O candidato à presidência do F. C. Porto visitou, esta terça-feira à noite, a casa Dragões de Cantanhede onde, perante uma sala cheia, voltou a elogiar o legado de Pinto da Costa, mas criticou aquilo em que o clube se transformou nos últimos anos. “Ganhámos os troféus mais importantes do Mundo, mas parámos no tempo”.
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André Villas-Boas apresentou o projeto para o quadriénio 2024-28, garantindo que quer transformar o clube a “nível desportivo, financeiro e social”, voltando a destacar a fase sensível que o F. C. Porto atravessa.
“O projeto desportivo é o coração do clube, que faz ter uma sustentabilidade financeira que, agora, está cada vez mais ameaçada. Perdemos capacidade competitiva e arrastámos o F. C. Porto para uma situação limite a nível financeiro”, destacou, antes de criticar a alegada “pausa social” que se instalou nos azuis e brancos.
“Antes, a voz do sócio não era ouvida, as perguntas não eram respondidas. Falta o ambiente e o sentimento das Antas. Eram grandes valores morais e de ética que o F. C. Porto tinha e do qual se foi afastando, tornando-se numa marca de comércio. Somos clube de associados e não de um proprietário: Dá a sensação que o nosso clube tem um dono!”, criticou.
“Nos últimos anos ganhámos os troféus mais importantes do Mundo, mas parámos no tempo, o clube está refém dos credores e estamos numa situação limite”, acrescentou, não deixando, porém, de voltar a elogiar o legado construído por Pinto da Costa nos últimos 42 anos.
“Vamos estar eternamente gratos e o mais fácil para mim seria não substituir o presidente mais titulado do Mundo e este é um desafio enorme. Ganhámos três campeonatos nos últimos 10 anos e temos a obrigação de sermos competitivos já para o ano”, afirmou.
No mesmo dia em que a lista liderada por Pinto da Costa anunciou a aposta no surf e no futebol feminino, André Villas-Boas também se referiu ao tema: “Queremos continuar a apoiar as modalidades existentes, mas há défice de modalidades femininas. Temos de arrancar com o futebol feminino, o projeto futsal e isso é uma exigência dos sócios. Há muita gente a pedir o regresso do atletismo e do voleibol masculino, mas tendo em conta situação financeira não podemos chegar a todo o lado”, admitiu.
"Atos de gestão bárbaros"
Já durante a fase de perguntas e respostas com os associados da Casa Dragões de Cantanhede, Villas-Boas foi questionado sobre o alegado privilégio que alguns empresários de futebol gozam com a atual direção.
“A formação é a nossa prioridade e tem de ser a nossa grande sustentabilidade. Não se pode ter medo de chamar precocemente os jogadores à equipa principal. Claro que o treinador é soberano, mas a filosofia desportiva tem de se sobrepor a essas decisões. Queremos um F. C. Porto formador”, referiu, antes de garantir que terá mão pesada para quem tiver prejudicado o clube.
“O F. C. Porto não se livra de trabalhar com qualquer agente, o que se livra é das barbaridades que têm sido pagas em comissões, sobretudo a uma pessoa. Serei intransigente com quem prejudicou o clube. Vimos atos de gestão bárbaros, que privilegiam determinados agentes, com mandatos exclusivos de venda”, exemplificou.
Recordando que sempre defendeu que o Estádio do Dragão se devia chamar Jorge Nuno Pinto da Costa, o candidato prometeu honrar o legado do atual presidente, mas voltando a criticar as decisões mais recentes tomadas pela direção da SAD.
“O F. C. Porto já está a ser vendido e muitas dessas decisões deveriam ter sido colocadas aos sócios em assembleia geral. Esta direção já vendeu 30% da Porto Comercial para garantir a injeção de capital e isto é preocupante”, recordou, antes de revelar que enviou uma carta a pedir esclarecimentos a Pinto da Costa.
“Tem oito dias para responder. Caso não o faça faremos outro caminho, mais institucional, falando com acionistas e também com a CMVM para esclarecer esta situação”, garantiu.
Confrontado com o ser considerado traidor por parte dos adeptos portistas, André Villas-Boas até aproveitou para deixar uma bicada ao programa da candidatura liderada por Pinto da Costa.
“Se assim fosse eu não era recebido por esta massa humana. Toda a gente tem lucidez e mente aberta para perceber como as coisas são. O sócio escolhe projeto, ideias e o candidato. Agora, não há dúvida que para a outra candidatura somos todos traidores, mas a verdade é que o outro programa parece que se dedica a copiar o nosso e as nossas ideias”, disse.