Varandas e João Pereira: “Foi o presente mais envenenado que se podia dar a um treinador”
O presidente do Sporting discursou nos Prémios Stromp e apresentou três razões para justificar a crise de resultados que se seguiu à saída de Ruben Amorim para o Manchester United: a falta de tempo para treinar, a onda de lesões e as “arbitragens infelizes”.
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Durante a cerimónia que decorreu num hotel em Lisboa, e que juntou mais de 250 sportinguistas, Frederico Varandas recordou a dificuldade que teve em tomar a decisão quando o United bateu a cláusula de rescisão de Ruben Amorim, mostrando alguma mágoa com a decisão do antigo técnico.
"Queria terminar com o bicampeonato. Preparámos o grupo para isso e assim arrancámos a época, como terminámos a anterior, com uma máquina afinada. Um grande clube europeu chegou e o nosso treinador aceitou. O Sporting não escolheu o timing do fim desse ciclo. A verdade é que em novembro o nosso treinador deixa o Sporting. O que aconteceu ao Sporting, nunca aconteceu em Portugal", lembrou.
“O plano A já tinha ido. O plano B era antecipar o que tínhamos pensado para a próxima época, mas sabíamos que as contingências eram diferentes e quão difícil era substituir o segundo treinador com mais jogos do Sporting, que esteve aqui quase cinco anos. Conquistou adeptos, títulos com mérito e ficará para a história como um dos melhores de sempre”, referiu.
“Tivemos de antecipar o plano. A segunda hipótese era trazer alguém de fora, mas tínhamos sete jogos em 26 dias e o treinador que chegasse não ia ter tempo para treinar. Sabíamos, sobretudo, o que é um grupo de atletas de alta competição, que ganharam tudo e de uma forma ímpar. Aquele grupo ia ter dificuldade em entender alguém que quisesse jogar de forma diferente. Por isso, a decisão racional era antecipar o plano que tínhamos previsto”, acrescentou Frederico Varandas, consciente da situação difícil em que ficou o atual técnico.
“João Pereira assume o comando, mas ele não tem tempo. Tem uma máquina afinada e teve de se adaptar à máquina afinada. Vou carregar este convite para o resto da minha vida, como o mais ingrato e o presente mais envenenado que se pode entregar a um treinador que está a começar. O Sporting não queria que fosse neste momento, o João Pereira também não queria, mas mesmo que se possa sacrificar jogador, treinador ou presidente, vou sempre fazer o que considero ser melhor para o Sporting”, garantiu.
"O Trincão estava morto e domingo não pode haver cansaço"
Recordando que os leões perderam, por lesão, Nuno Santos, Pedro Gonçalves, Morita, Daniel Bragança e Gonçalo Inácio – além dos problemas mais pontuais de St. Juste, Franco Israel e Eduardo Quaresma -, Varandas lembrou que o plantel não é muito extenso.
“Em média foram cinco a seis titulares de fora. O que temos a fazer? Olho para aquela mesa e vejo ali dois miúdos de 17 anos [Quenda e João Simões], que são hoje titulares do Sporting. Ontem estreou-se o Mauro Couto, já jogou o Arreiol. Imaginem tirar cinco titulares aos nossos rivais e pensem se as equipas não vão sofrer. Sofrem”, disse.
Considerando normais as derrotas sofridas na Liga dos Campeões, frente a Arsenal e Club Brugge, o presidente leonino encontrou outra razão para explicar os desaires frente a Santa Clara e Moreirense, para o campeonato.
“O Sporting não esteve brilhante, não jogou muito bem, é verdade, mas em jogos em que não merecia, sequer, empatar, acabou por perder. Como o Conselho de Arbitragem assumiu, foi com arbitragens infelizes. Tivemos, ponto. Não duvido do Conselho de Arbitragem, que pôs na jarra os árbitros que apitaram estes jogos, bem como um árbitro que teve uma arbitragem feliz para um rival. Não tenho dúvida que não há conspiração dos árbitros contra o Sporting, vão continuar a existir erros humanos, mas tenho a certeza que não vão ser sempre a beneficiar uns e prejudicar outros”, realçou.
Apesar da contestação que se tem gerado em torno de João Pereira, Frederico Varandas encontra razões para manter o otimismo, mesmo numa fase difícil para a equipa: "O que vamos fazer? Pôr a mão na cabeça e chorar? Não! Olhem para o exemplo dos nossos jogadores em campo, do nosso capitão, ele morre em campo, olhem para os exemplos do Viktor, Trincão e Morten: vão para o sexto ou sétimo jogo sempre com 90 minutos. O João Simões, que está aqui, o que se diria dele se fosse de outro clube? Um menino de 17 anos, que foi chamado à equipa A. Estive 12 anos à frente do departamento clínico e nunca tinha visto um jogador correr 16 quilómetros num jogo de futebol como ele fez contra o Santa Clara. E nunca vi um menino de 17 anos a jogar com a maturidade de um senhor, a sentir as bancadas nervosas e tristes. Não conseguem ver a frustração de um Pote, de um Nuno santos, de um Bragança por não conseguirem ajudar a equipa. O Trincão, ontem, estava morto e no domingo não pode haver cansaço. Eles vão lutar até ao fim pelo bicampeonato", garantiu.
"Não sei se vamos ser bicampeões, tricampeões, mas sei que o Sporting vai continuar a lutar por títulos e isso nunca mais volta para trás", finalizou.