Saiu da Guiné-Bissau quando tinha seis anos e fez do futsal um modo de vida. Foi o melhor jogador do Campeonato da Europa vencido por Portugal. Aos 20 anos, já ganhou tudo o que podia ter imaginado.
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Há promessas que nunca chegam a afirmar-se. E há certezas que nunca chegaram a ser promessas. Zicky nem teve tempo para ser uma promessa. Aos 20 anos, já é uma certeza. Mas para ser o melhor jogador do Europeu de futsal conquistado pela seleção portuguesa teve de subir a pulso, superar várias dificuldades. Basta olhar para trás: nasceu na Guiné-Bissau a 1 de setembro de 2001, mas aos seis anos rumou a Portugal para crescer em Santo António dos Cavaleiros, em Loures.
Foi aí que Izaquiel Té, conhecido pela alcunha que a prima lhe deu, Zicky, começou a dar os primeiros pontapés na bola no rinque do Olival de Basto. Daí, saltou para o Grupo Recreativo Olival Basto (GROB), onde esteve apenas alguns meses, antes de rumar ao Póvoa Santo Adrião Atlético Clube (PSAAC), onde ficou dois anos. "Aos 10 anos já tinha muita técnica. Era muito difícil tirar-lhe a bola. Marcava muitos golos, chamava a atenção", conta, ao JN, Sandra Silva, treinadora que recebeu o nosso jornal nas bancadas do PSAAC. Mas não foi só o talento que o levou ao estrelato, porque mantém as mesmas características de quando era adolescente. "É um miúdo muito humilde, muito educado e trabalhador", assegura cheia de orgulho: "O prémio que falta, o de Melhor Jogador do Mundo, está para breve".
Do PSAAC para o Sporting foi um pequeno salto em 2013. A transição podia ter sido turbulenta, mas acabou por ser facilitada pela personalidade do jovem pivô. "O grupo integrou-o bem, ele também era dado. Depois começou a ser o palhacinho", recordou Ricardo Pinto, antigo colega na formação dos leões, que garante que a qualidade não é só de agora. "Tinha um pé esquerdo incrível. A bola parecia que tinha cola", disse, explicando o estilo "trapalhão" que alguns lhe apontam. "Houve um ano em que cresceu muito e demorou um bocadinho a adaptar-se à altura que tinha", conta. "Depois era a brincadeira. Ele inventava porque lhe dizíamos que tinha de fazer uma cueca, e ele tentava duas. Hoje já não temos razão nenhuma para gozar com isso".
Dentro do clube também ninguém duvidava que o topo seria o destino do pivô, mas ninguém imaginava uma ascensão tão meteórica, ao ponto de se estrear pela equipa principal aos 17 anos e agora ser uma das estrelas da seleção. "Todos achávamos que sem lesões ia lá chegar. É muito humilde, muito focado. Qualidade tem, se trabalhasse ia lá chegar... Mas tão rápido era impossível alguém imaginar, nem ele". Agora, aos 20 anos, já ganhou tudo o que podia ter ganho pelo Sporting e pela seleção. Mas o caminho ainda está no início.