O Tribunal de Justiça da União Europeia deliberou que impedir clubes e atletas de participarem em competições fora da esfera da UEFA e da FIFA vai contra a legislação europeia. Decisão abre as portas à criação de provas como a Superliga europeia, anunciada em 2021 e que continua a assombrar a Liga dos Campeões.
Corpo do artigo
O que decidiu o Tribunal de Justiça da UE?
O Tribunal de Justiça da União Europeia (UE) entendeu que a decisão da UEFA e da FIFA em proibir atletas e clubes de participarem em competições fora da sua esfera, em resposta ao anúncio da criação de uma Superliga continental em 2021, contraria a legislação europeia. Isso é visto como um “abuso da posição dominante” das duas entidades que organizam competições de futebol, pode ler-se no acórdão, tornado público esta quinta-feira. É o fim de um processo desencadeado pelas empresas gestoras da Superliga europeia, a “A22” e a “European Super League”, uma vez que a decisão do mais alto órgão administrativo da UE não é passível de recurso.
O que é a Superliga europeia?
A Superliga europeia é uma nova competição de clubes, fora da alçada da UEFA. Inicialmente, foi apresentada como uma prova fechada, em que os 15 clubes fundadores teriam sempre a participação garantida, juntando-se-lhes outros cinco que seriam convidados em função do seu rendimento desportivo na época anterior. Ela seria disputada em paralelo com as restantes competições existentes, tanto nacionais como europeias. Entretanto, o modelo evoluiu para uma competição aberta, que juntará 64 equipas masculinas, com três divisões, e 32 femininas, espalhadas por duas divisões.
Quem criou a Superliga europeia?
Quando foi anunciada, a nova Superliga europeia tinha um total de 12 fundadores, aos quais se juntariam mais três clubes, caso ela vingasse. Arsenal, Chelsea, Liverpool, Manchester City, Manchester United, Tottenham, AC Milan, Inter Milão, Juventus, Atlético Madrid, Real Madrid e Barcelona foram os propulsores de uma ideia revolucionária para a estrutura do futebol europeu, que permitia aos clubes a gestão e exploração comercial da competição, sem ação de terceiros, neste caso da UEFA.
Por que razão a Superliga não vingou em 2021?
O projeto foi muito mal recebido pelos adeptos, sobretudo em Inglaterra, onde os protestos foram mais enérgicos. Citada pela Lusa, Martha Gens, presidente da Associação Portuguesa de Defesa do Adepto, pedia, na altura, “proteção para as ligas nacionais, porque é disso que vive verdadeiramente o desporto e não destas ligas milionárias onde só entra quem tem cartão de acesso, ou seja, euros”. Os protestos estenderam-se a clubes e jogadores, entre eles o internacional português Bruno Fernandes, que afirmou que “os sonhos não podem ser comprados”.
Para além disso, a UEFA e a FIFA ameaçaram impedir os futebolistas que participassem na Superliga europeia de representar as suas seleções, admitindo ainda castigar os clubes que aderissem à nova competição. Por tudo isto, vários dos clubes fundadores da Superliga europeia desistiram da ideia, à exceção de Barcelona, Real Madrid e Juventus, sendo que esta última também abandonou o projeto, este ano.
De que forma respondeu a UEFA ao anúncio da Superliga europeia?
Mesmo não tendo vingado numa fase inicial, o anúncio da criação da Superliga europeia levou a UEFA a reformular a sua principal competição de clubes, a Liga dos Campeões, de forma a garantir mais receitas aos participantes. A nova Champions chega já em 2024/2025, com a habitual fase de grupos a ser substituída por uma "fase liga", disputada por 36 clubes, com cada um deles a realizar oito jogos, em vez dos atuais seis. O modelo de pontuação é o habitual (3 pontos por vitória e 1 por empate), com os oito primeiros classificados a avançarem diretamente para os oitavos de final. As equipas que terminarem a fase inicial entre o 9.º e o 24.º lugar discutem um play-off, a duas mãos, de apuramento para a fase a eliminar. As restantes terminam a sua participação na Liga dos Campeões e, ao contrário do que acontecia até aqui, não terão a possibilidade de continuar em prova na Liga Europa.
O que vai acontecer às competições europeias após esta decisão?
A decisão do Tribunal de Justiça da União Europeia (UE) abre, em definitivo, a possibilidade de serem criadas novas competições de clubes à escala europeia, ainda que seja difícil de prever os próximos passos das entidades envolvidas neste processo. Em primeiro lugar, será necessário perceber quais os clubes ainda interessados na criação de uma Superliga europeia, depois da debandada de ingleses e italianos após a rejeição inicial da ideia, aos quais se juntam emblemas de dimensão global como o PSG ou o Bayern Munique que se mostraram desde sempre contra a ideia.
Uma nova competição aberta, cuja participação se baseia no mérito desportivo, sobrepor-se-á às atuais provas reguladas pela UEFA, que se norteiam pelos mesmos princípios, ficando por perceber quais delas prevalecerão. Em Itália, por exemplo, existe uma norma que determina que “quem entra nesse mundo (da Superliga) sai dos modelos da federação italiana do futebol”, explicou seu presidente, Gabriele Gravina, à “Gazzetta dello Sport”. O mesmo está previsto em Inglaterra, com os clubes que decidam participar numa prova fora do âmbito da UEFA ou da FIFA a poderem ser expulsos da Premier League.
É ainda necessário esperar pela forma como os clubes vão receber o novo formato da Liga dos Campeões e como a UEFA pretende continuar a valorizar financeiramente a participação na prova, o que poderá também ajudar a controlar os ímpetos para a criação de uma nova competição.