Vítor Bruno e o mercado: “Vivemos numa sociedade em que qualquer palavra pode ferir”
O treinador do F. C. Porto fez o lançamento do duelo deste sábado com o Rio Ave, da terceira jornada da Liga, e fez uma reflexão sobre as consequências mentais que o mercado de transferências tem nos atletas.
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Os dragões recebem a equipa vila-condense, que perdeu no terreno do Sporting no arranque do campeonato, mas Vítor Bruno viu muita qualidade na equipa de Luís Freire.
“Pela amostra de Alvalade e apesar resultado não o demonstrar [derrota por 3-1], espero um Rio Ave muito capaz, é uma equipa com requinte quando tem a bola. O treinador inicia a quarta época consecutiva, tem um conhecimento profundo da liga portuguesa e tudo isso são pontos que jogam a seu favor. Tem-nos criado dificuldades no passado recente, como se viu no ano passado. Espero um jogo difícil, temos de estar totalmente conectados com os nossos princípios e vinculados a 1000% com o nosso espírito. Com os adeptos teremos ainda mais força. Teremos de estar ao mais alto nível”, garantiu o técnico, antes de refletir sobre as notícias sobre entradas e saídas de jogadores.
“É sempre uma altura especialmente difícil. Em relação a isto, e à situação mental dos jogadores, hoje em dia vivemos numa sociedade de gente, sobretudo jovem, com muita instabilidade emocional, em que qualquer gesto ou palavra pode ferir. Temos de perceber como atuar para que isso não afete os jogadores. O que não é controlável, não depende de mim”, defendeu.
Recusando-se a confirmar a contratação de Deniz Gul apesar de o sueco já ter aterrado na Invicta – “Percebo a pergunta. Não levem a mal, enquanto não for confirmado vou abster-me de fazer comentários” –, Vítor Bruno destacou que quer ter um plantel com 23/24 jogadores quando fechar o mercado, além dos guarda-redes.
Adiantando que David Carmo não está convocado para o duelo com o Rio Ave – o central negocia o regresso ao Olympiacos -, o treinador dos azuis e brancos falou da escassez de avançados, salientou que está satisfeito com os que tem, mas: “Olhamos demasiado para as métricas, golos e assistências, mas eu tento ter um olhar mais abrangente. Invisto muitas horas a analisar isso e tenho jogadores que garantem tudo o que preciso, mas todos os treinadores querem grandes jogadores. Se tiver de ser, faremos o investimento que tivermos de fazer”.
Galeno tem sido utilizado a lateral esquerdo e Vítor Bruno voltou a destacar o empenho do internacional brasileiro na posição, revelando até qual foi a moeda de troca: “Para o poder ter do lado de cá, tem-lhe sido dado a pasta dos penáltis, para ter golos e números durante a época. O Galeno é um grandíssimo profissional e tudo o que eu lhe pedir ele vai dar”.
Quem fica numa situação mais complicada é Wendell, que ainda não se estreou em 2024/25: “é natural que esteja chateado comigo, sou o primeiro a reconhecer. Quem está no lugar dele [Galeno] tem feito um trabalho exemplar e dá uma segurança monstruosa à linha defensiva. O Wendell não veio [da seleção] nas condições ideias e utilizá-lo logo não seria bom para ele. Está convocado para amanhã, até poderá aparecer no lineup inicial”, adiantou, antes de abordar a situação do jovem Rodrigo Mora.
“Qualquer jogador será sempre produto inacabado até acabar a carreira, incluindo o Cristiano Ronaldo. Obviamente que a idade do Mora dá espaço e longevidade para ter uma carreira brilhante, mas vai ter de ganhar o seu espaço. Ainda hoje lhe disse no treino: ‘se pudesse levava-te para minha casa’. É muito elegante, percebe o que tem de fazer e, isso cruzado com o seu talento, poderá fazer dele um grande jogador. Tem de perceber o momento em que pode entrar, fazer o seu percurso na equipa B e ter uma oportunidade”.