Antigo lateral portista Giorkas Seitaridis elogia Conceição e Pinto da Costa. Mantém a amizade com vários ex-colegas do F. C. Porto, casos de Costinha, McCarthy e Nuno Espírito Santo, e não esquece a simpatia das pessoas da cidade nem o fervor dos adeptos do clube.
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Campeão do Mundo pelo F. C. Porto em 2004/05, o grego Giorkas Seitaridis não esquece a antiga equipa e acalenta o sonho de voltar, um dia, ao clube que lhe permitiu viver alguns dos dias mais felizes da carreira. Hoje, com 37 anos, reside em Atenas, a capital da Grécia, onde é o proprietário de um restaurante que gere com o apoio da irmã. Foi neste espaço, situado a poucas centenas de metros da famosa Acrópole, que o antigo lateral direito, campeão europeu pela seleção grega em 2004, recebeu o JN e se deliciou com as memórias sobre o F. C. Porto. E não só.
Treze anos depois de representar o F. C. Porto como se encontra hoje o Seitaridis?
Bem [risos]. A nível pessoal estou feliz e continuo a assistir aos jogos da minha antiga equipa, o F. C. Porto, pela televisão, nomeadamente os jogos da Champions.
O que acha da atual equipa portista?
É forte, à semelhança da última época em que foi campeã. Neste momento, está novamente bem posicionada no campeonato, nunca deixa de lutar pelo título. A filosofia do clube é essa.
Conceição sabe o que representa vestir aquela camisola e transmite garra ao plantel
Sérgio Conceição é o chamado treinador à Porto?
Sim! Foi jogador na equipa e agora é treinador, sabe o que representa vestir aquela camisola e transmite garra ao plantel. É uma grande vantagem. Não cheguei a jogar com ele, mas conheço bem a sua personalidade.
Qual o seu jogador preferido?
Brahimi. Faz tudo bem, dribla, cruza, é muito bom com a bola.
O F. C. Porto venceu a Champions meses antes de chegar ao clube. Acha que pode voltar a ganhar a prova em breve?
Creio que sim, mas é mais dificil. Sem querer desrespeitar ninguém, aquela equipa tinha mais qualidade. Jogadores como McCarthy e Jorge Costa faziam a diferença e o treinador era José Mourinho. Mas há exemplos que mostram também que com trabalho quase tudo se consegue. O Atlético de Madrid, de Diego Simeone, não é perfeito mas tem uma excelente defesa o que lhe permite lutar todas as épocas pela Liga dos Campeões.
Quais são as suas melhores memórias de Portugal?
Guardo muito boas memórias e felizmente só tenho uma má. Queria muito ter sido campeão pelo F. C. Porto, mas não consegui! Na época em que joguei em Portugal, fiquei um pouco triste por termos perdido tantos pontos no Estádio do Dragão, algo muito raro. Quanto às boas memórias, são várias. Ganhei a Taça Intercontinental, a Supertaça frente ao Benfica, e disputei a Supertaça europeia que, por azar, perdemos para o Valência. Mas a vida não é só futebol...
Fala da cidade?
Sim. Das pessoas e dos adeptos guardo excelentes memórias. Amam a equipa e querem sempre ajudar. Apesar de já ter saído de Portugal há alguns anos, mantenho contacto com muitos amigos, como o Costinha, McCarthy, Maniche e Nuno Espírito Santo. A equipa do F. C. Porto é uma família e as amizades perduram. No meu tempo, e espero que continue assim no presente, o clube era a nossa segunda casa.
Recorda-se do seu melhor jogo?
Hmmm... Acho que não. Gostei dos clássicos, com o Benfica e com o Sporting, sempre especiais, e da Supertaça, o meu primeiro jogo pelo F. C. Porto. Lembro-me de um mau momento: suspenderam-me dois jogos por supostamente ter agredido um jogador (Fellahi) num encontro com o Estoril, mas foi tudo acidental, nada propositado. Foi uma má decisão.
José Mourinho escolheu-o mas já não o encontrou no clube.
Infelizmente, foi verdade. Eu era a sua primeira opção depois do Paulo Ferreira sair para o Chelsea, o clube contratou-me, mas quando cheguei o treinador também já tinha ido para Inglaterra.
Gostava um dia de regressar ao F. C. Porto?
Claro que sim, como treinador. Agora ainda não porque só agora estou a começar e a tirar os cursos necessários, mas daqui a três ou cincos anos tudo é possível [risos].
Os jogadores e os treinadores mudam, mas o presidente continua o mesmo.
Pinto da Costa tem demonstrado que está sempre ali para a equipa. O seu segredo é o de ajudar e sobretudo de proteger os jogadores. Sempre, sempre...
Joguei no clube só um ano mas gostaria que tivessem sido muitos mais. Marcou-me
Reconhecem-no hoje quando vai à cidade do Porto?
Há pessoas que sim, outras que não. Quando estive aqui, tinha o cabelo grande. Hoje, quando me encontram na rua, algumas dizem que me conhecem de algum lado mas depois não conseguem dizer quem eu sou [risos]. Sou portista! Joguei no clube só um ano, mas gostaria que tivessem sido muitos mais. Marcou-me.
Porquê?
O F. C. Porto tem uma organização fantástica, os futebolistas têm todas as condições para evoluir. Nos primeiros dias em que cheguei ao clube, o motorista, acho que era o senhor Domingos Pereira, levou a minha mãe, o meu pai e a minha irmã a conhecer a cidade, a ver restaurantes, a passear, tudo foi inesquecível. Perguntava sempre se era preciso alguma coisa. É o exemplo de como funciona o clube, são todos profissionais e amigos.
A passagem pelos dragões foi o ponto mais alto da sua carreira?
Sim, já falei o quanto gosto do clube, mas também passei ótimos momentos no Atlético Madrid e no Panathinaikos, nas partidas da Liga dos Campeões. Quando me perguntam quais são os títulos mais importantes que ganhei, respondo que são dois: a Taça Intercontinental, um título mundial, que conquistei com o F. C. Porto, e o Europeu de 2004, em que a Grécia foi campeã.
Frente a Portugal...
Pois... Nós calhámos num grupo muito difícil, com Portugal, que era favorito por jogar em casa, a Espanha e a Rússia. O nosso objetivo era defender bem e aproveitar uma oportunidade, através do contra-ataque ou de uma falta ou um canto, para fazer um golo... Na final, ganhámos, tivemos sorte, mas sem sorte nada se ganha. Houve uma coisa que me marcou muito: vencemos duas vezes Portugal, mas em nenhum momento fomos mal tratados pelos portugueses. Pelo contrário, aplaudiram-nos. Há uma mentalidade muito boa. Ninguém gosta de perder, muito menos em casa, mas souberam reagir à derrota.
Apesar de já terem passados 14 anos, a Grécia continua a "viver" esse momento com emoção?
Sim, em especial no aniversário do triunfo. Foi um troféu muito grande para um país como a Grécia. Não somos como a Espanha, a Itália ou o Brasil.
Fernando Santos? A Grécia recuou muitos anos depois de sair da nossa seleção
Fernando Santos é talvez o português mais conhecido na Grécia. Treinou vários clubes e orientou a seleção. Saiu depois do Mundial de 2014 e a seleção caiu a pique...
A Grécia teve dois grandes selecionadores no passado recente: Otto Rehhagel e Fernando Santos. Ambos são pessoas com muita competência, muita personalidade, não escutavam jornalistas e jogadores. No caso de Fernando Santos, quando se foi embora, a seleção grega recuou muitos anos. A equipa não tem a mesma organização ou disciplina, os futebolistas jogam cada um à sua maneira.
No dia em que Portugal venceu o Europeu, há dois anos, Fernando Santos dirigiu palavras de forte agradecimento ao povo grego. O gesto teve impacto?
Não me recordo muito bem, mas na Grécia toda a gente gosta muito dele. Teve sucesso no AEK e no PAOK, amam-no como pessoa e como treinador. O Fernando tem muito boas memórias e um dia até pode pensar em viver em Atenas, cidade de que gosta muito. Há uma relação espetacular com ele.
No Benfica, jogam dois gregos, Vlachodimos e Samaris. Que opinião tem sobre estes dois compatriotas?
Vlachodimos tem bom potencial e boas características para jogar pela seleção grega. Quanto a Samaris, quando chegou ao Benfica, todos falavam bem dele, mas agora o treinador é outro. Não basta ter talento, é preciso que seja aposta do novo treinador. Espero que arranje uma solução porque o mais importante é jogar com regularidade. Todos querem jogar no Benfica mas se o objetivo não é atingido há que arranjar uma outra alternativa para que se sinta bem.
Curriculum Vitae
Data de nascimento:
04/06/1981 (37 anos)
Carreira:
Panathinaikos (2000/01 a 2003/04 e 2009/10 a 2012/13), F.C. Porto (2004/05), Dinamo Moscovo (2005/06 a 2006/07) e Atlético Madrid (2006/07 a 2008/09)