Adriano abdicou do estrelato para voltar à favela onde cresceu. Livrou-se das depressões e quer voltar a jogar. Nem que seja de graça.
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Dele, o insuspeito Zlatan Ibrahimovic chegou a dizer que "era um animal puro" - dentro do campo, entenda-se -, mas o mesmo Ibra também soltou o lamento de a carreira daquele que ainda hoje é conhecido como "Imperador" ter durado "muito pouco". E não é o único. Só que Adriano preferiu a vida ao estrelato, mesmo que essa fosse passada em favelas. Agora, depois da terapia nos escombros do Brasil, diz-se pronto a regressar aos relvados. Aos 35 anos.
As arrancadas imparáveis e os remates indefensáveis. O excesso de bebida, a morte do pai e as depressões arrasadoras. O período de maior fulgor do Adriano jogador foi também o mais devastador a nível pessoal. Em 2004, faleceu-lhe o patriarca e o chão começou a pregar-lhe partidas. Primeiro, tentou resolver o vazio com o álcool: sem efeito. Depois, com a medicação contra a depressão: com o mesmo resultado. E assim se foram passando os dias e os meses. Nos primeiro tempos, conseguiu disfarçar os fantasmas dentro dos grandes estádios do futebol italiano, mas o apelo da favela tornou-se insuportável. A cura só podia estar lá.
Por mais do que uma vez, Adriano fugiu de Itália para o Brasil e testou a paciência das pessoas do Inter de Milão. Até que, entre todos, acordaram que o melhor era abdicar do trono. O Imperador voltou, então, ao bairro da Penha e à Vila Cruzeiro, mas a reabilitação ainda demorou. O futebol, esse, passou para segundo plano - desde 2010, quase não joga: havia coisas mais importantes a tratar. Na favela, sem os focos mediáticos e as luzes maquilhadoras de realidade, Adriano, que, com a fortuna que juntou, sustenta financeiramente cerca 40 pessoas, reconciliou-se com a vida. "Chego lá e ando descalço, sem camisa, jogo bola e faço churrasco. Isso não tem preço", explicou-se numa entrevista ao programa "Conversa com Bial".
Em todo este processo terapêutico, ainda tentou voltar a entender-se com o futebol, até que, nos primórdios de 2016, resolveu "dar um tempo". As lesões e o desencanto tinham-no derrubado. Agora, quase dois anos depois e já de bem com a vida, só espera uma oportunidade para retomar a carreira. Até pode ser de graça, mas, de preferência, no "seu" Flamengo. As pazes estão feitas!