Hoje, pode ser difícil de acreditar, mas, a sério, já houve um tempo em que os jogos de futebol não passavam na televisão.
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A partir da década de 1950 começaram a ser transmitidos a preto e branco - a estreia em Portugal foi a 9 de fevereiro de 1958 num amigável entre o Sporting e o Áustria Viena -, depois vieram as imagens a cores, as transmissões por cabo, até se chegar ao cúmulo de ser possível ver qualquer jogo a partir de qualquer ponto do globo e via telemóvel, desde que tenha acesso à Internet. E com isso, claro, abriram-se novos mercados. Os monopólios tremeram. E o consumidor é que paga. Literalmente.
"Os estudos mostram que a média de tempo que as pessoas estão ligadas à televisão é de três horas e meia por dia. Já sobre os dispositivos móveis a média é de seis horas. Estamos a ocupar essa necessidade", adiantou ao JN Jorge Pavão de Sousa, ele que é o diretor-geral da Eleven Sports em Portugal, o novo peão no mercado nacional da transmissão de jogos de futebol.
Agora, para ver toda a Liga dos Campeões, o público português tem que desembolsar mais 9,99 euros a cada mês em relação à temporada passada, o que, se não quiser perder pitada da Liga e da Champions, aumenta a conta mensal para, no mínimo, 43,88 euros [ver página seguinte]. Mas se pensa que ver futebol em Portugal é caro, pense outra vez. O nosso jornal foi ver como funciona este mercado nos países com os cinco campeonatos mais importantes da Europa e descobriu que em todos eles, para ver a liga local e a Liga dos Campeões, se paga mais do que deste lado da Península Ibérica: em alguns casos, muito mais. Espanha é o país mais caro, seguindo-se França e Inglaterra.
À exceção de Espanha, que também conheceu mudanças neste defeso, os restantes têm em comum o facto de terem o futebol fragmentado e dividido por mais do que um canal ou operadora. Tal como em Portugal. Ou seja, monopólios, nem vê-los. Só que, ao contrário do que se grita no mundo dos negócios, neste caso a maior concorrência não dita vantagens financeiras para o cliente. Tudo porque o conteúdo está separado e não há dois canais a transmitirem a mesma coisa.
Por cá, por exemplo, é a BTV, canal oficial do Benfica, a ter o exclusivo dos jogos das águias na Luz. Jorge Pavão de Sousa defende a "ambição de trazer os preços para um patamar mais razoável" e antevê mais alterações no mercado nos próximos anos. "A televisão continuará a ser fundamental, mas precisa de reinventar-se", sublinha o diretor-geral da Eleven Sports, realçando a importância de colocar outros conteúdos ao serviço do consumidor. "É preciso criar produtos mais específicos que abranjam as necessidades de clientes específicos e maximizar a experiência do consumidor. Por exemplo, eu gostava de poder pagar só para ver os jogos ou os resumos dos jogos do Cristiano Ronaldo", explica Jorge Pavão de Sousa. Certo é que as mudanças não dificilmente ficarão por aqui. Já sobre os preços, logo se vê.
Na Europa
PORTUGAL - 43,88 euros por mês
A entrada em cena da Eleven Sports mudou o panorama das transmissões televisivas em Portugal. Até agora, a Sport TV era praticamente dona e senhora das transmissões do campeonato e da Liga dos Campeões, mas sofreu um rombo significativo no conteúdo que disponibiliza. Esta época, o canal que, no melhor dos casos, custa 23,99 euros/mês ao consumidor, não tem a Champions, ainda que continue a ser indispensável para acompanhar a Liga: só os jogos do Benfica, no Estádio da Luz, não passam lá, mas sim na BTV (9,90 euros). De resto, os direitos da Liga dos Campeões passaram para a Eleven, canal streaming, que, para já, pode ser visto em dispositivos móveis ou através da operadora Nowo. Por 9,99 euros, assegura a transmissão de quase todos os encontros da Champions, com a exceção de um por jornada que passa em sinal aberto, através da TVI.
ALEMANHA - 50,84 euros por mês
Tal como em Portugal, na Alemanha também são quatro os canais de televisão a assegurar as transmissões dos jogos do campeonato alemão e da Liga dos Campeões. A diferença é que em território germânico, todos são pagos e não há jogos destas duas competições em sinal aberto. A Sky Sports e a Eurosport garantem as transmissões dos jogos da Bundesliga, sendo que o segundo, cujo preço mais barato é de 3,99 euros por mês, restringe-se aos jogos de sexta e de segunda-feira. A Sky, que está em promoção, vale 19,90 euros mensais no orçamento. Já os direitos televisivos da Champions estão quase todos na posse da DAZN, uma espécie de Eleven Sports, fundada em 2015 em Inglaterra. Esta plataforma de streaming custa 17 euros/mês e só não tem o monopólio da liga milionária porque a Telekom Sport também está metida nisto e custa 9,95 euros mensais.
ITÁLIA - 52 euros por mês
Itália é o outro país onde ainda há futebol em canal aberto. Embora não seja tanto quanto isso. Tal como em Portugal, também por lá há um jogo por jornada da Liga dos Campeões que passa na RAI 1, o canal estatal italiano. Salvo esse, ver os restantes jogos da Champions e todos os encontros da Serie A requerem esforço financeiro que, no mínimo, chega aos 52 euros mensais. A Sky Sports é o canal que tem os direitos da Liga dos Campeões em Itália e transmite praticamente todos os jogos da grande competição europeia. A exceção, claro, é o tal encontro que transmite a RAI 1, normalmente de um clube italiano. Já em relação à liga italiana, agora com o atrativo Cristiano Ronaldo, é a plataforma de streaming DAZN a evitar
o monopólio da Sky: dois jogos por jornada só podem ser vistos na DAZN, cuja assinatura vale 17 euros por mês. A Sky Sports Itália custa 35 euros.
INGLATERRA - 52,3 euros por mês
A partir da próxima temporada, até a Amazon vai transmitir jogos da Premier League, com o acordo já assinado até 2022, mas até lá cabe à Sky Sports e à BT Sport garantir as transmissões televisivas de todos os jogos do principal campeonato inglês que podem ser televisionados - é que, em Inglaterra, os jogos das 15 horas de todos os sábados não passam em direto na televisão. A Sky Sports pagou mais e por isso tem direito à maior fatia (126 jogos), enquanto a BT Sport transmite 42 encontros por temporada. Mas o que este canal, criado em 2013, supostamente perde com a Premier League, ganha com a Liga dos Campeões, já que em Inglaterra os jogos da Champions apenas podem ser vistos na BT Sport. Ao todo, o consumidor inglês de bola tem que pagar 52,3 euros por mês: 21,1 da Sky Sports e 31,2 da BT Sport. Se quiser ver canais HD, ambos os valores sobem.
FRANÇA - 54,90 euros por mês
Canal Plus, BeIN Sport e RMC são os três canais televisivos que garantem as transmissões de todos os jogos da Ligue 1 e da Liga dos Campeões para França, sendo que só a RMC tem um exclusivo, já que tem os direitos televisivos da Liga dos Campeões até ao final da temporada 2020/21. Para esta época, o canal lançou-se no digital e por 19 euros por mês todos podem ver todos os jogos da Champions, independentemente da operadora a que estejam vinculados. Se forem clientes da SFR/Altice, o preço cai para os 9,90 euros, sendo que a box indispensável custa 30 euros mensais. Já assegurar todos os jogos do campeonato francês obriga a ser assinante dos dois canais que dividem as transmissões televisivas. O Canal Plus tem um custo de 24,90 euros, enquanto a BeIN Sport vale outros 11 euros. Ou seja, ver a Ligue 1 custa 35,90 euros. Não há jogos em canal aberto.
ESPANHA - 125 euros por mês
Em Espanha, o campeonato espanhol e a Champions estão divididos entre Movistar, BeIN Sports e GOL, mas as transmissões televisivas conheceram mudanças significativas para esta temporada. Tudo porque a Movistar, que também é operadora e que já tinha uma percentagem da liga espanhola, não só garantiu os direitos da Liga dos Campeões como também chegou a acordo com a BeIN Sports e a GOL para ter um pacote que englobe todo o futebol. Assim, para verem todos os jogos do campeonato e da Champions, os clientes têm que pagar 125 euros por mês, que também garante acesso à Liga Europa e aos jogos das outras principais ligas europeias. Se não quiserem ver tudo, 95 euros garante-lhes a Champions e oito dos dez jogos da La Liga por jornada. Outras operadoras também têm pacotes com as duas provas, mas ou não garantem os jogos todos ou são mais caras.