Nasceu num centro de refugiados em Melilla, foi recusado pelo Sevilha e agora brilha no F. C. Porto e na seleção espanhola.
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Uma mãe é capaz de enfrentar a mais longa das viagens e o absoluto desconhecido para garantir um futuro melhor para os filhos. Foi o que fez Edith Aghehowa. Em 2004, grávida de oito meses, decidiu deixar a Nigéria e procurar um futuro melhor na Europa, com o destino a levá-la até Melilla, um cidade autónoma espanhola no norte de África e foi aí, num centro de acolhimento de refugiados que nasceu, a 5 de maio, Samu. Vinte anos, e muitas dificuldades depois, o agora ponta de lança do F. C. Porto subiu mais um degrau na escada do sucesso, com a estreia ao serviço da principal seleção espanhola, frente à Suíça, num jogo da Liga das Nações.
O percurso da família conheceu mais um capítulo em 2006. Edith, com o filho de dois anos nos braços, rumou a Sevilha e fez de tudo um pouco - trabalhou como costureira, fez limpezas e foi auxiliar num lar de idosos - para que nada faltasse a Samu e, depois, a Preciosa, filha nascida já na capital da Andaluzia. No bairro de La Macarena, onde viviam, a escola foi fundamental para a integração de Samu e permitiu-lhe conhecer Mario Caballero, amigo que mantém até aos dias de hoje. “Éramos mesmo muito pequenos quando nos conhecemos. Enquanto estávamos no colégio só queríamos que as aulas acabassem para irmos para o parque jogar à bola. O Samu era dos melhores, claro, fosse no futebol ou em qualquer outro desporto”, conta Mario, ao JN, garantindo que a fama não mudou o perfil do agora internacional A por Espanha. “O Samu era - ainda é, aliás - muito divertido e sempre muito próximo dos amigos, tal como a mãe dele, que também se preocupava connosco”, acrescenta Mario, que mantém contacto, até hoje, com o avançado dos dragões.
O jeito para o desporto-rei abriu as portas do Sevilha FC, onde Samu enfrentou uma das primeiras desilusões da carreira. Foi dispensado do clube e rumou ao Nervión, também da cidade, onde fez a formação antes de seguir para o Granada. Foi aí que se cruzou com Juan Antonio Milla, treinador da equipa B pela qual marcou 18 golos em 33 jogos em 2022/23, no quarto escalão do futebol espanhol. “Chegou com idade de juvenil de segundo ano. Era um miúdo tímido, introvertido, mas quando subia ao relvado transformava-se. Já tinha umas condições físicas incríveis e estava sempre um passo acima dos colegas com a mesma idade. Nós percebemos e acho que lhe demos a oportunidade no momento certo”, afirma o técnico, ao JN.