Rui Patrício apresentou, esta sexta-feira, a carta de rescisão com o Sporting. No documento a que o JN teve acesso, o jogador revela casos que estarão na base da sua decisão.
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São 34 páginas, em que apenas a data é manuscrita, dando a ideia de que o documento já estaria preparado. O internacional português faz um enquadramento dos acontecimentos que, desde janeiro, terão degradado a relação entre atletas e a direção do clube, encabeçada por Bruno de Carvalho.
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Apareceu "visivelmente alterado com ar de ditador"
O ponto de cisão entre jogadores e direção aconteceu depois da derrota por 2-0, contra o Atlético de Madrid, para a Liga Europa, em abril. Logo após a partida, Bruno de Carvalho usou as redes sociais para criticar a equipa. Os jogadores não gostaram das críticas públicas e publicaram um comunicado nas suas contas pessoais queixando-se da falta de apoio da direção.
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Jogadores e Bruno de Carvalho acabariam por reunir-se no sábado seguinte, antes do jogo contra o Paços de Ferreira. O que seria uma reunião para aproximar as várias partes revelou-se mais um momento de tensão. O guarda-redes escreve que o presidente apareceu "visivelmente exaltado com ar de ditador, alucinado e visivelmente tresloucado". Nesse encontro, Bruno de Carvalho terá acusado Patrício e William de serem os instigadores do protesto por quererem "sair do clube há muito tempo". "Pensas que estás a falar com quem?", terá perguntado Bruno de Carvalho, dirigindo-se a Rui Patrício "aos berros".
"E depois de uma acesa troca de palavras com William, em que discutiram o facto de o presidente estar a incentivar reações agressivas contra jogadores, este afirmou que se lhe quisesse bater não precisava de chamar ninguém", revela o titular da seleção portuguesa. "Toda a reunião decorreu num ambiente ameaçador", explica.
"Toda a reunião decorreu num ambiente ameaçador"
Depois da reunião, os jogadores terão recebido uma mensagem do secretário técnico, Vasco Fernandes, convocando-os para um novo encontro. Quando chegaram ao auditório, os atletas encontraram "o presidente mais calmo". "Quando o William tentou, em nome do grupo, transmitir ao presidente que não podia colocar em causa o profissionalismo da equipa (...) este recusou-se a aceitar que os jogadores tivessem qualquer razão".
Madeira e Alvalade antes do violento ataque à Academia
Antes do ataque à Academia, os jogadores já tinham sido ameaçados por adeptos do Sporting. Primeiro, na Madeira, depois da derrota por 2-1 contra o Marítimo.
"Seguiu-se, logo na Madeira, à chegada ao aeroporto, a reação de alguns adeptos, que vieram perguntar pelo Acuña", conta Patrício. Foi um momento de grande tensão e provocação. Segundo o atleta, juntamente com William, tentaram acalmar a situação. "Na próxima semana fazemos-vos uma visita", terão dito alguns adeptos. "Tudo isto foi presenciado por dirigentes" do Sporting.
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Com a chegada a Alvalade, a situação não melhorou. "Seguiu-se, já na garagem do estádio reservada aos jogadores, a perseguição de adeptos e vários insultos, especialmente dirigidos aos capitães e aos jogadores Battaglia e Acuña com quem se tinham pegado no aeroporto da Madeira. Não deixa, aliás, de ser curiosa a entrada de adeptos na garagem dos jogadores, uma vez que se trata de um espaço fechado ao público e protegido! Certo é que, nunca, em momento algum, a Direção do Sporting condenou a atuação das claques e adeptos, quer publicamente, quer em privado, junto dos jogadores, que foram vítimas desses atos", revela.
Patrício revela fatores "estranhos" do ataque a Alcochete
As agressões aos jogadores na Academia também são descritas na carta. No final de explicar a versão de cada um dos atletas, Patrício chama a atenção para os "fatores estranhos", que contribuem para "uma sensação de desconfiança relativamente ao sucedido e à atuação" do Sporting.
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"É estranho que o treino tenha sido antecipado, e mais estranho, ainda, que o assalto se tenha dado no exato momento em que os jogadores se encontravam no balneário, evitando, assim, a dispersão que aconteceria se estivessem em campo". O atleta revela, ainda, que Bruno de Carvalho apenas chegou à Academia duas horas depois do ataque.
Para o jogador, o conjunto de acontecimentos "confere justa causa de resolução do contrato de trabalho".