praticamente 30. As minhas responsabilidades enquanto presidente da Associação de Futebol do Algarve colocaram-nos também muitas vezes em contacto, na discussão e resolução dos mais diversos dossiers.
André Villas-Boas disse numa entrevista ao JN e ao O Jogo que José Mendes tem uma equipa melhor do que a sua. Isso é verdade?
Essa narrativa começou a ser construída há algumas semanas, ainda nos bastidores, quando se iniciou o posicionamento da candidatura de José Mendes. Só que depois as duas candidaturas foram apresentadas e os currículos e as pessoas ficaram à vista. Nós estamos no terreno, em reuniões com as Sociedades Desportivas, precisamente apresentando o programa, em detalhe, bem como uma equipa que traz experiência, dimensão internacional e capacidade de fazer, sobretudo nas áreas onde temos de dar passos muito firmes. A partir de dia 11, espero ter a oportunidade de provar a qualidade da nossa equipa. Será uma honra presidir à Liga Portugal, integrando toda uma equipa ao serviço de todas Sociedades Desportivas. Todas. Daqui a 2 a dois anos, se concorrermos a novas eleições, acredito que as Sociedades Desportivas que hoje possam ter dúvidas, nos apoiarão de forma inequívoca.
Como é que explica a alegada incompatibilidade entre a sua candidatura, e as funções de coordenador dos delegados, com a atividade empresarial que significou, por exemplo, realizar negócios com Rui Costa.
Explico com enorme facilidade: não existe. O que existe é absoluta clareza de procedimentos, na minha atividade empresarial e de gestão desportiva. Alinhada, também, com as normas da Liga Portugal e os requisitos de transparência exigidos para integrar a estrutura.
Já disse ter o apoio do anterior presidente, mas a outra candidatura também sente o mesmo... Em que é que ficamos?
Fui muito claro e reitero: conto naturalmente com o apoio do presidente da Federação Portuguesa de Futebol, Pedro Proença, para que possamos liderar um novo tempo de entendimento no futebol português, onde acho que temos a oportunidade de fazer história. E não podia ser de outra forma.
Vencer por um voto já será suficiente?
Vai perdoar-me, mas a vitória colocada dessa forma configura uma certa ideia de desespero, já partilhada pelo outro candidato, que eu, muito humildemente, não subscrevo para a nossa candidatura. Repare, eu acredito muito no nosso projeto e equipa. E acredito muito também no valor da palavra! De qualquer modo, o resultado será sempre menor do que a missão a que nos propomos: representar todas as Sociedades Desportivas.
Se vencer, qual será a primeira iniciativa?
Vou reunir com todos os colaboradores, agradecer-lhes e organizar as equipas para os tempos de grande urgência e eficiência que se avizinham. Serão tempos de menos conversa e mais ação.
O que é que os clubes mais lhe pedem?
A urgência – e as propostas – foca-se no aumento de receitas e redução de despesas. Existe uma ideia romântica, expressa nos números dos anuários, de que o futebol português fatura como nunca. A verdade é que as nossas Sociedades Desportivas vivem excessivamente dependentes de receitas extraordinárias, esmagadas pelos custos de contexto, pelos seguros, pela fiscalidade, por uma lei que é contrária à retenção de talento, pela impossibilidade de fazerem negócio nos estádios, pela limitação das infraestruturas competitivas e de acolhimento dos adeptos... É aí que temos de atuar.
A asfixia financeira da chamada classe média/baixa da Liga é preocupante? O que vai fazer para invertê-la?
Os principais eixos de intervenção concorrem para inverter isso mesmo. No domínio dos quadros competitivos, por exemplo, fará sentido discutir-se soluções que atenuem a paragem das competições para os clubes pequenos, porque não nos podemos esquecer que, enquanto existem clubes que jogam mais, também temos outros que jogam muito menos. Por que razão esses clubes têm de estar parados, sem oportunidade de gerar competição e bilhética? Por outro lado, os clubes têm de ter acesso a serviços e produtos fornecidos pela Liga Portugal, negociados centralmente. Também aí podemos baixar custos. A questão dos seguros e da fiscalidade é muito impactante também. E, como é evidente, a grande inversão deste cenário far-se-á através da Centralização dos Direitos Televisivos.
Tem o apoio de Benfica e Sporting... Não conseguiu chegar a F.C. Porto e Braga?
Estou absolutamente motivado para trabalhar com o apoio de todos os clubes. Se não for imediato, será a partir de dia 11.
Não teme uma Liga dividida?
Recuso absolutamente a ideia de uma Liga divida e não alimento essa narrativa. As Sociedades Desportivas, no essencial, estarão sempre unidas e a partir de dia 11 vamos ter compromisso, vamos honrar o nome Liga Portugal, vamos ter ação na defesa do que é comum. Até lá temos um tempo normal de discussão de propostas, muito importante, mas que não pode ser mais do que isso.
Tem o modelo ideal de centralização de direitos televisivos já na cabeça?
Temos várias referências. O caso português, sendo grave e tardio, não deixa de ser uma oportunidade, o nosso atraso na Europa permite-nos olhar e absorver o que de melhor se fez em outros países. Agora, como referi, o mais importante é termos capacidade de discutir e concretizar um modelo que seja aprovado pelas Sociedades Desportivas. Está aí a urgência. Para depois irmos ao mercado e conseguirmos encontrar, e colocar também à aprovação das Sociedades Desportivas, os melhores parceiros e de negócio.
O que pode colocar em prática para fazer crescer as verbas a receber pelas SAD?
Temos de ser muito fortes negocialmente em diversas frentes, na distribuição das verbas das apostas, na alteração das leis que impedem as Sociedades Desportivas de fazer mais negócio, por exemplo, com bebidas de baixo valor alcoólico, no absurdo que é o IVA da bilhética... Mas temos de inovar também. Temos de fazer evoluir o produto futebol e comercializá-lo muito melhor, numa perspetiva mais agressiva, e com dimensão internacional. Temos de explorar o Digital e as novas plataformas e formatos de conteúdos, e criar todo um novo ambiente de valorização das nossas competições, uma verdadeira marca de excelência do futebol português. Ao mesmo tempo, temos de ter capacidade e conhecimento internacional que nos permita abrir portas e trazer investidores para as nossas sociedades desportivas.
O Benfica já ameaçou não cumprir a lei, se perder receitas. Qual é a fórmula ideal para ninguém ficar de fora?
Não assumo para já outro cenário que não seja a responsabilidade de trabalharmos com todos os clubes para encontrarmos uma solução; devemos isso a todos os clubes e não temos tempo a perder. Antes disso, não admito outro cenário.
Disse na apresentação da candidatura que pretende estádio cheios e fazer regressar as famílias aos estádios. Como tenciona concretizar isso?
A experiência dos adeptos terá de melhorar, desde logo através do investimento nas infraestruturas. Temos de nos debruçar também numa agenda confortável para todos, na segurança, na ligação à sociedade, na ativação que pode desenvolver-se em torno de um jogo – que é ele mesmo um evento! O espetáculo também pode melhorar dentro das 4 linhas. Em todos os detalhes. Um exemplo claro: temos de ter um VAR mais rápido e eficaz, cujas decisões tragam menos quebra e mais clareza ao jogo.
Se vencer, mesmo com muitos anos no futebol e em diferentes cargos, sente-se preparado para o mediatismo das funções?
Sinto-me preparado para trabalhar e concretizar. O espírito é esse. Deixo o mediatismo de lado, se é que ele existe; quem me conhece sabe que não é objetivo nem problema.
Qual é o seu plano para termos uma liga mais competitiva e podermos ultrapassar os Países Baixos no ranking?
A competitividade nasce na base. É muito simples. Não podemos ter medo e desviar-nos das medidas que concorrem para que tenhamos melhores jogadores e melhores equipas, mais equilíbrio e mais crescimento. Uma base mais forte trará sempre uma pirâmide mais forte, por isso todas as equipas têm que ter mais recursos. Mais uma vez: centralização; infraestruturas; aumento de receitas; mais capacidade de investimento; maior capacidade negocial e de defesa dos interesses das Sociedades Desportivas. Por que razão a verbas das apostas não são distribuídas de forma mais equilibrada por todo o futebol profissional, que é precisamente o principal dínamo do espetáculo e do negócio?
Como prevê as relações com a Federação?
Prevejo que sejam as melhores para o futebol português, suportadas no compromisso, na transparência, na capacidade de trabalho e entendimento para resolução dos dossiers comuns, que atravessam temas cruciais como a centralização, o protocolo Liga/FPF, ou a arbitragem, por exemplo. Podemos e devemos também trabalhar na simplificação e uniformização de processos conjuntos. Acredito verdadeiramente que podemos fazer história, porque teremos duas lideranças absolutamente conhecedoras do futebol português e dos seus problemas.
Ficou surpreendido com as recentes buscas na Federação?
Claro, como todo país ficou surpreendido.
Como vê o atual conflito entre Fernando Gomes e Pedro Proença?
Com muita preocupação, pelos interesses do futebol nacional e, em particular das Sociedades Desportivas. Do ponto de vista institucional, sendo eu uma pessoa de compromisso e de consensos, não vejo uma saída que não seja a de um entendimento que defenda os interesses do futebol e do Desporto. Devemos agora focar-nos no futuro, com um objetivo adicional: trabalhar para que dentro de 2 anos Portugal volte a estar representado no Comité Executivo da UEFA.
O que é que podia dizer, em jeito de mensagem final, a uma SAD que ainda não tenha manifestado apoio à sua candidatura?
Que terei um enorme orgulho em colocar a melhor experiência, equipa, compromisso, e capacidade de execução ao serviço de todas, absolutamente de todas as Sociedades Desportivas. Sou um homem independente de qualquer interesse, até político; nada me move mais do que poder servir o futebol.