Pouco tempo útil de jogo é um "problema" que a FIFA e o IFAB levam anos a analisar
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A preocupação sobre o tempo útil dos jogos de futebol não é nova, mas a discussão subiu de tom nos últimos anos. Para uns, o tema é importante por causa da qualidade de jogo propriamente dita; para outros, é fundamental para a modalidade não perder espectadores, numa altura em que a concorrência pela atenção das pessoas (sobretudo entre os mais jovens) é tão feroz. É preciso, por isso, tornar o futebol mais entusiasmante para não condená-lo ao aborrecimento. Os 90 minutos têm que ser aproveitados até à exaustão; quantos menos tempos mortos, melhor.
A FIFA e o IFAB (International Football Association Board), entidades responsáveis pelas regras do jogo, estão há anos a analisar o tema e estudar medidas para diminuir o tempo morto. Em 2017, o documento "Play Fair" sugeria algumas mudanças, como os jogos passarem a ter a duração de 60 minutos cronometrados em vez dos atuais 90 corridos - neste cenário, o relógio pararia a cada interrupção. Recentemente, o jornal italiano "Corrierre dello Sport" avançou que a FIFA estaria a estudar aumentar a duração dos jogos para 100 minutos, mas essa hipótese seria desmentida pela entidade. No entanto, o presidente Gianni Infantino já afirmou a necessidade de "encontrar uma solução para o problema". "Não é aceitável que apenas 47 ou 48 minutos sejam tempo de jogo útil", disse este ano, numa reunião do IFAB.
Ao "Calciatori Brutti", o ex-árbitro Pierluigi Collina, agora membro do IFAB, referiu que é nos lançamentos e nos pontapés de baliza que se perde mais tempo. Daí, talvez, que o documento "Play Fair" tenha levantado a possibilidade de os jogadores poderem sair com a bola controlada nesses lances, terminando a obrigatoriedade de a bola ter que ser passada a um companheiro. A outra solução em consideração é o recurso a tecnologia inovadora que permita detetar situações de fora de jogo quase em tempo real e sem ser necessária a intervenção do videoárbitro.
Em Espanha, os árbitros prometem "15 minutos de compensações" se as paragens assim o ditarem.
Premier League em declínio e o bom exemplo neerlandês
Vista, justamente, como exemplar a vários níveis, é muito provável que a Premier League também esteja a braços com o problema do tempo útil de jogo e a precisar de soluções. A última temporada foi a pior dos últimos 10 anos nesse aspeto, o que ajuda a explicar o facto de o campeonato mais mediático do Mundo ocupar um modesto nono lugar no último estudo que o "CIES Football Observatory" lançou sobre o tema e que abrange estatísticas desde 2018. De acordo com o documento, publicado em fevereiro deste ano, o campeonato europeu com mais tempo útil de jogo é a Eredivisie (Países Baixos), enquanto a liga portuguesa ocupa o 31.º lugar entre os 36 campeonatos tidos em conta na análise.
A Premier League emerge, assim, como um dos casos mais paradigmáticos que sustenta as preocupações relacionadas com o tempo perdido nos jogos de futebol. Recorrendo a dados da plataforma "Opta", o jornal "Daily Mail" deu conta de que, na edição de 2021/22 da liga inglesa, a bola só esteve em jogo, em média, durante 55.07 minutos, sublinhando que este "é o valor mais baixo desde 2010/11" e inferior em mais de um minuto à temporada anterior. Já o documento do CIES avança que, desde a época 2018/19, o tempo útil de jogo na Premier League é 60.59 minutos, o que, neste parâmetro, a coloca apenas como a terceira melhor classificada entre as cinco principais ligas europeias, superada pela Serie A italiana (61.35 minutos) e pela Bundesliga alemã (61.28), sendo que ambas têm valores ainda consideravelmente inferiores em relação às quatro melhores colocadas.
A liga neerlandesa é a que apresenta a melhor média de tempo útil de jogo desde 2018 (63.21 minutos), à frente dos campeonatos sueco (63.05), russo (62.59) e israelita (62.50). As ligas norueguesa, finlandesa e turca fecham o top-10.