Fazer as mochilas, preparar os lanches, o jantar, e percorrer 256 quilómetros (ida e volta) desde os Arcos de Valdevez até ao Olival, VN Gaia, para chegar ao treino.
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Durante oito anos foi esta a rotina de Clara Esteves, mãe de Tomás Esteves, um dos jovens emergentes da cantera portista que, aos 17 anos, oito meses e dois dias, estreou-se pela equipa A. O lateral direito foi lançado por Sérgio Conceição na reta final do jogo com o Casa Pia (3-0), na Taça da Liga, e tornou-se, segundo o playmakerstats, no defesa mais jovem dos últimos 94 anos a estrear-se pelos dragões, apenas atrás de Pedro Temudo (1924/25).
O dia especial acabou com Esteves, que tem contrato até 2021 e uma cláusula de 10 milhões de euros, a enviar um beijinho para a mãe, na "flash-interview". "Chorei de alegria, porque o meu filho cumpriu um sonho, mas ele não precisava de me agradecer. Fazia tudo igual outra vez. O que fiz foram quilómetros de amor", diz, ao JN, Clara Esteves.
"O Tomás está a viver sozinho num hotel e, às vezes, fico lá a dormir. A família está sempre em primeiro lugar. Faço o mesmo pelo mais novo [Gonçalo, que joga no Padroense cedido pelo F. C. Porto] e pelo mais velho [Rodrigo]", faz notar Clara, que, além de ser técnica oficial de contas, trabalha numa escola, na área da contabilidade. "Levava o computador para o Olival e ia adiantando serviço, numa pastelaria que há lá perto, enquanto eles treinavam", recorda, sorridente.
Neste caso, atrás de uma grande mulher também houve sempre um grande homem, o pai Adelino Esteves, que lembra as peripécias das viagens. "O pijama e as marmitas não podiam faltar. Além do Tomás, o Gonçalo também já treinava nos sub-13. Eles jantavam durante o caminho e, perto da estação de Santo Tirso, vestiam os pijamas. Quando chegávamos a casa já estavam a dormir".
Testes em Alchochete
Aos 9 anos, Tomás foi detetado por um olheiro do Sporting e prestou provas em Alcochete. "Foi selecionado e ficou definido que ia fazer os torneios de verão. O F. C. Porto aparece depois e a paixão clubística falou mais alto. O meu sogro, que já não está entre nós, ia ficar contente por ver o Tomás no F. C. Porto. Comprou-lhe o primeiro equipamento", conta Adelino, proprietário de um talho e produtor de carne da raça cachena. "Nas férias, o Tomás ajudou-me muitas vezes. Há momentos em que ele me dá lições. Ele não quer saber o que faz bem, prefere antes saber o que faz mal para corrigir. É assim desde criança", salienta o pai Esteves.