Treinador português prepara a estreia em La Liga no clube de Ronaldo "Fenómeno"
Ricardo Pereira, treinador de guarda-redes português, deu o seu contributo para o recente regresso do Real Vallodolid ao principal escalão do futebol espanhol e agora vai acompanhar a equipa nos principais embates da La Liga, num clube que é propriedade do ex-avançado brasileiro Ronaldo.
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Aos 50 anos, Ricardo Pereira, está a viver um dos momentos mais marcantes da sua carreira como técnico de guarda-redes, preparando-se para se estrear na Primeira Liga Espanhola com o Real Valladolid. Após uma temporada passada bem-sucedida, que culminou na promoção da equipa à La Liga, Ricardo partilhou com o JN a sua jornada, os desafios enfrentados e a expectativa para a nova época ao serviço de um clube que é propriedade da lenda viva do futebol, o brasileiro Ronaldo “Fenómeno”, presença assídua no dia à dia da equipa.
Do Benfica B para o mundo
A trajetória de Ricardo Pereira no futebol começou no Benfica, onde deu os primeiros passos como treinador de guarda-redes. "Foi o clube que me deu muitas oportunidades para crescer. A experiência na equipa B foi fundamental para desenvolver as minhas habilidades técnicas e de liderança", recorda Ricardo.
No entanto, a ambição do também ex-guarda-redes levou-o a procurar novas oportunidades no estrangeiro. "Saí de Portugal numa fase prematura da minha carreira. Talvez se tivesse esperado mais um ou dois anos, as portas da equipa A do Benfica ter-se-iam aberto. Mas, do ponto de vista financeiro, a oportunidade de ir para a Arábia Saudita foi irresistível. Fui ganhar três ou quatro vezes mais do que ganhava e, naquele momento da minha carreira, isso falou mais alto", admite.
Durante sete anos, Ricardo trabalhou em clubes de renome como Al Fateh (Arábia Saudita), Standard Liège (Bélgica), Legia de Varsóvia (Polónia), Nottingham Forest (Inglaterra), Independiente del Valle (Equador) e Al Taawon (Arábia Saudita). "Trabalhar com treinadores de diferentes nacionalidades e culturas foi extremamente enriquecedor. Aprendi muito sobre diferentes abordagens ao jogo e formas de treinar. Sinto-me muito mais preparado e com uma visão mais ampla do futebol", explica.
Subida ao Real Valladolid
Na época passada, aceitou o desafio de integrar a equipa técnica do Real Valladolid. "A minha segunda passagem pelo Independiente del Valle foi muito positiva. Ganhámos cinco títulos em um ano, dois deles internacionais. Mas depois de sete anos fora de Portugal, senti a necessidade de regressar para mais perto da minha família. Surgiram várias oportunidades e a proposta do Valladolid pareceu-me a mais aliciante", revela.
Inicialmente, Ricardo hesitou em aceitar a proposta recebida quando a equipa ainda estava na La Liga, dizendo que foi "suficientemente louco” para anuir ao desafio quando a equipa desceu ao segundo escalão.
"Foi uma decisão arriscada, mas acreditava no potencial da equipa. Sabíamos que a Segunda Liga Espanhola era altamente competitiva, mas conseguimos ultrapassar as dificuldades e garantir a promoção. Isso foi um motivo de grande orgulho para toda a cidade", afirma com satisfação.
Trabalhar com Ronaldo "Fenómeno"
Uma das experiências mais singulares de Ricardo no Valladolid tem sido a colaboração com o presidente do clube, Ronaldo "Fenómeno". "É de uma simplicidade tremenda. Ele é muito determinado em relação ao que quer para o clube e proporcionou-nos as melhores condições para alcançar os nossos objetivos. É uma presença afável. Acabas um jogo e vês o Ronaldo sentado no refeitório, com todos os trabalhadores, a comer tapas e a discutir o jogo connosco, mas com a maior simplicidade. Quase esqueces que estás a falar com uma lenda do futebol", partilha Ricardo.
O técnico recorda que foi surpreendido quando, no início da época passada, os próprios jogadores da equipa quiseram tirar uma fotografia como presidente, algo que também acabou por colecionar para o seu álbum de carreira.
“Nunca vi tantos jogadores a pedir fotografias. Costumamos ver o inverso. Confesso que achei que só tinha direito de o fazer enquanto membro da equipa técnica no dia em que a subida ficou consumada. Foi nesse dia que pedi uma fotografia ao presidente (risos)”.
O segredo do sucesso: resiliência e caráter
Ricardo destaca a resiliência e o caráter da equipa do Valladolid como elementos chave para o sucesso. "Passámos por momentos difíceis e houve alturas em que tivemos de blindar o grupo das críticas externas. As críticas eram provavelmente justas, pois não estávamos a ganhar e a conseguir os resultados que queríamos. Mas a união e o trabalho árduo foram fundamentais. Foi necessário blindar muito bem aquele grupo e acho que isso foi muito bem feito", explica.
No que toca ao trabalho específico com os guarda-redes, Ricardo enfatiza a importância da dedicação e do trabalho em equipa. "A nossa 'família' de guarda-redes trabalha muitas horas junta, no ginásio e no campo. Esse trabalho específico deu-nos muita felicidade e realização. O ‘nosso’ português André Ferreira, por exemplo, não pôde jogar pelo excelente momento de forma do experiente Jordi Masip, que, entretanto, tinha amarrado o lugar ao John Victor, que agora está no Botafogo, treinado pelo Artur Jorge. Mas em termos de treino e da recuperação de todos os seus índices de confiança, acho que conseguimos ótimos resultados. Espero que na próxima época ele possa também mostrar o seu valor", comenta.
Olhar para o Futuro
Com a nova época a aproximar-se, Ricardo já está a planear o futuro. "Ainda estou a acabar as férias, mas já a pensar no desafio que temos pela frente. O calendário é exigente, começando logo com visitas ao Real Madrid e ao Barcelona. Há muita expectativa e ilusão", confessa.
Ricardo não esconde o desejo de voltar a Portugal no futuro, mas sublinha que a decisão deve ser tomada no momento certo. "Sou muito português e tenho um grande orgulho nas minhas raízes. Gostaria de trazer para o meu país toda a experiência que adquiri, mas, por agora, estou focado em dar o meu melhor no Valladolid e fazer desta estreia na Primeira Liga Espanhola um sucesso", conclui.
A Filosofia de Treino
Ricardo Pereira acredita firmemente na importância de uma abordagem integral ao treino de guarda-redes, e destaca as qualidades dos treinadores portugueses. "Olhamos para o aspecto estratégico do jogo, olhamos para o aspecto tático, olhamos para a nossa equipa, olhamos para o adversário e juntamos tudo isto. Sabemos muito bem treinar para direcionar os comportamentos para a nossa forma de jogar. Este é um dos maiores méritos do treinador português: a capacidade de adaptação e a compreensão do que fazer com os recursos que temos à nossa frente", explica.
A experiência de Ricardo em trabalhar com diferentes culturas e filosofias de jogo permitiu-lhe ter a capacidade de se adaptar às circunstâncias. "Trabalhar com treinadores de várias nacionalidades e com diferentes abordagens ao jogo foi muito enriquecedor. Aprendi a me adaptar e a extrair o melhor de cada jogador. Esta capacidade de adaptação é crucial para o sucesso", afirma.
Desafios e planos futuros
Ricardo enfrenta os desafios da nova época com determinação e otimismo. "A nova época será exigente, mas estamos preparados. O Real Valladolid é uma equipa com potencial e estamos prontos para competir ao mais alto nível", diz com confiança.
Quanto ao futuro, Ricardo mantém-se aberto a novas oportunidades, mas com um foco claro no presente. "Tenho tido a sorte de poder fazer escolhas baseadas na minha felicidade e no meu crescimento profissional. Recusei o Flamengo há cerca de um ano porque achei que não era o momento de deixar o Independiente del Valle, onde me tratavam como em casa, o presidente até me disse para me naturalizar equatoriano e trazer a minha família para o país. Mas, sou muito português e sinto um grande orgulho nas minhas raízes. Gostaria de trazer Portugal toda a experiência que adquiri, mas agora estou focado em dar o meu melhor no Valladolid", vincou
O treinador confessou que “nem todos os clubes em Portugal podem oferecer condições financeiras condizentes” com aquilo que já atingiu na carreira, mas partilhou vontade de um dia implementar no nosso país um projeto integral
“Gostava de trazer um projeto de desenvolvimento do guarda-redes, desde a base até ao profissional, e realmente poder criar uma 'escola de guarda-redes' que caracterizasse o clube X ou Y ou a seleção”, concluiu.