O US Open, último Grand Slam da temporada, arranca, esta segunda-feira, sem Novak Djokovic e com aquele que poderá ser o último jogo de Serena Williams. A eterna campeã vai despedir-se dos courts precisamente no local onde, em 1999, conquistou o seu primeiro "major". No "court central", Daniil Medvedev, atual campeão e número 1 do mundo, abre a programação frente ao norte-americano Stefan Kozlov (111.º ATP). Novak Djokovic é a grande ausência.
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Há dias assim... em que as lembranças percorrem cada compartimento do cérebro. E esta segunda-feira será, sobretudo, um desses dias: Serena Williams está de partida. Não, a eterna campeã não está de malas feitas deste mundo - não se assustem os mais extremistas -, está, sim, preparada para encostar a raqueta. O adeus de uma estrela (para tantas e tantos a maior de todas) no mesmo local onde começou a brilhar. Incrível.
Aliás, com Serena só poderia ser assim. Nascida no gueto de Compton, Los Angeles, cresceu a alimentar o sonho do pai e, com o passar dos anos, transformou-o num sonho (também) pessoal. Serena Williams impôs uma revolução nunca antes vista no ténis feminino e, durante 20 anos de puro reinado, - poucas se atreveram a contestá-lo - devorou títulos e recordes. É certo que não chegou ao último que procurou (ainda o pode fazer neste US Open), o de igualar os 24 títulos de Grand Slam de Margaret Court - mas a forma como elevou a importância das mulheres (sim, é feminista assumida!) e reinventou a forma do desporto se relacionar com os negócios nunca mais será esquecida.
Dentro de court, as dúvidas eram esclarecidas a cada bola saída da raqueta. Com sete títulos na Austrália, outros sete em Wimbledon e seis no US Open, a mais nova das irmãs Williams conseguiu o que mais ninguém se atreveu a conseguir (incluindo no ténis masculino): foi a única a triunfar seis vezes em três grandes torneios diferentes. Ao todo (foi precisa ajuda obrigatória da calculadora) acumula 73 títulos em diferentes provas, às quais junta quatro medalhas de ouro olímpicas - três em pares ao lado da irmã Venus e outra individual, em Londres2012. E é também da eterna rainha o recorde de maior diferença de idade entre a primeira vitória num Grand Slam (1999 no US Open) e a última (2017 na Austrália).
Foi bom (e de que maneira!) enquanto durou, mas Serena Williams está mesmo de partida e, na madrugada de terça-feira, entra em court naquela que poderá ser a última dança. O duelo é frente à montenegrina Danka Kovinic, 80.ª do ranking. A despedida será em dose dupla, para gáudio dos fãs, com a dupla de manas Serena e Venus a defrontarem, em pares, as checas Lucie Hradeck (campeã de Grand Slam de pares) e Linda Noskova, de 17 anos, que cresceu a idolatrar Serena. No mínimo, promete.
Sem Djokovic, mas com Nadal e os novos craques do presente
Vencer um Grand Slam é, de todas as tarefas no ténis, possivelmente a mais difícil. Com jogos à melhor de cinco sets, o cansaço acaba por ser um fator a ter sempre em conta e, na hora da verdade, até os mais experientes costumam sentir as pernas a tremer. Por isso é que seja qual for a chave do sorteio, todos os caminhos até à final acabam por ser difíceis. Mas mesmo assim, este ano, é Nadal (na teoria) quem tem mais motivos para sorrir. Ainda que este US Open não conte com um tricampeão, o sérvio Novak Djokovic (venceu em 2011, 2015 e 2018), que não pode competir por não estar vacinado contra a covid-19, não faltam motivos para se assistir a verdadeiras disputas titânicas.
Quanto ao sorteio, Nadal começa diante do convidado Rinky Hijikata, de 21 anos, que ocupa o 198.º posto do ranking e. logo depois poderá ter pela frente Fabio Fognini ou Aslan Karatsev. Até aos quartos de final, poderá cruzar-se com nomes como Miomir Kecmanovic, Diego Schwartzman, Frances Tiafoe, Cameron Norrie, Andrey Rublev ou John Isner. Ou seja, na teoria será sempre favorito. Nas meias-finais o prodígio Carlos Alcaraz é o grande favorito a cruzar-se com o "Touro Miúra", sendo que antes terá de passar por nomes como Jannik Sinner ou Hubert Hurkacz.
Já Daniil Medvedev, que desta vez terá a dupla pressão de defender o título e a 1.ª posição do ranking, pode encontrar Nick Kyrgios nos oitavos e, caso o australiano mantenha o nível das últimas semanas, será um duelo para guardar nos livros das recordações.
Em femininos, para além da despedida de Serena há mais para ver. Iga Swiatek (n.º 1 WTA) parecia invencível até há pouco tempo, mas as últimas exibições mostraram que a polaca afinal é feita de carne e osso. Por isso, espera-se que tenha algum trabalho logo nos jogos iniciais, como Amanda Anisimova ou Jelena Ostapenko nos "oitavos" e Jessica Pegula ou Petra Kvitova nos "quartos".
Alex Corretja, ex-número 2 do mundo, ao JN: "Serena é especial e frente a um público especial pode fazer coisas que pessoas normais não fazem"
Acha que alguém pode igualar ou superar os feitos de Serena Williams? Ou será que as conquistas vão para além disso?
Não tenho a certeza se demos sempre o crédito merecido a Serena, seja dentro ou fora de court. Foi alguém que lutou em diferentes áreas, veio de um passado nada fácil, e batalhou imenso. Quando ela não estiver presente, algo que vai acontecer em breve, sentiremos a falta. Então espero que seja uma lição para que todos possam apreciar o que temos no presente. E dar mais valor. Espero que possa fazer um bom US Open e, uma vez mais, não se sabe o resultado final. Lembrem-se de Pete Sampras, há 20 anos, que estava prestes a reformar-se e ganhou o torneio. Serena não pode fazer o mesmo? Ela é especial, vai jogar diante de um público especial e não a podem subestimar. Pode fazer coisas que pessoas normais não fazem".
Devem os fãs de Iga Swiatek ficar preocupados com a sua forma recente?
"Não, os fãs têm de se sentir honrados. É tão difícil pedir mais à Iga. Lidou com tanta pressão durante a época de terra batida e acabou por ganhar Roland Garros, que era o maior de todos os objetivos. A partir daí, seria normal quebrar um pouco em termos de energia, mas também psicologicamente".
O que podemos esperar de Rafael Nadal no US Open?
"Com o Rafa temos de esperar sempre o melhor. Ele já mostrou que mesmo quando não estava no melhor momento que encontrava alguma forma de vencer. Em Nova Iorque será praticamente a mesma coisa. É uma pena que ele não tenha jogado talvez dois, três jogos em Cincinnati que lhe dariam um bom impulso para entrar no US Open. Mas não estou preocupado porque o conheço bem e ele mostra que com pouco, vai encontrar muito. Portanto, ele precisa dos dois ou três primeiros jogos para ficar em forma e ver quem joga. É importante porque talvez ele consiga um pouco mais de ritmo, dependendo do adversário. A partir daí, vai ser muito difícil vencê-lo num dos cinco melhores jogos de Nova Iorque. Ele adora as condições, adora sessões noturnas, gosta também da humidade, mesmo que sue muito. Mas não há muitos jogadores prontos para vencer o Rafa".
Acha que Nick Kyrgios é capaz de replicar a boa prestação de Wimbledon no US Open?
Sim, está preparado para voltar a sair-se bem. A experiência em Wimbledon foi muito boa para mostrar a si próprio que pode ganhar mais vezes. Acho que ninguém no sorteio quer enfrentar o Nick, especialmente porque o ambiente realmente combina com ele. Estamos em Nova Iorque. É tudo uma questão de espetáculo. E o Nick é o maior a fazer espetáculo entre todos os jogadores. Portanto, a multidão vai adorá-lo. Ele adora multidões e adora envolver-se. É tão difícil jogar contra alguém que parece estar distraído. Ele está na sua zona de conforto".