Venceu leucemia e marcou no regresso aos relvados: “Foi o dia mais feliz da minha vida”
António Souza, do Freamunde, esteve 18 meses afastado por conta de roturas nos ligamentos cruzados e do menisco, assim como o diagnóstico de uma leucemia. No regresso, saltou do banco para dar o triunfo à equipa e deixou uma mensagem. “Quero mostrar aos jovens que não há obstáculos que não possamos enfrentar”, disse.
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No passado sábado, o Freamunde bateu o Penamaior pela margem mínima (1-0) em jogo a contar para a Série 2 da Divisão de Honra da AF Porto. O tento solitário partiu da cabeça de Souza, que, após saltar do banco, precisou apenas de sete minutos para levar o Complexo Desportivo de Freamunde à loucura. No entanto, a festa com os colegas de equipa e com os adeptos ultrapassou a mera celebração de um triunfo e dos respetivos três pontos. A festa, desta vez, foi pela vitória na luta da vida.
A 29 de outubro de 2023, António Souza rompeu o ligamento cruzado do joelho e o menisco direito. Uma lesão complicada, que costuma ser de infortúnio no mundo do futebol, embora, neste caso em específico, tenha servido de alerta que permitiu salvar a vida do avançado brasileiro.
“Eu não aceitava. Perguntava a Deus o porquê daquela lesão. Eu estava a fazer a pergunta errada. Não era o porquê, era antes para quê. E pronto, deu-me a resposta. Com a cirurgia, a 5 de dezembro, fiquei vulnerável, os sintomas da doença começaram a surgir. Uma coisa salvou a outra. Comecei a cuspir sangue pela boca, pelo nariz, tinha febre, acordava com a roupa transpirada. Estive sempre sozinho em casa, não falava disso com ninguém”, começou por contar ao JN.
“Quando eu fazia fisioterapia, durante o tratamento, eu mordia a toalha, porque tem uma parte em que temos de dobrar o joelho, e isso dói muito. Então eu colocava uma toalha na boca para não fazer barulho. E ela ficava cheia de sangue”, detalhou.
80 sessões de quimioterapia
Após esta primeira fase, acabou por contar os sintomas que tinha ao patrão e ao filho. Estes ofereceram ajuda, chegou a ir a uma clínica privada, realizou exames aos pulmões e foi medicado. Os sintomas foram diminuindo, mas não por completo. Foi quando fez análises, aconselhado a procurar ajuda porque as plaquetas estavam muito baixas, que chegou ao fatídico diagnóstico de leucemia, a 23 de janeiro: “Acho que foi o momento mais difícil da minha vida…”, garantiu com a voz embargada.
Souza, de 33 anos, enfrentou 80 sessões de quimioterapia. Houve dias em que tomava 10 comprimidos e a quimioterapia acabou a 27 de setembro. O calendário está marcado a ferro na memória.
No regresso aos treinos, em novembro de 2024, voltou a enfrentar novos contratempos. Uma rotura e uma microrotura que atrasaram o tão sonhado regresso aos relvados. Até chegar ao passado sábado, após 18 longos meses, em que, por ironia do destino, vestiu a capa de herói: “foi o dia mais feliz da minha vida”.
“Quando eu acordo, nos dias de jogo, eu sempre penso: ‘hoje vou marcar’. E tive felizmente a dádiva de poder sentir aquela energia, jogar no campo e fazer o golo”, afirmou, deixando uma mensagem de força para quem atravessa momentos delicados.
“Acredito plenamente que Deus existe e eu quero mostrar aos mais jovens que não há obstáculos que não possamos ultrapassar. Tudo é possível. Não é fácil, é uma luta diária, mas temos que ser mais fortes do que isso”, recomendou, fazendo, por fim, uma perspetiva do que deseja para o futuro.
“Viver um dia de cada vez e ser feliz a fazer aquilo que amo. A minha vontade era voltar ao campo uma última vez. Eu consegui, nós conseguimos. A minha família, amigos, staff e equipas médicas”, finalizou.