Roger Schmidt será o treinador do Benfica na próxima época e os adeptos das águias já podem saber um pouco com o que contar. O técnico alemão não esconde ser uma pessoa emotiva dentro de campo, revoltando-se quando os adversários praticam um futebol defensivo, ao contrário daquilo que ele pretende que sejam as suas equipas. Schdmit quer uma rápida recuperação de bola, ideia ofensiva e, em caso de discussão, não pensa duas vezes antes de falar. Este é o homem que trocou a engenharia pelo futebol e agora pisará os relvados portugueses.
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Nasceu na pequena cidade de Kierspe, na Renânia, Alemanha, e jogou futebol em clubes semiprofissionais, sempre em competições modestas. Chegou a representar o Paderborn, clube que recentemente estava na Bundesliga, mas que na altura competia na terceira divisão. O futebol era uma forma de pagar os estudos. Licenciou-se em engenharia mecânica especializada em tecnologia de plásticos, na Universidade de Paderborn. Schmidt aconselha a que os jovens jogadores prossigam os estudos e tenham um curso superior, acreditando ser possível conciliar o desporto com a faculdade.
Foi futebolista até aos 37 anos, enquanto trabalhava na Benteler como engenheiro de projeto, em Paderborn. Em 2004 surgiu a possibilidade de ser jogador-treinador no Delbruck, da sexta divisão alemã. Um ano depois retirou-se do jogo, ficando apenas como treinador por mais duas épocas para depois abandonar o futebol.
"Eu só queria ser treinador durante uma época, acabei por ficar três, mas o futebol e o trabalho consumiam muito do meu tempo. Tinha uma família jovem e não podia continuar a fazer isso com eles. Estava decidido a deixar o futebol, mas apareceu o interesse do Prussia Munster e aquela teimosia em querer experimentar. Acabei por deixar o meu emprego como engenheiro mecânico", disse, em declarações do DW.
Nunca mais olhou para trás e, depois de ter orientado o Paderborn, que subiu à segunda divisão alemã, foi convidado para um projeto que iria mudar a sua vida para sempre. Em 2012 o Salzburgo tinha Ralf Rangnick como diretor desportivo e o objetivo passava por renovar a filosofia do clube. Tinha sucesso na Áustria por ter uma maior orçamento que os rivais e era conhecido apenas por ser um clube gastador, graças ao investimento da Red Bull.
A parceria Roger Schmidt e Ralf Rangnick deu frutos e renovou o clube: novos métodos de treino, maior enfoque na parte analítica, um centro de pesquisa e, sobretudo, a projeção de jovens talentos. Anos mais tarde iria sair do Salzburgo um jovem chamado Erling Haaland.
Para além do trabalho realizado fora do relvado, dentro de campo o Salzburgo era um espelho das ideias de Roger Schmidt e é um pouco isso que os adeptos do Benfica podem esperar, caso o alemão consiga implementar as suas ideias.
"Eu adoro aquele futebol que é intenso durante os noventa minutos e há muitas coisas a acontecer. Queremos ter o nosso destino nas próprias mãos e não ficar à mercê do que o adversário pode fazer quando tem a bola. Queremos ter a bola e encontrar soluções para a levar para a área adversária o mais rápido possível. Também gosto da defesa subida e orientada para a bola. Há outras equipas que mudam a sua abordagem de acordo com o adversário todas as semanas. A minha equipa deve ter uma identidade própria e não depender do adversário", explicou.
Nos treinos do clube austríaco havia uma sirene que tocava sempre que a equipa não recuperava a bola em cinco segundos, como forma de pressionar os jogadores a esforçarem-se por esse objetivo. Isto porque na ideia do futebol alemão, são nos sete segundo após a perda da posse de bola que se sofre mais golos.
Se Roger Schmidt pretende que as suas equipas sejam intensas em todos os momentos, ele também é uma pessoa intensa. Em 2016, quando orientava o Bayer Leverkusen, durante uma partida contra o Dortmund o treinador foi expulso depois do golo adversário e recusou-se a sair de campo. Nove minutos depois, após o árbitro ter mandado os jogadores para os balneários, o alemão foi finalmente para as bancadas para o jogo retomar. Foi suspenso durante cinco jogos, sendo que dois deles com pena suspensa.
Em outubro desse ano discutiu com Julian Nagelsmann, na altura treinador do Hoffenheim, depois de ter sofrido o segundo golo. "Isso não foi nada, és algum maluco? Está é calado", terá dito a Nagelsmann, o que lhe valeu a efetividade dos dois jogos de suspensão e uma multa de 15 mil euros.
A personalidade forte é uma das características de Roger Schmidt, que dá para o bem e para o mal. Mas a positividade do técnico é algo benéfico para qualquer competição, sobretudo para a Liga portuguesa. "O futebol é uma coisa maravilhosa. Digo aos meus jogadores: são 10 da manhã, o relvado acabou de ser cortado, as bolas estão cheias, tu estás em excelente forma física. Existe algo melhor do que isto?", espelha bem a paixão que transmite ao jogo e poderá transmitir no Benfica.