Andrey Rublev venceu o primeiro torneio Masters 1000 da carreira após uma final de emoções fortes frente a Holger Rune. O russo manteve a cabeça fria nos momentos decisivos e prevaleceu. Fica-lhe a faltar no currículo um torneio do Grand Slam, meta nada irrealista num tenista de inegável talento.
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Depois de ter ultrapassado o norte-americano Taylor Fritz, na meia-final, Andrey Rublev nem quis falar sobre o título em Monte Carlo. Questionado sobre se à segunda seria de vez, depois da final perdida para Stefanos Tsitsipas em 2021, soltou um rápido "prefiro não falar sobre isso", por entre sorrisos nervosos.
O momento é como que uma fotografia tirada ao íntimo do russo, constantemente com as emoções à flor da pele, o que nem sempre o tem ajudado ao longo da carreira. As reações explosivas e as raquetas quebradas após um erro tornaram-se no lado obscuro de um tenista talentoso, que vem construindo um currículo bem recheado numa era de autênticos "monstros" do court.
Também eles reconhecem as qualidades de Rublev, com Rafael Nadal a elogiar-lhe a "intensidade" e Alexander Zverev a considerá-lo "poderoso", mas também há quem lhe gabe a simpatia e o sentido de humor, como Grigor Dimitrov. De facto, o russo, de 25 anos, é visto no circuito como um "bom rapaz", imagem para a qual muito contribui o sorriso fácil e as reações expontâneas em court.
O lado emotivo, lá está, é sempre atirado para cima da mesa em cada conversa com, e sobre, Andrey Rublev. "Sempre detestei perder", confessou o tenista numa recente entrevista ao sítio da ATP, em vésperas do torneio de Indian Wells. É assim desde os tempos da adolescência, quando "atirava a raqueta, chorava, resmungava e rebolava na terra batida" nos duelos com o amigo Daniil Medveved, como contou ao jornal australiano "News Aus".
Essa tenacidade permitiu-lhe chegar a número 1 no ranking mundial de juniores. Atingiu o circuto profissional em 2014 e, três anos depois, conquistou o seu primeiro torneio, em Umag. Em 2020 viveu, até ver, a sua melhor temporada, com uma mão cheia de títulos, registo que quase igualou no ano passado, com quatro troféus.
Entretanto, cimentou a sua posição no top 10 mundial, mas ainda havia algumas barreiras a quebrar, como vencer um torneio da categoria Masters 1.000. "É um objetivo de qualquer jogador. Todos querem ganhar um grande torneio. Adoraria fazê-lo, mas quanto mais pensas nisso, mais pressão colocas em ti", admitiu ao sítio do ATP.
Ficou perto de o conseguir em 2021, quando perdeu a final em Monte Carlo para Stefanos Tsitsipas, que um ano depois chegou a desvalorizar as qualidades de Rublev após ter perdido para o russo nas ATP Finals: "É incrível que me tenha ganho com as poucas armas que tem".
O grego retratou-se da frase, mas faltava uma resposta firme do moscovita. Ela surgiu no último domingo, quando derrotou o dinamarquês Holger Rune na final do Masters 1.000 de Monte Carlo com uma reviravolta incrível (5-7, 6-2 e 7-5), ao cabo de 2.35 horas. No último set, Rublev perdia por 4-1, salvou um segundo "break", que provavelmente seria fatal, e conseguiu virar a partida a seu favor.
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"É um sentimento ótimo. Depois de lutar tanto, de ter perdido tantas meias-finais e finais, ganhar o primeiro Masters 1.000 é muito bom. É um prazer ganhar jogos como estes. É um conto de fadas", revelou o russo, na conferência de imprensa que se seguiu à conquista em Monte Carlo.
Pelo meio, foi capaz de suportar as dores nas costas que o incomodaram ao longo da final. "A parte mental resulta. Tentei acalmar-me e focar-me. A dor tornou-se em algo nada de especial", explicou, antes de revelar o que lhe ia na cabeça a partir do momento em que dispôs de pontos para fechar a partida: "Pensei 'vai apenas, não penses'". Resultou em pleno.
Com 13 títulos no currículo, Andrey Rublev aponta agora a outra marca, vencer pela primeira vez um torneio do Grand Slam. Na defesa que fez ao amigo após as críticas de Tsitsipas, Daniil Medvedev deixou claro que vê no compatriota qualidade para o conseguir.
Até hoje, o melhor registo de Rublev nos quatro principais torneios do circuito mundial fica-se pelos quartos de final, na Austrália, em Roland Garros e no US Open. Vai ser necessária muita tenacidade e também cabeça para poder dar esse passo de gigante, mas o russo vem provando, ano após ano, que o melhor mesmo é contar com ele para tudo.
Ruud sobe ao pódio no ranking mundial
Apesar da vitória em Monte Carlo, Andrey Rublev continua na sexta posição do ranking ATP, que é liderado por Novak Djokovic. Casper Ruud, campeão do último Estoril Open, ascendeu ao último lugar do pódio, atrás do espanhol Carlos Alcaraz.
Holger Rune subiu duas posições, para o sétimo posto, num top 10 fechado pelo norte-americano Taylor Fritz. Quanto ao português Nuno Borges caiu 16 posições, para o 79.º posto, enquanto João Sousa baixou 11 lugares, para o 157.º.
O ranking feminino, que continua a ser comandado pela polaca Iga Swiatek, não registou qualquer alteração entre as dez primeiras classificadas. A melhor tenista portuguesa é Francisca Jorge, no 315.º posto.