Dois anos depois de ter deixado o Rio Ave e rumar a Inglaterra, para representar o Wolverhampton, treinado por Nuno Espírito Santo, onde não foi totalmente feliz, Roderick Miranda está de regresso a Portugal para defender o Famalicão, atual líder do campeonato, com o objetivo de relançar a carreira e dar um contributo de experiência à equipa-sensação. Num espaço competitivo que admite ser-lhe "confortável", o defesa central, de 28 anos, partilhou com o JN que ainda sonha com voos maiores para a carreira e que acredita numa oportunidade na seleção nacional.
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Que motivos o levaram a regressar o futebol português e, mais concretamente, a abraçar este desafio lançado pelo Famalicão?
Achei este projeto muito interessante. É um clube com adeptos muito especiais, que, apesar de ter subido este ano, procura cimentar-se na Liga. As contratações que foram feitas mostram uma visão ambiciosa para a equipa. A nível pessoal, senti que seria benéfico regressar a um contexto nacional para poder recuperar níveis que já atingi no passado, enquanto dou o meu contributo ao grupo.
O facto de a equipa famalicense estar a liderar o campeonato teve algum peso na escolha deste projeto?
Não. Este primeiro lugar, mesmo sendo atípico, é o fruto de trabalho que o grupo fez até aqui. O que me aliciou mesmo foi o projeto, liderado por pessoas que conheço, que me mostraram a visão que têm para Famalicão, e que me cativou.
Desde que chegou, sentiu alguma euforia no grupo de trabalho com este primeiro lugar na Liga?
O que senti é que toda gente aqui tem os pés bem assentes na terra. É um bom início de temporada, a equipa está a ser valorizada por isso, mas não vale a pena entrar em euforias e já fazer contas irrealistas. O foco tem de continuar a ser entrar para fazer o melhor em todos os jogos.
Apesar de ter ingressado no clube há pouco tempo, já deu para sentir o pulso à qualidade do grupo?
Já tinha visto alguns jogos do Famalicão antes e dá para perceber que há imensa qualidade, e até ousadia, nesta equipa. Tem muitos jogadores jovens, mas que não têm medo de se mostrarem e de competirem. Isso é uma lufada de ar fresco no nosso campeonato.
Num plantel que é o mais jovem do Liga, sente a responsabilidade acrescida de ter de passar alguma experiência?
Estou numa fase da carreira em que sinto que já fui acumulando alguma bagagem e conhecimento que pode ser útil à equipa. Já tive em balneários com grandes jogadores, com grandes treinadores e isso ajuda-me a poder agora dar minha opinião e a transmitir experiência aos mais jovens.
Regressar ao campeonato português, mesmo sendo por empréstimo do Wolverhampton, não é um passo atrás na carreira?
Não. É apenas mais um passo. Foi uma decisão tomada com plena consciência. Sinto que posso ajudar e ser ajudado num espaço competitivo onde me sinto confortável e onde já fui feliz.
Como vê a Liga portuguesa atualmente, em relação aos últimos anos que cá competiu?
Sinto uma diferença abissal em relação aos últimos anos. Antes, mais de dez equipas jogavam com um "autocarro" à frente da sua baliza e hoje isso, felizmente, já não acontece. É algo que valoriza os nossos jogadores e o nosso futebol, que é seguido por muita gente.
Como foi a experiência no Wolverhampton, onde trabalhou com o Nuno Espírito Santo e contribuiu para subida à Premier League?
Ao jogar em Inglaterra, sente-se que entramos realmente no mundo do futebol. Sempre com estádios cheios, é uma emoção que só vivenciando se pode perceber. Do primeiro ao último minuto, os jogos têm sempre intensidade, mesmo que nem sempre sejam bem jogados. Os adeptos exigem entrega máxima.
O que faltou para dar continuidade a esse projeto em Inglaterra?
Houve um ou dois jogos em que as coisas não me correram tão bem, e, entretanto, outros jogadores entraram para o onze, numa fase em que a equipa começou a ganhar. Apesar de o Nuno [Espírito Santo] me ter dito que estava a trabalhar bem, e que a oportunidade ia aparecer, a verdade é que não surgiu e a equipa continuou numa boa fase e acabou por se sagrar campeã. Mas ainda fiz 19 jogos.
Entretanto, acaba cedido ao Olympiacos, da Grécia, onde foi treinado por outro português, Pedro Martins. Como foi essa experiência?
É um campeonato diferente, com adeptos fanáticos e três equipas que se diferenciam muito das restantes. As coisas no início não correram bem. Apesar de ter melhorado na parte final da época, e ter feito 20 jogos, achei que não seria bom para mim continuar e, sinceramente, também não sei se a direção do clube tinha interesse em que eu continuasse.
Antes de surgir esta oportunidade de empréstimo por um ano ao Famalicão, tinha outras possibilidades para prosseguir a carreira?
Sim, tinha outras situações, mas nada que me tivesse dado vontade de querer ir. Aqui [em Famalicão], senti-me desejado e isso teve um peso grande. Foi um sinal de confiança das pessoas no meu valor e agora só tenho de retribuir essa confiança.
Qual é a importância do empresário Jorge Mendes no rumo que a sua carreira tem tomado?
O Jorge tem feito o seu trabalho e apresenta-me propostas, mas sou sempre que tenho a última palavra. É óbvio que é uma pessoa com grande influência no futebol, que talvez consiga alargar o leque de possibilidades, mas tenho total liberdade para escolher.
Depois de quatro anos no Rio Ave, onde se notabilizou, já perspetivou como será o regresso ao Estádio dos Arcos como adversário?
Vivi alguns dos melhores momentos da minha vida e da carreira em Vila do Conde e no Rio Ave, onde sempre me trataram muito bem. De certeza que esse carinho e respeito fica e acredito que os adeptos vão receber-me bem.
Aos 28 anos, sente que ainda pode dar um grande salto na carreira?
O meu regresso a Portugal foi para tentar atingir níveis que eu já consegui e poder dar mais um salto. Sinto que ainda tenho tempo e qualidade para isso.
E pensa num "grande" em Portugal, nomeadamente o Benfica, clube que tem um lugar especial no seu coração, ou numa nova aventura no estrangeiro?
Sinceramente, não penso em nada de concreto. Quero fazer as coisas bem aqui, no Famalicão, e ajudar o clube. Quando se pensa muito no futuro normalmente dá porcaria. Há que viver o presente, desfrutar, ajudar o grupo e dar o contributo para consolidar este projeto na Liga.
O sonho de representar a seleção continua vivo?
Qualquer jogador estando bem na sua equipa, independentemente do clube, tem sempre a possibilidade de ser chamado. Acho que o Fernando Santos olha para todos e costuma dar oportunidades. Claro que a ida à seleção é um sonho que continuo a ter.
Quais foram os treinadores que mais o marcaram?
É uma resposta difícil, porque já trabalhei com alguns grandes técnicos. Mas, diria, que foi o João Couto, que me trabalhou na formação do Benfica e me puxou de médio para defesa central, o que me abriu a porta das camadas jovens da seleção nacional. E, claro, o Jorge Jesus, que me ensinou muito do que sei hoje. Trabalhar com ele é como estar numa aula da universidade sobre futebol.
CV:
Roderick Jefferson Gonçalves Mirand
Idade: 28 anos (30-03-1991)
Nacionalidade: portuguesa
Posição: defesa central
Clubes representados: Benfica, Servette (Suíça), Desportivo da Corunha (Espanha), Rio Ave, Wolverhamtpoin (Ingaterra), Olympiacos (Grécia) e Famalicão