Depois de garantido o título de campeão, o Sporting vai este sábado à Luz tentar dar mais um passo no agora almejado percurso sem derrotas na Liga deste ano.
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Os de Alvalade vão sem outra pressão que não seja a da histórica rivalidade, a mesma que move o Benfica, embora as águias ainda tenham o foco no, possível mas pouco provável, segundo lugar. As emoções do dérbi sem público nas bancadas transferem-se para casa dos adeptos ou locais onde se possa ver a bola sem comprometer as normas de prevenção da pandemia de covid-19. É o que vai acontecer esta tarde na sportinguista aldeia de Parambos, no concelho de Carrazeda de Ansiães, e na benfiquista Ervedosa do Douro, em São João da Pesqueira.
A época desiludiu mas a paixão continua viva
A tarde está a ver se chove em Ervedosa do Douro, mas, enquanto não acontece, quatro fregueses entretêm-se a jogar cartas numa das mesas de pedra, no largo ao pé da Junta de Freguesia. O tempo está mais para isso do que para conversas e muito menos para falar do novo campeão nacional de futebol.
Ervedosa, no concelho de São João da Pesqueira, inclina-se, claramente, para o outro lado da Segunda Circular e, pelas contas de Joaquim Monteiro, uns "70%" dos quase 1300 corações da freguesia são "vermelhos". "Deve ser a que tem mais benfiquistas no concelho e, talvez, na região do Douro", reforça.
Mesmo que hoje ganhe ao Sporting, não há de ser caso para muitos festejos. Mas se ganhasse o campeonato, havia de voltar a ter o que sempre tem: "Uma grande caravana pelo concelho e a festa dos benfiquistas com porco no espeto, baile e tudo a que temos direito", salienta Monteiro, recordando que houve anos em que, em importância, "andou perto da festa de ano da freguesia".
Este ano, as expectativas saíram goradas. Quem é benfiquista continua a sê-lo e com grande fervor, mas mesmo que hoje a águia ganhe ao leão e depois conquiste a Taça de Portugal frente ao Braga, não será salva uma época de tanto investimento e promessas de grandes feitos goradas.
"É um ano para esquecer, porque as expectativas eram muito altas", nota João Olindo. "A Taça não serve de consolação. Temos muitos craques, mas como a época não foi bem preparada, tudo correu mal". Quando ao dérbi de hoje, espera uma vitória do seu clube. "Se perdermos, será mais do mesmo", lamenta.
A opinião não difere muito da de Manuel Araújo, "desiludido" com esta época. "Para quem queria ser campeão europeu, a coisa ficou muito aquém". É um daqueles sócios do Benfica capaz de ir a Lisboa ver a bola e voltar no mesmo dia, só pelo prazer de ver a equipa do coração a jogar ao vivo. Agora é "ganhar o que ainda for possível" e começar a "preparar a próxima época como deve ser".
Onde vai um sportinguista... vão todos!
O olhar fixo do leão do Largo do Choupo, em Parambos, parece mais ufano nestes dias de glória sportinguista. Talvez seja pelo cachecol verde e branco que ostenta sobre a juba cinzenta, como cinzenta é toda a "pelagem" e como o foram as quase duas décadas na nação leonina da aldeia.
Pois esta sensação de brilho acrescentado a uma figura já de si possante será, porventura, reflexo de outras cintilações nos olhos verdadeiros de quem é natural e ainda vive nesta aldeia de Carrazeda de Ansiães. "A mais sportinguista do país", orgulham-se, como se regozijam pela sua história, ou não tivessem a filial 87 do Sporting Clube de Portugal, que em outubro faz 84 anos.
A atual sede, inaugurada em maio de 1994, é um bar que mais parece um museu. Abundam memórias. Troféus e taças de quando sobrava gente para fazer equipas vencedoras na terra, fotografias de formações antigas e mais recentes, de visitas de líderes leoninos e demais eventos, cachecóis com nomes de outras terras assumidamente sportinguistas... enfim, um feudo do leão.
Mas tardes, cruzadas pelo som do relógio da igreja, não são propriamente momentos altos do dia para a adoração clubística. É terra de trabalho, sobretudo no campo. Na sede do clube, o Luís, o João e o Armando entretêm-se com uma mini e um copo de vinho para acompanhar uns amendoins.
"Gostei mesmo que o Ruben Amorim tivesse apostado naqueles miúdos para ganhar o campeonato. Agora, venha o Benfica para lhe ganharmos também", sorria Armando Carvalho. E para selar o feito, só falta arranjar o dia em que há de haver um grande repasto de comemoração. "Dou 250 euros para ajudar a comprar uma vitela", promete Luís Ribeiro. "Só é pena ainda não podermos dar abraços e beijinhos", atalha João Seixas.
Depois da festança do título, há que guardar forças para a de hoje à tarde. Começa, às 15 horas, com a caravana "Onde vai um, vão todos". Depois, hão de ver o dérbi junto à antiga escola primária.