
Rui Caetano
Álvaro Isidoro / Global Imagens
Rui Caetano termina carreira aos 29 anos para se dedicar aos negócios e alerta para a importância de se preparar o futuro enquanto se está em atividade.
Quase se pode dizer que Rui Caetano está a aprender uma vida nova, uma em que a bola, a competição, o 11 contra 11 e os golos só existem no passado, uma que não lhe preenche as manhãs e lhe deixa os fins de semana livres, uma em que os mesmos relvados que lhe alimentaram toda a existência já não são mais relevantes. "Não sei o que é viver sem futebol", solta ao JN, ainda a tentar apanhar o jeito à nova rotina. Mas ele preparou-se e por isso é que aos 29 anos colocou um ponto final parágrafo numa carreira que começou em Paredes, ainda os campos pelados não faziam confusão.
É tempo dos negócios e da tal outra vida que contempla, agora em exclusivo, "os ginásios, os campos de padel, o ramo imobiliário, a gestão e o fazer acontecer", algo que nem sequer lhe é novo. "Sempre fui empreendedor e desde cedo comecei a criar os meus negócios. Os jogadores de futebol têm muito tempo livre e eu aproveitei-o", explica Caetano, uma exceção que confirma uma regra ainda muito normalizada no futebol profissional. "Os futebolistas percebem pouco de outras coisas, dedicam-se apenas ao futebol e pensam muito no presente e pouco no futuro. A maioria não prepara o pós-carreira, embora isso esteja a mudar". Ao contrário de muitos, o ex-avançado, que fechou a carreira no Varzim e a marcar o golo da vitória dos poveiros em Penafiel, identificou cedo essa ilusão, seguindo, curiosamente, o exemplo do pai, Agostinho Caetano, cuja carreira passou por Penafiel, F. C. Porto e Tirsense, antes de, também aos 29 anos, preferir a vida empresarial.
Quando olha para trás, Rui Caetano não vê arrependimentos pelas decisões tomadas, normalmente a pensar em conciliar o futebol com os negócios, mas acredita que essa forma de estar também lhe trouxe desvantagens. "Nunca quis sair de perto de casa, nem para o Sul de Portugal, para estar sempre perto das minhas empresas e acho que isso me prejudicou. Também recusei propostas do estrangeiro que fui recebendo durante os anos. Mas não me arrependo dessas decisões", salienta.
O regresso ao futebol não está posto de lado, embora "nunca como treinador". "Como gosto muito de gestão, gostava de ser presidente de um clube, mas só daqui a muitos anos", completa.
"Aos 20 anos, pensava que ia ter uma carreira melhor"
Agora que é tempo do rescaldo do que foram "mais de 20 anos a jogar futebol", Rui Caetano é um homem orgulhoso da carreira que construiu. Passou pelo F. C. Porto, depois de começar a jogar no União de Paredes, jogou um Mundial de sub-20, "inesquecível" também por falhanço dele próprio na final com o Brasil, participou na Liga dos Campeões e na Liga Europa, pelo Paços de Ferreira. Não há mágoas.
"Se aos 10 anos me dissessem que ia ter esta carreira, não acreditava. E aos 20, pensei que podia ter uma carreira ainda melhor", reflete o ex-avançado, recordando que "com 23 anos, já tinha mais de 100 jogos na Liga". No fim, fica também um sentimento de paz. "Recebi mensagens muito especiais, de pessoas que não estava à espera, de gente que jogou comigo há 15 anos. Quase todos os treinadores e presidentes que tive me ligaram. Sei que deixo uma boa imagem".
