Vítor Gomes, de 37 anos, despediu-se esta época dos relvados com o coração cheio e a cabeça serena. Após 20 anos de carreira, o médio do Rio Ave, o seu clube de sempre, diz que o adeus ainda sabe a férias, pois a verdadeira nostalgia só chegará quando a nova temporada começar.
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Termina como sonhou: sem lesões, a jogar, no emblema do coração. Entre conquistas, desilusões e memórias de balneário e de adversários, explicou, ao JN, que está pronto para novos desafios, talvez no dirigismo, onde quer devolver ao futebol o que recebeu.
Já interiorizou que colocou um ponto final na carreira?
Já percebi que acabou, mas acredito que só quando começar a próxima época, aí sim, vou sentir a nostalgia. Agora, até parece normal, parece um período de férias. Quando deixar de vir treinar todos os dias, o coração vai apertar.
Tem estratégias mentais para lidar com isso?
Quanto mais ocupado estiver, melhor. Ainda não criei algo específico, porque a época acabou agora. Há uma rotina que se mantém, acordo todos os dias às 7.30 horas para levar as minhas filhas à escola e isso continuará. A seguir, terei de arranjar outras ocupações. Para já, vai ser desfrutar das férias, dos amigos e da família, a quem devo muito tempo.
Não dava para continuar? O corpo pediu para parar?
Não foi o corpo. Senti que era o momento certo. Não queria acabar a arrastar-me, queria terminar a jogar, a divertir-me, sem lesões. E foi isso que consegui. Acabei a desfrutar do jogo, do carinho das pessoas, e no Rio Ave, como sonhei.
Consegue fazer um top-3 dos momentos mais marcantes da carreira?
O mais marcante, por ser no Rio Ave, foi quando fomos campeões da Liga 2. Depois, pela importância, a conquista da Taça de Portugal, pelo Aves, e também o título conquistado no Chipre, pelo Omonia. Há ainda momentos individuais, como ouvir o hino nacional pelas seleções jovens ou o hino da Liga dos Campeões.
Consegue fazer um top-3 dos momentos mais marcantes da carreira?
O mais marcante, por ser no Rio Ave, foi quando fomos campeões da Liga 2. Depois, pela importância, a conquista da Taça de Portugal, pelo Aves, e também o título conquistado no Chipre, pelo Omonia. Há ainda momentos individuais, como ouvir o hino nacional pelas seleções jovens ou o hino da Liga dos Campeões.
Ficou algum objetivo por conseguir?
Qualquer jogador sonha com a seleção A e eu apenas cheguei à de sub-23, o que já é difícil e motivo de orgulho. Também gostava de ter jogado num dos grandes em Portugal, mas não tive essa oportunidade. Ainda assim, estou muito satisfeito e orgulhoso com a carreira que tive.
Houve algum momento que gostasse de apagar?
Sim. Logo no início, quando desci de divisão com o Rio Ave. Foi um marco negativo. Depois, experiências menos boas, como na Turquia, que não correu como esperava, e no Chipre, com a pandemia, onde estive nove meses sem ver a minha mulher e filha. Foi duríssimo. Prometi que nunca mais iria para longe.
Quais foram os jogadores mais marcantes com quem partilhou o balneário?
Fábio Coentrão, sem dúvida, o melhor com quem joguei, um talento extraordinário. O João Palhinha também, excelente jogador e pessoa. E o Jordi Gómez, um catalão com quem joguei no Chipre. Grande jogador e excelente pessoa. Foram muitos mais, posso ser injusto.
E os mais difíceis de enfrentar em campo?
Hulk, pela força e potência. E depois jogadores como James Rodríguez, Falcao, Lucho González ou Di María muito difíceis de travar. Lembro-me também Wesley Sneijder, quando joguei contra ele no Galatasaray.
A quem passou a tarefa de liderar o balneário do Rio Ave?
Acho que o Petrasso pode ser esse líder. Também temos o João Novais, o João Graça, ou o Brandon Aguilera, depende se continuam. Temos alguns jogadores com esse perfil no balneário.
Este Rio Ave agora liderado por uma SAD é diferente, como viu essa mudança?
É um caminho inevitável. Os clubes estão a tornar-se empresas. Temos jovens com qualidade, e o clube está a valorizá-los. É o que muitos clubes estão a fazer: formar e vender.
Isso não desvirtua a alma e mística do clube?
Claro que as pessoas preferem jogadores da casa, com ligação ao clube. Mas o futebol mudou, e temos de nos adaptar. Se a equipa continuar a ganhar e manter-se na Liga fica mais fácil.
Esse é discurso de treinador ou dirigente, no futuro?
Treinador não quero ser. Gostava de enveredar pelo dirigismo. Ainda não tenho nada concreto, mas há possibilidade de continuar na estrutura do Rio Ave. Vamos ver com que papel. Gostava de ter uma função mais ligada com a equipa.