Tempo de treino é menor e nem sempre se faz trabalho de prevenção e reforço. Concentra-se tudo na recuperação dos atletas para os ter disponíveis.
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A rotura do tendão de Aquiles de Nehuén Pérez foi a última lesão que afetou o F. C. Porto que, ainda há bem pouco tempo, contava nove lesionados desde o início da temporada. A última jornada da Champions atirou Alexander-Arnold para o estaleiro do Real Madrid, com uma lesão muscular na perna esquerda, onde já estava Rudiger, também com uma lesão muscular. No Paris Saint-Germain, João Neves saiu no jogo com a Atalanta com problemas na coxa esquerda e juntou-se a Désiré Doué (gémeos) e Dembélé (muscular). No domingo passado, contra o Lens, Luis Enrique perdeu Lucas Beraldo, Kvaratskhelia e Kang-In Lee também por lesão e a Imprensa francesa fala em hecatombe no Parque dos Príncipes.
Estes são alguns exemplos mais recentes da onda de lesões que têm afetado várias equipas neste início de época, uma boa percentagem das quais presentes no Mundial de Clubes. Ainda que não seja fácil traçar uma relação causa/efeito, o certo é que os especialistas não hesitam em apontar o dedo à sobrecarga competitiva que afeta o calendário das equipas de topo. "Estamos a falar de uma luta entre resistência e frequência das cargas. Os nossos músculos e tendões têm um limiar de resistência e não há dúvida que com o número de competições, viagens e sobrecarga competitiva, aumentam os fatores. Com os atletas a competirem de três em três dias, não há tempo suficiente para o organismo recuperar o aparelho musculoesquelético e as coisas tendem a acontecer. O número de lesões de ligamentos cruzados anteriores, do tendão rotuliano e outras mais raras, estão a acontecer cada vez mais, e devem-se à sobrecarga competitiva", afirmou, ao JN, Henrique Jones, especialista em medicina desportiva.
As equipas de topo têm procurado combinar plantéis de qualidade com departamentos médicos cada vez mais completos e especializados para reduzir lesões e aumentar o tempo de disponibilidade dos jogadores. "Os maiores clubes têm ferramentas que podem abreviar o tempo de recuperação da fadiga e o regresso aos níveis físicos ideais, estamos a falar da crioterapia, câmaras hiperbáricas e outras técnicas", completou Henrique Jones.
A intensidade do futebol, o contacto físico e o ritmo dos jogos são cada vez maiores. "Juntava a isso os sprints, mudanças de direções e pressões constantes. Essas exigências aumentam a carga mecânica sobre o corpo, sobretudo sobre os músculos isquiotibiais, joelhos e tornozelos", especificou, ao JN, Tulipa, treinador de futebol.
Talento precoce obriga a cuidados
Sem tempo para trabalho de prevenção, os atletas são monitorizados ao nível do sono, nutrição e hidratação. "Mas há formas de perceber se o jogador está cansado com análises de saliva, ou de sangue. A termografia diz-nos as zonas do corpo com edema muscular. Temos os dados externos, como o GPS, que nos permite saber se há picos de carga. Faz-se a avaliação da força, regularmente, através do salto, além do aspeto psicológico do jogador", juntou Gabriel Silva, treinador de futebol, que já passou pelo Trofense. "Mas com esta pressão competitiva e a escassez de descanso, vamos acabar por matar o treino desportivo, porque não dá para isso, há recuperação e estratégia, vídeo, diálogo e pouco mais. Estamos a falar cada vez mais em seleção e recrutamento de jogadores adequados à nossa forma de jogar e não de treino", acrescentou ainda.
Froholdt, Mora, Quenda, João Simões, ou Prestianni são exemplos de atletas com menos de 20 anos, idades que, por o organismo ainda estar em formação, obrigam a cuidados extra. "São jovens com pouca aderência do ponto de vista musculoesquelético e muitas vezes não dá para aguentar tantas competições. Tem de haver ainda mais prevenção", apontou o médico Henrique Jones.