As inúmeras medalhas que conquistam dentro e fora de portas, garantindo títulos nacionais e internacionais, são a prova de que o valor de um clube amador, que forma jovens atletas, não se mede pela dimensão.
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Na Área Metropolitana do Porto, há associações e clubes pequenos que dão cartas em várias competições. Alguns já valem ouro a nível mundial. O esforço de dirigentes, atletas e famílias mantêm os sonhos vivos.
AP Natação
"Medalhas em quase todas as provas"
O mérito da AP Natação, da Associação dos Proprietários da Urbanização de Vila d"Este, em Gaia, não se mede pela dimensão do clube mas pelo esforço e persistência. "Somos uma equipa pequena; levamos, no máximo, 10 atletas às competições, mas temos conseguido bons resultados. A nível nacional, ficamos em 11.º ou 12.º lugar, em 60 equipas, e já temos alguns recordes nacionais, inclusive uma estafeta feminina", sublinha Margarida Machado, atleta e da direção da AP.
"Tem corrido bem. Começamos por carolice, porque os nossos filhos já nadavam na AP", recorda a nadadora, lembrando que o escalão de masters, criado em 2015, com três atletas, é o que tem dado medalhas ao clube, a par da natação adaptada.
"Somos pequenos, os apoios são nulos, somos de Gaia e estamos a treinar no Porto, numa instituição privada paga por nós", lamenta Margarida Machado, que recusa baixar os braços. "O nosso objetivo é participar em todas as provas do calendário e crescer nos masters", estabelece, revelando que, nos masters, não figuram atletas moradores em Vila d"Este.
"Em masters, somos o único clube de competição em Gaia, e trazemos medalhas de quase todas as provas", salienta Alexandra Monteiro, antiga atleta do F.C. Porto que tem conquistado a maioria dos títulos para a equipa, que desde setembro é treinada por Cristiana Máximo, também psicóloga da Associação.
Acro Clube da Maia
Organização total. "Aqui, cada minuto conta"
Num segundo, estão a voar, lançados pelos pares, ginastas como eles. Como se tivessem asas. Rodam no ar e desenham acrobacias elegantíssimas com os corpos. Esculpem movimentos olímpicos e desafiam a gravidade: um braço erguido, apenas, pode suportar outro corpo, como se não houvesse peso. Tudo é sincronizado ao milímetro, em equilíbrios impossíveis para a maioria dos mortais.
Acontece tudo - e mais -, todos os dias, no Acro Clube da Maia, que cresceu a custo e a pulso desde 2004 e já vale ouro mundial em ginástica acrobática. "Temos os títulos todos. Até taças do Mundo temos", orgulha-se Adelino Maia, vice-presidente e um dos fundadores, para quem a "dedicação" é o grande trampolim para o sucesso de um clube pequeno.
"Começámos a treinar na relva dos parques públicos. Tínhamos 25 atletas e dois treinadores e, agora, temos 350 atletas e 32 treinadores", conta. Entre eles estão o diretor técnico do clube e também fundador Lourenço França, formador da classe de elite, que participa em provas internacionais. "Temos boas pessoas; o que nos define melhor e faz a diferença são os recursos humanos, mais do que bens materiais. Estamos a falar de miúdos que treinam mais de quatro horas por dia, todos os dias exceto ao domingo", enaltece o professor, que treina a dupla - Rita Ferreira e Rita Teixeira - que trouxe a primeira medalha de ouro para Portugal em ginástica acrobática.
"Temos de dividir muito bem o tempo e organizar a nossa vida ao máximo. Aqui, cada minuto conta", diz outra Rita, Costa de sobrenome, cuja "paixão" pela acrobática a leva a fazer ginástica também com as horas. E com êxito: frequenta o 11.º ano, tem média de 19 valores e alcançou "resultados muito bons" nas provas desportivas internacionais: um 6.º lugar no mundial e um 7.º no europeu.
Jorge Silva, 14 anos e um dos rapazes da quadra que este ano trouxe medalhas de prata e de bronze de competições de nível internacional, concorda que, "às vezes, não é fácil" conseguir conciliar tudo. Rita louva o suporte familiar: "Sou muito grata aos meus pais por me trazerem [aos treinos] todos os dias".
Rolar Matosinhos
Segredo "é muito treino, muitas horas de trabalho"
No Rolar Matosinhos, que também tem ouro a nível mundial no palmarés, destaca-se igualmente o empenho dos atletas e apontam-se os treinadores e a família como "pilares" fundamentais.
"Quem não tiver suporte familiar é quase certo que não vai ter sucesso", avisa Pedro Walgode, que faz par com a irmã, Ana Luísa, com quem soma conquistas internacionais na patinagem artística - foram vice-campeões do Mundo em 2019 e neste ano. "Somos o par com os melhores títulos de sempre a nível nacional", lembra o atleta.
São quase 20 horas de uma quinta-feira, e no Pavilhão Municipal de Custoias ecoam as rodas dos patins a rolar sobre o chão, enquanto alguns atletas rodopiam em piruetas. "Chegamos a treinar seis horas por dia", contabiliza o patinador formado em Engenharia, que aplaude a exigência do Rolar. "Dentro de um clube que é amador, temos uma estrutura muito estável e funcional. Grande percentagem dos resultados vem da equipa técnica, e o Rolar tem os melhores resultados a nível nacional. O resto é investimento pessoal", aponta Pedro Walgode.
"O que distingue o Rolar é esta capacidade de conseguir ter campeões europeus nas várias disciplinas de patinagem artística", destaca Hugo Chapouto, bicampeão mundial de patinagem artística, treinador e diretor técnico do clube que reúne 120 atletas, dos quais meia dúzia são campeões do Mundo.
O segredo "é muito treino, muitas horas de trabalho", atesta Diogo Carvalho, que este ano se sagrou, com o seu par, Ema Sousa, campeão da Europa no escalão de cadetes.
Ginásio Clube de Santo Tirso
"Orgulho em conquistas espetaculares"
O Ginásio Clube de Santo Tirso "tem uma dimensão significativa, e é o maior clube do concelho": segundo o presidente, Fernando Vale, conta com "550 atletas federados em nove modalidades", das quais não consta o futebol, que desde a fundação da instituição, em 1961, "é expressamente proibido nos estatutos", para "diversificar" a oferta.
A equipa de voleibol, uma das "modalidades principais do clube", a par do andebol, subiu à 1ª Divisão na época passada, e "o ténis tem tido um crescimento muito grande", revela. Isabel Gonçalves, de 16 anos, "tem trazido algumas medalhas", e está entre os responsáveis pelo crescente sucesso do ténis. Tal como João Silva, que é dois anos mais novo e foi ao "campeonato europeu pela seleção nacional".
No vólei, a luta é para manter a presença na 1.ª Divisão. Bruno Monteiro, capitão da equipa, garante que os "treinos mais frequentes" têm esse objetivo na mira. "Somos bafejados por algumas conquistas espetaculares, que muito nos orgulham", reconhece Fernando Vale, sublinhando que o objetivo do clube "é formar jovens e dar-lhes condições para potenciarem as suas capacidades ao máximo".