
Samuel Cunha recebeu cartão branco pelo auxílio prestado a José Gabriel
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Árbitro não tem curso de primeiros socorros, mas teve ação decisiva para reanimar um jogador. Cartão branco recebido tem "sabor especial" no "complicado meio da arbitragem".
"Ontem, fui eu quem acertou na melhor decisão do jogo". E que decisão. Mesmo sem um curso de primeiros socorros, Samuel Cunha, árbitro de 32 anos, foi lesto a socorrer José Gabriel, jovem jogador do Pedras Rubras, de 18 anos, que caiu inanimado após um choque violento com um adversário. Colocou-o em posição de segurança, desimpediu-lhe as vias respiratórias e virou herói. O momento fez de si "um homem mais feliz por ter conseguido resolver a situação", garante, ao JN.
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Pacato, de tom cortês, Samuel Cunha não se nega a partilhar a história de uma vida, ou melhor de duas, a sua e a do atleta José Gabriel. Por muitos que sejam os telefonemas e as mensagens, há sempre uma resposta sincera, que atira de forma desprendida.
O jogo colocava frente a frente Pedras Rubras e Oliveira do Douro, da Divisão da Elite da Associação de Futebol do Porto. Rapidamente, "porque foi tudo muito rápido", o árbitro conta que, após um choque "violento", percebeu, "pela forma como o jogador caiu, desamparado, que a situação era grave". A corrida na direção de José Gabriel foi puro instinto, tal como a decisão de "abrir-lhe a boca e puxar-lhe a língua", de forma a desobstruir as vias respiratórias.
"Foi instinto", repete, até porque nem formação em primeiros socorros possui. "Não sei se foi o procedimento mais correto, mas correu bem. A equipa médica encarregou-se do resto", completa.
O gesto valeu-lhe o título de herói pelos colegas de trabalho no Mercado Abastecedor do Porto e uma enxurrada de mensagens e de telefonemas, o mais especial dos quais vindo de José Manuel Neves, presidente da Associação de Futebol do Porto, "uma pessoa tão importante e presidente da maior associação do país".
O cartão branco que recebeu no final do jogo "tem um sabor especial" num "complicado meio como é o da arbitragem", admite. "Muitas vezes, as pessoas não compreendem que também somos homens e que temos família. Vamos a ver ser elas, de uma vez por todas, respeitam mais a arbitragem", roga.
Samuel Cunha apenas lamenta ainda não ter conseguido conversar com José Gabriel, o homem que ajudou a salvar, para saber como está. "No final do jogo, o delegado disse-me que ele ia ficar sob observação durante 24 horas mas que, à partida, não seria nada de grave. Já tentei descobrir o número, gostava de saber o estado dele". Alguém disponível para retribuir uma boa ação?
