
Vítor Pereira comemorou a permanência num bar com os adeptos do Wolverhampton
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Em quatro meses, o treinador português conquistou o Wolverhampton: “Surreal e especial”, dizem os adeptos ouvidos pelo JN.
A cena repetiu-se e, por volta das 22 horas, um bar em Wetherspoons, na zona mais movimentada de Wolverhampton, viu entrar o novo herói da cidade. Neste caso, o bar em questão foi um chamado “The Moon Under Water” e o mote foi a vitória sobre o Manchester United (0-1) que sentenciou, matematicamente, a permanência dos “lobos” na Premier League. “Imediatamente, as pessoas começaram a gritar o seu nome e a correr em direção à entrada. Bombardearam-no com selfies e fotografias, mas ele parecia feliz em estar ali connosco, em celebrar connosco e em dar o seu tempo aos adeptos”. Matt Vaughan foi um dos felizardos e ao JN dá mais um testemunho da devoção que rodeia o treinador do clube, só quatro meses após ter sido contratado.
Vítor Pereira é o homem do momento em Wolverhampton, tornado em pouco tempo uma espécie de figura de culto. “Um homem do povo”, que os crentes dizem encarnar o espírito desta relativamente pequena cidade inglesa das West Midlands. “Wolverhampton é uma cidade dura, construída com trabalho e resiliência, e ele tem essa humildade que transparece instantaneamente”, aponta Little Dan, administrador do grupo Wolves Fancast. Quase parece que foram feitos um para o outro e o sentimento aparenta ser recíproco. Desde que chegou, em dezembro passado, Vítor Pereira tornou-se presença habitual nas ruas mais ou menos movimentadas de Wolverhampton, frequenta restaurantes, vai a bares, convive com os locais, passa-se por um deles.
“Ele abraçou a cidade e o clube como um todo e tratando-se de uma cidade muito pequena, com adeptos muito apaixonados, este comportamento foi muito bem recebido”, diz Liam Keen, que acompanha os “lobos” para o jornal “Express and Star”. A este propósito, e ainda em relação à noite de domingo, Matt Vaughan recorda como, depois de todo o alvoroço, Vítor Pereira teve espaço para ser um simples cliente. “O segurança do bar pediu para o deixarmos desfrutar da bebida e lá estava ele num bar a beber uma ‘pint’ (cerveja) como uma pessoa normal. No futebol atual, ter um treinador assim é refrescante”. Dave Azzorpardi assina por baixo. “Ele tem uma certa aura e é uma verdadeira lufada de ar fresco ter alguém assim no comando do clube. É muito importante para o Vítor, para os adeptos e até para a cidade”, sublinha o adepto em conversa com o JN, dando conta de uma mudança recente, mas substancial, na zona de Wetherspoons. “Agora, toda a gente vai aos pubs depois dos jogos na esperança de ver o Vítor! É surreal e especial. Não me lembro de um treinador passar tempo com os adeptos assim”.
O treinador português circula nas ruas de Wolverhampton, anda nas bocas dos locais, nos cânticos dos adeptos e nas tarjas que se exibem, orgulhosamente, no Estádio Molineux, e também na loja do clube, que brevemente será abastecida com merchandising alusivo ao treinador que “abraçou” Wolverhampton. T-shirts com a célebre frase “First the points, then the pints (primeiro os pontos, depois as cervejas)” estão disponíveis para reserva no site dos “lobos” e prometem ser um sucesso de vendas. Como tudo, afinal, desde a chegada de Vítor Pereira.
Claro que a comunhão em torno de Vítor Pereira seria impossível sem os bons resultados que o português acumulou desde que assumiu o comando da equipa, pouco antes do Natal. Nessa altura, os “lobos” haviam vencido apenas duas das 16 jornadas disputadas no campeonato, estavam cinco pontos abaixo da linha de água e no penúltimo lugar. Para além disso, os dois jogos que antecederam a mudança de treinador ficaram marcados por episódios de confrontos a envolver jogadores do clube com adversários e até com membros da própria equipa técnica. “A situação era desesperante”, resume Liam Keen, jornalista do “Express and Star”. Tão desesperante que parecia ter apenas um fim possível e nessa armadilha de ficar ligado a uma despromoção não caíram Graham Potter e David Moyes. Foi só porque eles e outros rejeitaram convites para suceder a Gary O’Neill que Vítor Pereira pôde concretizar o sonho constantemente adiado de treinar em Inglaterra. A contratação, porém, não entusiasmou os adeptos do Wolverhampton. “Nunca treinou cá, não tinha grande reputação aqui…”, diz o adepto Dave Azzorpardi, servindo uma justificação às reservas.
Quatro meses depois, os Wolves transmitem confiança e otimismo. Têm a permanência assegurada, batem recordes e ganham a adversários mais fortes. “Herdou uma equipa que caminhava para a despromoção, que não defendia bem e tinha problemas disciplinares. Agora, é uma máquina bem oleada”, vinca Liam Keen, do Express and Star. “Ninguém acreditava que eles conseguiriam a sobrevivência com cinco jogos para terminar a temporada. Foi uma surpresa”, subscreve Steve Madeley, correspondente do Wolverhampton no “The Athletic”. Pela primeira vez desde 1971, o Wolverhampton venceu cinco jogos consecutivos na liga inglesa; também voltou a ganhar os dois jogos contra o Manchester United, em casa e fora, cerca de 50 anos depois. Desde que Vítor Pereira assumiu o cargo, apenas seis equipas conquistaram mais pontos do que os “lobos” (Liverpool, Arsenal, Newcastle, Aston Villa, Manchester City e Nottingham Forest). Razões de sobra que justificam os rumores de uma renovação para breve, apesar de o contrato ir até junho de 2016.
Cinco razões para o sucesso
Introdução de estágios
Mal chegou, Vítor Pereira cancelou a folga no dia de Natal e uma das suas primeiras medidas foi obrigar os jogadores a estagiar antes dos jogos em casa, o que não acontecia.
Libertação mental
Os últimos tempos de Gary O’Neill foram conturbados e a relação com os jogadores acabou bastante deteriorada. O novo treinador restituiu a confiança ao plantel.
Simplicidade
Ciente da situação que encontrou, o português optou por mensagens, instruções e ideias simples e claras no início. Até os planos de jogo são os mais simples possíveis.
Reuniões individuais
No centro de treinos da equipa, passaram a ser frequentes reuniões individuais com os jogadores para corrigir pequenos erros e incutir a mentalidade pretendida.
Equipa sem distrações
Lamina acabou por sair e Michael Dawson foi afastado do plantel. Ambos eram capitães, mas isso não demoveu Vítor Pereira em livrar-se de duas possíveis “distrações”.
