A norte-americana Beatrice de Lavalette foi uma das centenas de vítimas de um atentado terrorista no aeroporto belga de Zaventem, em 2016. Após anos em recuperação, manteve a esperança de regressar à vida normal e agora vai competir nos Jogos Paralímpicos.
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Em 2016, o aeroporto belga de Zaventem foi alvo de um ataque terrorista, onde 300 pessoas ficaram feridas e mais de 30 morreram devido a um bombista suicida. Beatrice estava ao lado do homem e nem se apercebeu do que se tinha passado, apenas que estava viva.
"Estava ao telemóvel com o meu irmão e a ouvir música, nem estava a prestar atenção ao que estava à minha volta. Aquilo que me lembro a seguir é de tudo ficar escuro. Depois de ter ficado inconsciente do primeiro impacto da bomba, lembro-me de olhar à minha volta e saber exatamente o que se tinha passado. Só pensava 'não acredito que isto aconteceu'", referiu, em declarações à CNN.
Os bombeiros tiveram de utilizar um extintor para apagar as chamas que envolviam o seu corpo. Devido a este atentado, Beatrice ficou com queimaduras de terceiro grau, uma lesão na coluna e teve de amputar as duas pernas. Esteve em coma durante algum tempo e, depois de acordar, referiu que chorava todos os dias, com dúvidas de como iria ser a sua vida dali para a frente.
"Felizmente tinha a minha família para me apoiar. Saber que não perdi a vida e que poderia continuar a vivê-la de forma positiva ajudou-me imenso quando estava no hospital", acrescentou.
Desde jovem que Beatrice sempre teve um apreço especial por praticar equitação. Quando estava no hospital, em recuperação, foi visitada pelo embaixador americano na Bélgica, que lhe apresentou a ideia de competir nos Jogos Paralímpicos. "Não pensei muito nisso", revelou, no entanto, com o passar do tempo a paixão pela equitação falou mais alto e a jovem norte-americana voltou a subir a um cavalo. O processo de voltar a praticar desporto foi complicado.
"Não tinha músculo, era só pele e osso. Então andar a cavalo sem equilíbrio foi desconfortável. Mas com o tempo consegui ganhar massa muscular e trabalhar no meu equilíbrio e ficou mais fácil. O meu corpo é muito diferente daquilo que era antes do acidente, então tive de reajustar tudo o que aprendi ao longo da vida", explicou.
Beatrice competiu em equitação paralímpica em abril de 2017, pouco mais de um ano depois do incidente no aeroporto. Representou a equipa dos Estados Unidos em janeiro de 2020 onde contribuiu para a vitória da equipa. Agora, juntamente com o seu cavalo Clarc, vai participar nos Paralímpicos de Tóquio.
"Foi surreal, eu sabia que podia ser chamada porque trabalhei imenso e consegui os resultados para fazer parte da equipa, mas quando soube que era oficial foi um momento incrível", referiu Beatrice. A jovem ambiciona um lugar no pódio, explicando que foi esse desejo que fez superar os desafios da recuperação. Apesar de ter sido algo muito grave, retira coisas positivas do incidente em que foi vítima.
"Não seria a pessoa que sou hoje sem aquele evento. Assisti a ele com os meus pais e ver que estava tão perto dele fez-me perceber o quão sortuda sou. Foi um mal que veio por bem, assim como um pesadelo", concluiu.