Os três adeptos do Vitória de Guimarães que são arguidos por insultos racistas ao jogador Moussa Marega estão, a partir desta sexta-feira, impedidos de frequentar recintos desportivos. O impedimento foi imposto pelo tribunal de Guimarães como medida preventiva, mas os adeptos negam.
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Em causa está o jogo que opôs o Vitória Sport Clube ao Futebol Clube do Porto, a 16 de fevereiro, no Estádio D. Afonso Henriques. Ao minuto 69, Moussa Marega estava junto à bancada nascente quando ouviu cânticos racistas provenientes da zona central desta bancada e decidiu abandonar o jogo.
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Os três arguidos estavam na bancada Sul, a mais de 50 metros do jogador, na zona habitualmente destinada à claque do Vitória. Foram constituídos arguidos depois de as câmaras de videovigilância do estádio os terem filmado a dirigir palavras destinadas ao avançado maliano, no momento em que este abandonava o relvado.
A investigação acredita que os arguidos estavam a entoar cânticos a imitar o guinchar de um macaco (uh! Uh! Uh!), o que pode constituir o crime de discriminação e incitamento ao ódio e à violência, punível com pena de prisão de seis meses a cinco anos, pelo qual foram constituídos arguidos.
Para sustentar esta tese, o Ministério Público dispôs de imagens das câmaras de videovigilância onde os arguidos estão com uma expressão facial designada de "boca de peixe", alegadamente a imitar um macaco, ao mesmo tempo que gesticulam com os braços para a frente e para trás.
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No entanto, esta sexta-feira de manhã, os três arguidos negaram que tivessem proferido essa imitação de teor racista, justificando a "boca de peixe" com o facto de estarem a chamar "burro" ao jogador. Ainda foram confrontados com o áudio das câmaras de videovigilância, onde se ouvem sons a imitar macacos, contudo reside a dúvida sobre se os sons saíram mesmo da boca dos três arguidos, tendo em conta que há muito barulho nos segundos em que isso aconteceu.
O trio vai aguardar julgamento com a medida de coação de interdição de entrada em recintos desportivos e obrigatoriedade de apresentação no órgão de polícia criminal da respetiva residência sempre que o Vitória Sport Clube jogar.
Para já, estes são os únicos arguidos na investigação por insultos racistas ao jogador Moussa Marega. A investigação acredita que os insultos começaram com dezenas de adeptos da bancada nascente inferior e alastraram-se a todas as restantes bancadas do estádio, com exceção da Norte, onde estavam os adeptos do F. C. Porto.
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Tal como o JN já tinha avançado, a principal dificuldade da equipa de investigação reside na dificuldade em identificar adeptos que tenham cometido ilícitos racistas na bancada nascente, onde tudo começou, pois a qualidade do áudio e do vídeo das câmaras naquela bancada é consideravelmente inferior à qualidade das câmaras apontadas para a claque White Angels.
As câmaras apontadas para a claque filmam a 4K e permitem reconhecer o rosto e as expressões faciais mesmo após um zoom de vários metros, pois foram instaladas ali com esse fim, a pedido da UEFA, por ocasião da Final Four da Liga das Nações, realizada em Guimarães e no Porto, em junho do ano passado.
No mesmo processo, um quarto cidadão foi constituído arguido mas aceitou a suspensão provisória do processo mediante o pagamento de 400 euros a uma instituição de solidariedade social e interdição de acesso a recintos desportivos durante um ano. Ia ser acusado pelo crime de discriminação e incitamento ao ódio e à violência, após ter proferido insultos alegadamente racistas contra Moussa Marega no Twitter.