Sarina Wiegman esteve sempre na linha da frente na luta das mulheres no futebol e ainda faz história como treinadora.
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O contexto nunca foi tão favorável para que raparigas e mulheres tenham uma posição e uma situação minimamente normalizada no futebol. A luta foi longa, demasiado longa. Na Holanda, por exemplo, jogar à bola só deixou de ser exclusividade masculina há mais ou menos três décadas, mas nessa altura já Sarina Wiegman acumulava longos períodos de revolta contra a discriminação. Hoje, é uma das treinadoras mais conceituadas da modalidade e, depois de ter levado os Países Baixos ao título europeu em 2017, prepara-se para fazer o mesmo com a Inglaterra. Nada mau para quem há 45 anos cortava o cabelo bem curto para se misturar com os rapazes nas ruas de Hague, a correr atrás da bola......"Quando se apercebiam, na maioria das vezes as pessoas levantavam problemas", recorda ao "The Coaches Voice".
Se hoje o futebol feminino é respeitado e valorizado como nunca, Sarina Wiegman tem muito a ver com isso. Pelo caminho que a levou até ao topo, lutou pelo profissionalismo das mulheres, contrariou o "status quo" de que "o futebol é para homens", reiterou pedidos de infraestruturas, pelo menos, decentes para a desigualdade de género não ser tão evidente. Tudo isto ao mesmo tempo em que se consolidava como a principal figura da história do futebol feminino neerlandês: foi campeã como jogadora e como treinadora conduziu o país a um inédito título de campeão da Europa. Aos 16 anos, foi convocada pela primeira vez para a seleção A; anos depois, rumou aos Estados Unidos e foi aí que se deu conta de que a realidade das mulheres no futebol devia ser muito melhor.
Em 2007, contudo, Sarina Wiegman esteve para baixar os braços. Já era mãe e professora de educação física, tinha um futuro, embora não fosse o sonhado. Na época de estreia da liga feminina dos Países Baixos, o Den Haag acenou-lhe com um contrato em part-time, ela exigiu um a tempo-inteiro e assim tornou-se numa das primeiras mulheres a viver do e para o futebol no país. Sete anos mais tarde, juntou-se à equipa técnica da seleção, assumindo o cargo de selecionadora em 2017, meses antes de se sagrar campeã da Europa. Em 2019, perdeu a final do Campeonato do Mundo e em 2021 a Federação Inglesa incumbiu-a de levar a Inglaterra ao primeiro título no futebol feminino.
Com ela no comando, a seleção inglesa ganhou 17 vezes e empatou duas, marcou 104 golos e sofreu quatro, em 19 jogos. O 20.º é amanhã (17h), na final do Europeu, com a Alemanha. Sarina Wiegman, uma revolucionária que, ainda por cima, parece ter o toque de Midas.