O Fundo de Investimento Público Saudita e o ATP Tour, principal circuito masculino de ténis, firmaram um acordo plurianual de colaboração que pretende ser um "catalisador para o crescimento do panorama global do ténis", referem os responsáveis sauditas.
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O investimento saudita chegou ao ténis. O Fundo de Investimento Público Saudita (PIF) firmou um acordo plurianual de cooperação com o ATP Tour, responsável pelo principal circuito masculino da modalidade.
Em comunicado, Massimo Calvelli, diretor-executivo do ATP, fala num "momento importante para o ténis", estando "criado o cenário para um novo período de progresso" da modalidade pela "dedicação do PIF à próxima geração, fomentando a inovação e criando oportunidades para todos".
Do lado saudita, Mohamed AlSayyad, diretor de marca empresarial do PIF, vinca que "esta parceria estratégica alinha-se com a nossa visão mais ampla de melhorar a qualidade de vida e impulsionar a transformação no desporto, tanto na Arábia Saudita como em todo o mundo".
"Através da nossa colaboração com a ATP, o PIF será um catalisador para o crescimento do panorama global do ténis, desenvolvendo talentos, promovendo a inclusão e impulsionando a inovação sustentável", acrescentou.
A aposta no ténis por parte da Arábia Saudita já lhe valeu a garantia de receber, até 2027, as Next Gen Finals, competição que reúne os melhores jogadores até 21 anos no final de cada temporada.
Apostado em diversificar os seus investimentos, o PIF tem olhado para o desporto com especial atenção. O último verão foi de convulsão no mercado de transferências de futebolistas, com muitos nomes importantes do futebol europeu a aceitarem mudar-se para o Médio Oriente a troco de contratos milionários. Tudo começou em janeiro do ano passado, quando Cristiano Ronaldo abriu caminho à chegada à Arábia Saudita de estrelas como Karim Benzema, Neymar ou Roberto Firmino, bem como dos internacionais portugueses Ruben Neves, Otávio ou Jota, só para citar os nomes mais sonantes.
Para lá do futebol, a influência saudita já se faz sentir em desportos como o golfe e a Fórmula 1, entre outros. Esta aposta massiva é vista por diversos organismos como uma tentativa de utilizar o desporto como uma forma de mudar a perceção externa sobre o país no que toca a questões ligadas aos direitos humanos. Ou seja, fazer "sportswashing".
Em setembro do ano passado, o príncipe herdeiro saudita, Mohammad bin Salman, disse não se importar minimamente com esta questão. "Se o sportswashing aumentar o nosso PIB em 1%, então vamos continuar. O desporto fez crescer o PIB em 1% e quero mais 1,5%. Chamem-lhe o que quiserem, vamos conseguir esse 1,5%", explicou, então, em entrevista à estação "Fox News".
Rafael Nadal, recentemente eleito embaixador para o ténis saudita, foi alvo de críticas por se associar a um país com sérios problemas na promoção e defesa dos direitos humanos, como organismos como a Amnistia Internacional não se cansam de denunciar. "Pagam-me? Sim. Se preciso do dinheiro que vou receber? Não, não vai mudar a minha vida. Não assinei nenhum super contrato como outros desportistas que estão lá e que respeito. O meu contrato com eles é para promover o ténis e tentar conseguir os meus objetivos", explicou o vencedor de 22 títulos do Grand Slam, à estação "La Sexta", acrescentando: "Olhes para onde olhares, na Arábia Saudita podes ver crescimento e progresso. Estou entusiasmado por fazer parte disso".
Ainda assim, a aposta do PIF no universo do ténis não é consensual. O fundo soberano piscou o olho à possibilidade de trazer para a Arábia Saudita as WTA Finals, torneio que junta as oito melhor tenistas do mundo no final de cada ano, mas, aqui, a recetividade à ideia anda longe de ser unânime.
"Apreciamos a importância de se respeitar as diversas culturas e religiões. É por isso, e não apesar disso, que nos opomos à atribuição do torneio da joia da coroa do circuito a Riade. Os valores da WTA contrastam fortemente com os do anfitrião proposto", explicaram as antigas campeãs Chris Evert e Martina Navratilova, ao jornal "The Washington Post".
Entre as atletas, porém, a abertura à possibilidade de disputarem as Finals em Riade parece ser maior, com Aryna Sabalenka, Iga Swiatek ou a regressada Caroline Wozniacki a derem o seu "aval" à ideia.
Por outro lado, a russa Daria Kasatkina, que assumiu, recentemente, ser homossexual, mostra-se mais crítica: "É mais fácil para os homens, porque eles sentem-se muito bem lá. Para nós, não é igual. Neste momento, o dinheiro fala mais alto em todo o mundo, mas eu não acho que se deva decidir tudo em torno dele. Neste caso, o dinheiro não dever ser a prioridade".