Tottenham ficou sem Harry Kane, fez de Postecoglou o primeiro australiano a treinar na Premier League e renasceu.
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Da lista de possíveis sucessores de Antonio Conte constavam nomes de peso, como Julian Nagelsmann, Xabi Alonso Roberto De Zerbi ou Luis Enrique. Três meses depois, contudo, quem assumiu o comando do Tottenham foi Ange Postecoglou, mais ou menos desconhecido no futebol europeu até há dois anos, quando o Celtic o foi desencantar aoYokohama Marinos (Japão). No futebol escocês, conquistou cinco títulos em duas épocas. Mesmo assim, parecia saber a pouco para as ambições dos “spurs”, que não ganham troféus desde 2008 e passaram os últimos anos a ver como, para além de Conte, também José Mourinho não conseguiu ser esse ponto de viragem. Para além disso, antes do primeiro jogo oficial, Harry Kane rumou ao Bayern Munique, deixando a equipa orfã do melhor jogador, do maior goleador e do capitão. Parecia estar tudo montado para correr mal, porém, três meses depois, o Tottenham lidera a Premier League e Postecoglou lidera uma revolução.
Depois de ter sido o primeiro treinador australiano a ser campeão no Japão e campeão na Escócia, o homem que nasceu na Grécia e aos cinco anos foi posto à força num navio que, só um mês depois, atracou em Melbourne, tornou-se também no primeiro australiano a chegar à liga inglesa. Dez jornadas passaram e, com oito vitórias e dois empates, tornou-se no treinador que mais pontos conquistou na primeira dezena de jogos no campeonato. Conduziu o Tottenham à primeira vitória sobre o Liverpool (2-1) desde 2017, também bateu o Manchester United (2-0). Sem Kane, esmeram-se Son Heung-min e James Maddison: os “spurs” marcaram golos em todos os jogos, confirmando a apetência ofensiva das equipas de Postecoglou e que é uma espécie de herança familiar, uma maneira de manter vivo quem já morreu. “Quando via jogos com o meu pai, ele só elogiava as equipas que davam espetáculo e que marcavam golos. É por causa dele que quero que as minhas equipas sejam assim”, contou.
Para lá das mudanças no campo, é fora dele que as diferenças para os antecessores, principalmente Antonio Conte, mais se fazem sentir. Em comparação com o italiano, a imprensa inglesa realça uma relação muito mais próxima com os jogadores, de reuniões mais curtas, de menos controlo e mais liberdade (não há estágio antes dos jogos em casa). Há mais sorrisos na sala de imprensa, diálogos e respostas mais amigáveis com os jornalistas. Mais vitórias, mais otimismo e mais entusiasmo também. Ange faz sonhar o Tottenham.
