Desde 2020, foram extintos quase 40 clubes e muitos outros estão em risco. Suspeitas de corrupção levaram a detenções.
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Há quem diga que o futebol chinês, pelo menos aquele que tanto prometeu e tanto se temeu, está a morrer e que a pouca vida que lhe resta é passada num doloroso e desesperado espernear pela sobrevivência. Depois de anos megalómanos, de investimentos insuperáveis, de ideias e projetos a prometer este mundo e os outros, de estrelas internacionais a chegar em troca de salários e regalias pouco menos que indecentes, eis a mais dura realidade, vestida com trapos de corrupção, detenções, dívidas, fuga de jogadores e extinção de clubes.
De acordo com relatos de alguma imprensa, foram 39 desde 2020 e o mais certo é que esse número aumente nos próximos tempos. Só nas últimas semanas foram mais três, enquanto outros foram proibidos de competir na época que está prevista começar algures este mês.
Xi Jinping, presidente da China, tinha um sonho: até 2050, fazer do país uma potência futebolística, organizar um Campeonato do Mundo e construir uma seleção capaz de o ganhar. Em 2016, foi anunciado o plano de construir 70 mil campos de futebol pelo território e, por volta de 2020, haver mais de 50 milhões de praticantes no país. Grandes empresas juntaram-se, tomaram conta de clubes e, diz a FIFA, investiram mais 1,7 mil milhões de euros só na contratação de jogadores, entre 2012 e 2020. Destes tempos prometedores, contudo, resta pouco ou nada. Não há 70 mil campos de futebol, nem 50 milhões de praticantes, nem investimentos, nem grandes patrocinadores envolvidos e até os clubes são menos.
Um desastre que muitos explicam com a pandemia, que levou empresas a tirar o futebol dos assuntos prioritários e com isso condenar clubes à morte, numa razia que parece não ter fim. Dois dos últimos a fechar operações foram o Guangzhou City e o Hebei FC, incapazes de cumprir os requisitos estabelecidos pela federação chinesa, tal como outros seis, entre eles o Kunshan FC, que, pouco antes, tinha alcançado uma promoção inédita ao escalão principal.
A colocar em causa o presente e o futuro do futebol chinês estão ainda suspeitas de corrupção, que levaram à abertura de processos e investigações que já resultaram na detenção de Chen Xuyuan, presidente da Associação Chinesa de Futebol até 14 de fevereiro, dia em que foi afastado do cargo. Lie Tie, ex-selecionador e 92 vezes internacional pela China, também tem as autoridades à perna por "sérias violações da lei", mas ninguém o vê desde meados de novembro.
Até 2050 ainda falta muito, mas, por agora, o sonho de Xi Jinping é um pesadelo.