A Rússia propôs esta quarta-feira à Agência Mundial Antidopagem (AMA) a elaboração de um "roteiro" para combater o doping entre atletas russos, ameaçados de não marcarem presença nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro2016.
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"Disse-lhes: vamos fazer um roteiro. Se o cumprirmos, damos as mãos e não vamos estar sempre ameaçados, cada vez que apareça um novo documento" sobre doping na Rússia, referiu hoje o ministro dos desportos da Rússia, Vitali Mutko, à agência Interfax.
Tanto a AMA, como a Federação Internacional de Atletismo (IAAF), exigem que a Rússia responda ainda esta semana às acusações de que o Estado permitiu a criação de um sistema de doping no seu atletismo.
Mutko lembrou que os sistemas de controlos antidoping na Rússia foram criados a anteceder os Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi, em 2014, com a direção da própria AMA e do Comité Olímpico Internacional (COI).
"Disseram-nos que os dirigentes das organizações antidopagem não deviam ser designados pelos Estados. Muito bem, na semana seguinte criámos a agência antidopagem russa (RUSADA), independente", explicou o ministro.
O governante esclareceu também que o Estado russo decidiu financiar os trabalhos dessa agência apenas depois de isso ter sido recomendado do exterior e disse que a hipótese de uma exclusão da Rússia servirá para beneficiar os competidores diretos e manchar a imagem do país.
"Os atletas não devem sofrer por aqueles que violaram alguma regra. Lutaremos contra isso. Que reclamações têm contra Sergei Shubenkov (110 metros barreiras), Masha Kuchina (altura), Dasha Klishina (comprimento) ou Yelena Isinbayeva (vara), que se prepara para os seus quintos Jogos?", acrescentou.
O responsável governativo disse respeitar as conclusões da AMA, mas considera que muitas questões não estão a ser suportadas com informação e outras são tendenciosas.
O relatório da Comissão Independente (CI) da AMA, tornado público na segunda-feira, recomenda a suspensão da Federação russa de atletismo, por práticas de doping, assim como a retirada da acreditação ao laboratório de Moscovo, cujo diretor foi responsável pela destruição de 1.417 amostras consideradas suspeitas de práticas dopantes.
O documento elaborado pela comissão acusa também, entre outras coisas, os serviços secretos russos de intimidação dos responsáveis pela análise de amostras recolhidas nos Jogos Olímpicos de Sochi (2014) e recomenda, igualmente, a suspensão para a vida de cinco atletas e cinco treinadores.
Entre os atletas que a comissão quer ver afastados do atletismo está Mariya Savinova, campeã olímpica dos 800 metros nos Jogos de Londres2012, e Ekaterina Poistogova, bronze na mesma categoria.
A agência mundial criou uma comissão de três elementos, chefiada por Dick Pound, justamente com o objetivo de investigar os casos de doping, trazidos a público por uma estação televisiva alemã em dezembro de 2014.
De acordo com os responsáveis da Comissão, é muito claro que os casos de doping no atletismo russo "não poderiam ter acontecido" sem o conhecimento e consentimento do governo russo.
A AMA quer agora que a Rússia seja impedida de estar nas provas de atletismo dos Jogos do Rio2016, considerando que os resultados de Londres2012 foram "sabotados" pela presença de atletas dopados.
O presidente da IAAF, o britânico Sebastian Coe, vai propor ao conselho diretivo que considere a recomendação da AMA para sancionar a federação russa, numa penalização que poderá levar à suspensão total e retirada dos atletas russos de futuras competições da IAAF.