No dia em que foi apresentado no Al-Nassr, Cristiano Ronaldo falou dos objetivos para o novo desafio mas a conferência abordou temas além do futebol e chegou aos direitos das mulheres, num país em que ainda são escassos.
Corpo do artigo
15592430
Uma sala de conferência cheia, milhares de adeptos nas bancadas, lotação esgotada, sem direito a perguntas dos jornalistas, ovações e euforia. Cristiano Ronaldo teve a apresentação que se esperava, digna de um grande evento - basta ver luzes do estádio Mrsool Park antes e depois do atleta subir ao relvado - e abordou o futuro no novo desafio que agora o espera. "Não é o fim da minha carreira vir para a Arábia Saudita. Não estou preocupado com o que as pessoas dizem. Sei que o campeonato é muito competitivo, porque vi muitos jogos. Tive muitas oportunidades na Europa, de Brasil, Austrália, EUA, até de Portugal. Mas dei uma oportunidade a este clube. É um bom desafio", vincou.
Mas o internacional português foi muito além dos objetivos desportivos e abordou um tema que nada tem a ver com os relvados e que ainda escasseiam na Arábia Saudita: o direito das mulheres. Em plena conferência de imprensa - apresentada por uma mulher, cenário que se repetiu no relvado - e ao lado do presidente do Al Nassr, Musalli al Muammar, Cristiano Ronaldo disse que estava ali para "mudar a mentalidade das gerações". "É uma boa oportunidade para ajudar a melhorar tantas coisas. Até do ponto de vista das mulheres. Muitas pessoas não sabem, mas o Al-Nassr tem uma equipa feminina".
Além de se tornar o jogador mais bem pago - fala-se de 200 milhões de euros mas o "AS" diz que o valor pode chegar a 500 milhões, numa ligação que vai para lá do contrato de futebolista até 2025, uma vez que, depois de terminar a carreira, Cristiano Ronaldo será uma espécie de conselheiro do Al-Nassr até 2030, o que resulta numa ligação de sete anos - o capitão da seleção nacional vai ainda ter direito a vários luxos. Além de um avião privado para viajar até Portugal e Espanha sempre que quiser e assistência médica para ele e para a família sempre que necessário, o agora número sete do primeiro classificado da Liga saudita vai viver num condomínio privado em Riad, onde as regras serão semelhantes ao Ocidente. A metrópole, garante a imprensa estrangeira, assemelha-se a qualquer grande cidade mundial, e até são permitidas festas e o consumo de bebidas alcoólicas.
Mas, afinal, o que as mulheres podem fazer na Arábia Saudita?
Os direitos das mulheres ainda são escassos na Arábia Saudita, embora já tenha havido uma pequena evolução nos últimos anos, depois do reino islâmico, liderado pelo sheik Mohammed bin Salman, ter-se aberto ao turismo. As ainda mulheres precisam da autorização de um familiar do sexo masculino para se casar, viver sozinha ou até pedir um crédito, mas, a partir dos 21 anos, já podem viajar para o estrangeiro sem autorização. Desde 2019, elas já podem conduzir mas continuam sem poder fazer coisas tão simples como entrar com uma ação por conta própria - e, mesmo se forem testemunhas em algum julgamento, o testemunho das mulheres não tem metade do valor do dos homens - ou abrir uma conta bancária sem a autorização de um homem.
Quanto à roupa, as mulheres são obrigadas a vestir-se com "modéstia" e de "forma discreta" mas o escuro manto de abaya ou um lenço de cabeça já não são obrigatórios como se viu, ainda hoje, durante a apresentação do atleta aos adeptos no relvado, com a apresentadora a estar de cabeça destapada. Ainda assim, são exigidas roupas largas e, caso a indumentária seja considerada indecente, uma mulher pode ser detida. No trabalho, elas podem trabalhar mas, muitas vezes, ainda têm de apresentar a permissão de um tutor.
CR7 ofereceu uma bola a menina
Depois de subir ao relvado, um dos momentos altos da apresentação foi quando o jogador português, que estava a oferecer bolas assinadas aos adeptos que estavam nas bancadas, viu uma menina a pedir uma. Cristiano Ronaldo fez questão de lhe oferecer a bola, num gesto que foi festejado como um golo.
1610336096923131905