<p>O ciberjornalismo era o futuro há 15 anos; continua a sê-lo hoje. Mas ninguém parece saber qual o caminho para o rentabilizar. Em Portugal, as empresas têm apostado tudo no desenho e na velocidade noticiosa, mas subestimado a qualidade dos conteúdos. Poderá estar aí o segredo para solucionar o impasse em que Hélder Bastos, professor da Universidade do Porto, afirma que os cibermedia estão mergulhados? </p>
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Apesar do esforço de adaptação dos média ao ciberespaço, e agora aos dispositivos móveis, a conclusão do livro "Origens e evolução do ciberjornalismo em Portugal" aponta para um balanço negativo. Porquê?
Porque há uma série de factores que contribuíram para que as empresas jornalísticas nunca tenham investido seriamente nas edições e nas redacções on-line.
Como aparentemente ainda ninguém descobriu o caminho certo, essa nota negativa pode ser extrapolada para o contexto internacional?
Claro. Neste momento, há uma grande corrida à procura de um modelo de negócio. Isso prova que a questão não está resolvida e que não é só um problema português. O que nós temos são alguns factores que agravam a situação.
Por exemplo?
A estrutura económico-financeira das nossas empresas não é comparável à estrutura dos grandes grupos espanhóis, muito menos dos ingleses ou americanos. A dimensão do nosso mercado e a espessura das nossas empresas não permite grandes aventuras. Por isso, quando traço a evolução, desde o nascimento do ciberjornalismo, falo em estagnação.
Definiu três períodos até agora...
Sim. De 1995 a 1998 foi a fase do desembarque, as empresas começaram a instalar-se na internet e a abrir os seus sites. O "Expresso", por exemplo, demorou dois anos a chegar. E só em 1998, com o "Correio da Manhã", ficaram todos on-line. O grande receio, nessa altura, era de canibalização: será que colocando a informação na web vamos perder muitos leitores em papel? Era este o grande medo desta fase inicial. E ainda não se falava muito em modelos de negócio. Depois, em 1999 e 2000, houve um boom nacional que acompanhou o boom internacional das empresas de tecnologia, a chamada febre das dot.com. Todas as empresas que tivessem internet no nome eram cotadas em bolsa e ganhavam rios de dinheiro de uma dia para o outro. Foi uma bolha. Esse período contagiou-nos. Houve empresas a lançar jornais digitais, nasceu o "Diário Digital" (que chegou a ter quase 80 ciberjornalistas, o que é uma brutalidade) e o "Portugal Diário". O "Expresso" duplicou a redacção on-line. Esse período foi muito curto, muito intenso, um bocadinho louco. Depois, veio a ressaca. Em 2000 e 2001 começaram a surgir os primeiros sinais de que a bolha iria rebentar: despedimento de pessoal, encerramento de sites, foi o regresso à realidade. E, a partir daí, os anos seguintes foram de relativa estagnação. Nessa década, as empresas investiram muito em refrescamento de sites, num ou noutro vídeozinho. Mas não foram investimentos estruturais, significativos, como constituir grandes equipas de ciberjornalistas, grandes redacções com meios técnicos e humanos para produzirem bom ciberjornalismo, ou seja, jornalismo de qualidade destinado à internet.
E porquê?
Porque isso custa muito dinheiro. E como as empresas não conseguem singrar com isso, não podem investir, e se não investem não conseguem dar bons conteúdos e ficamos num impasse. Não há dinheiro para investir, não entra dinheiro de publicidade, logo não há forma de rentabilizar os sites nem é possível contratar bons ciberjornalistas e bons webdesigners, que era o que permitiria fazer ciberjornalismo de qualidade. Estamos num impasse.
O que era expectável há 15 anos?
A coisa mais interessante que se dizia era: temos que estar na net porque toda a gente está e não podemos perder o comboio.
Após 15 anos, a frase não mudou muito. A única coisa que parecemos saber é que temos de investir na web porque toda a gente o faz...
É verdade. Está toda a gente a batalhar para manter-se à superfície. Porquê? Porque os média, e muito particulamente os jornais, estão confrontados com uma crise sem precedentes. É um período violentíssimo. Estamos num contexto de crise nacional e internacional dos média, com particular ênfase nos jornais. Quem manda nos média, e olha para o futuro a médio-longo prazo, vê um panorama muito negro. E pergunta: Como vamos sobreviver se o papel vai desaparecer; se há cada vez mais gente a consumir informação e entretenimento, às vezes tudo misturado, em dispositivos móveis; se há cada vez mais gente que abandona os jornais em papel e começa a fazer leituras on-line segmentadas? Há um conjunto muito grande de factores que está a mudar e as empressas perguntam-se: E agora? O que vamos fazer para nos mantermos no negócio? É preciso continuar a investir, mas a resposta é difícil...
Mas é possível olhar o futuro com essa voragem pelos novos gadgets, ignorando o leitor mais velho, que é o que lê mais jornais, e que provavelmente nunca irá aderir ao iPad?
É precisamente esse tipo de argumento que uso quando me dizem que os jornais vão acabar daqui a dois anos. Calma! As coisas mudam, mas não tão drástica e rapidamente como isso. Bill Gates anunciou o fim dos jornais para 2000. Falhou. São previsões exageradas, precisamente pelo factor geracional. Ainda há muita gente que lê jornais em papel e gosta, mesmo que complemente com leituras on-line. E esssa geração, que porventura terá agora 40 ou 50 anos, ainda vai estar aqui algumas décadas. Não creio, por isso, que o papel vá extinguir-se da face da terra daqui a duas, três décadas. Poderá ficar cada vez mais reservado a um nicho, mas há gerações que nunca na vida vão trocar o papel por um iPad ou iPhone.
Os jornais são caros e estão em crise, com perda acentuada de leitores. As empresas sentem necessidade de encontrar novos segmentos de mercados e estão a apostar tudo nos gadgets. Sendo certo que não tem dinheiro para jornais, não terá também para iPads, que certeza há de que esse é o caminho?
Não há certezas. O problema é esse. Estamos a fazer navegação à vista, através de tentativa e erro. É preciso entender os hábitos das pessoas, como estão a reagir, e depois perceber como podemos rentabilizar o negócio. Podemos decidir investir mais no on-line, mas com que dinheiro? Com o que ganhámos no papel ou arranjando maneira de os sites darem lucro para se auto-sustentatem? Na última década demos passos à frente e atrás. Por exemplo, o Público tentou fazer em 2005 uma paywall...
E não resultou...
Pois não, durou um ano. O "El País", em Espanha, fez o mesmo e teve de recuar porque os leitores fugiram. Curiosamente, agora, estamos outra vez com essa possibilidade à superfície. Murdoch resolveu que basta de sermos parasitados....
Vai criar um jornal exclusivo para o iPad e completamente pago...
Sim, essa será outra aventura. Mas antes, e contra a corrente, decidiu que os jornais dele vão ser todos pagos. Algumas pessoas dizem que é louco, que vai perder leitores. E a verdade é que o "Times", depois disso, perdeu mais de dois terços da sua audiência on-line. Mas toda a gente está de olhos postos na solução. Mesmo cá, os principais patrões dos média estão a olhar para ver como vai resultar. E tudo aponta para que também cá os sites comecem a cobrar pelos seus conteúdos. Há quem defenda que a produção é cara, logo tem de ser paga. Agora, é um risco. A cobrança pode fazer com que os leitores fujam, porque estão habituados a ter tudo de graça. Mexe com os hábitos de leitura on-line, que são complicados de contrariar. É difícil convencer alguém a pagar pela informação de um site quando há dezenas que são gratuitos.
A discussão está toda centrada no modelo de negócio, nas plataformas e, parece-me, muito pouco nos conteúdos. Não é uma subversão?
Concordo inteiramente. Não é possível cobrar conteúdos se não tiverem valor acrescentado aos dos sites gratuitos. Aos nossos jornais, e aos média em geral, falta, de facto, fornecer produtos com qualidade, com profundidade, com contexto, com investigação, com cruzamento, com uma luz nova. Se um site tem um grande colunista, uma grande reportagem, uma boa história de investigação, é natural que as pessoas paguem. Agora, se tem só notícia rotineira, sem rasgo, copy-paste das agências noticiosas, isso obviamente não justifica que as pessoas paguem. Só que é isso que está toda a gente a fazer, e isso não vende.
Trocou-se a essência do jornalismo - no limite, contar uma história - pela pressão de dar primeiro a primeira história?
Claramente. E é uma das coisas que critico no livro quando faço o balanço destes 15 anos. Critico essa obsessão pelo instantâneo. Vivemos uma época no jornalismo em que há um deslumbramento com a velocidade. Há a ideia de que quem der primeiro, é melhor; se souber primeiro, está mais bem informado. Isso é uma ilusão. As empresas estão enganadas quando acham que distribuindo títulos noticiosos por telemóvel ou iPad vão fazer um brilharete e garantir o seu futuro no panorama mediático.
Até porque isso contraria completamente a lógica do semanário, um modelo que não está propriamente em crise em Portugal. O "Expresso", por exemplo, vende mais de cem mil exemplares por semana...
Exactamente. O que procuramos num semanário? Perspectiva, contexto, opinião, profundidade, enquadramento... e não breaking news.
Mas se é justamente nas breaking news que os sites investem, importa perguntar para quem é esse volume brutal de últimas horas que são distribuídas. Ou não são universos comparáveis?
O conhecimento do leitor é o velho calcanhar de Aquiles dos jornais. Há dificuldade em conhecê-lo porque é um animal fugidio. E não me refiro apenas ao contexto português. Mas isso levanta outra questão: teremos massa suficiente de pessoas para rentabilizar esse tipo de distribuição? Quem são as pessoas que têm dispositivos móveis como o iPad? Uma minoria, obviamente. Qual é, por exemplo, o número de leitores do JN que tem acesso a esses dispositivos? É residual, neste momento. Estamos numa fase de mutação muito acelerada. Esse número de pessoas tenderá a crescer, mas até chegar à massa de que falo, passarão muitos anos. É natural que as empresas estejam a experimentar, e têm de o fazer, mas não sei onde vai dar.
Além dos dispositivos móveis, há cada vez mais a necessidade de replicar as notícias em todas as redes sociais, Facebook, Twitter, etc. No final do dia, isto implica uma enorme quantidade de tempo dispendida pelo jornalista. Do ponto de vista da produção, isto é realmente fazer ciberjornalismo?
Esse debate é muito interessante. Voltamos ao culto da instantaneadade, aqui também com o recurso ao serviço de outsourcing (agências noticiosas). Nessa preocupação de explorar as últimas modas, as redes sociais, etc, houve uma factura a pagar: o jornalismo. É o grande perdedor. As empresas e os próprios jornalistas sobrevalorizaram esses aspectos - rapidez, adaptação de conteúdos, produção de aplicações para dispositivos móveis, refrescamento de sites, aposta no estilo e na forma - e esqueceram o conteúdo. Como ficou o jornalismo?
Como ficou o jornalismo?
Ficou mal, obviamente. Em termos de ciberjornalismo, os jornalistas destacados para trabalhar em edições on-line, o que fizeram nos últimos 15 anos? Fizeram últimas notícias, adaptaram textos de edições originais, raramente saíram em reportagem. Aliás, esse é o tema do meu próximo livro, a sair em Janeiro de 2011.
Fica um bocadinho a ideia de que, no limite, nunca é necessário sair da redacção...
Mas essa é uma das acusações justas que se fazem ao ciberjornalismo, que é a ausência de produção própria. Nem sequer têm fontes próprias.
Não há tempo para cultivar fontes nem as histórias que daí poderiam resultar...
O problema é que durante este tempo todo, os ciberjornalistas limitaram-se a fazer trabalho rotineiro, de sapa, de adaptação, de corta de cose, e anularam o que seria o trabalho típico de um jornalista: descobrir histórias, contá-las, explicá-las, enquadrá-las. Não lhes foi permitido, aos ciberjornalistas, desenvolver a sua própria personalidade jornalística.
Como define, aos seus alunos, um ciberjornalista?
É, antes de mais, um jornalista. Não é um tipo que se passou para o outro lado do ciberespaço, para um mundo virtual e que agora está lá, nesse limbo, e só sabe de flash, de multimédia, de programação, de gadgets, de breaking news. Não! É alguém que foi destacado para trabalhar num ambiente específico, on-line, que tem a sua gramática própria e modos diferentes de apresentar as coisas. Mas a sua função não se esgota nisso. As linguagens que temos on-line são o meio; não são o fim. Esse é um dos grande equívocos também. Às vezes, os ciberjornalistas pensam que o efeito é o fim do seu trabalho - e não é.
De alguma forma, as empresas assumiram que os jornalistas não iriam ser ciberjornalistas e vice-versa. E, com isso, criaram duas redacções distintas. Faz sentido essa separação?
A norma tem sido a separação, as redacções paralelas. Mais recentemente está a nascer a moda da convergência e integração das redacções. Nos Estados Unidos e em Inglaterra estão a experimentar, mas ainda é a excepção.
Mas essa fusão funde o quê? Pessoas ou competências?
Ambas. O problema é que as empresas querem que os jornalistas sejam um canivete suíço. Mas acreditar que todos os jornalistas podem fazer tudo ao mesmo tempo é um erro. O jornalista deve estar preparado para, em certas circunstâncias, ser capaz de fazer tudo - escrever, gravar, fotografar, filmar, montar, etc-, o que é diferente. O ideal é trabalhar em equipa. Mas isto é música celestial, porque isso fica muito caro às empresas.
De quem é a culpa deste aparente fracasso?
O problema está nas vistas curtas com que muitas vezes a gestão empresarial é feita. E isso tem-se acentuado nos últimos anos. Há uma gestão demasiadamente financeira e económica das redacções, sem se perceber a especificidade do trabalho jornalístico. Muitas vezes, as redacções e os jornalistas tradicionais não são bem enquadrados, nem sequer o valor acrescentado que representa a sua produção. As empresas só querem saber como cortar custos e esse tem sido o grande problema estratégico. Faz-me lembrar um colega espanhol, que diz: "Se voce é dono de uma pizzaria e está a perder clientes, não vai diminuir o tamanho da pizza, certo? Você vai aumentar o tamanho da pizza e contratar um bom chef para aumentar a qualidade do seu produto. Ora, as empresas estão a perder clientes e, ainda por cima, estão a diminuir o tamanho das pizzas, a despedir jornalistas e a não contratar chefs decentes." É uma metáfora muito certeira. E é paradoxal. Desinveste-se na qualidade e aposta-se na distribuição de mini pizzas (últimas horas), criando a ilusão de que isso é sustentavel a médio, longo prazo. Esta obsessão pelos custos percebe-se, mas ela pode ser o grande equívoco das empresas. Perde-se a noção de que é necessário vender um produto de qualidade quando não se consegue sequer identificar o que é um produto de qualidade.
Os trabalhos multimédia são, também, reflexo disso? Qualquer passeio rápido pelos sites demonstra a confusão que existe entre um slideshow e uma reportagem...
Os bons trabalhos multimédia são a expecpção. Porque são pesados, porque implicam várias passoas, domínio do flash, do vídeo, do audio... E muitas redacções não têm pessoas capazes para isso. Trabalhar informação do ponto de vista multimédia não é, de facto, colocar audio em cima de um slideshow. Multimédia pressupõe integração dos elementos e uma nova forma de contar histórias - e uma história lá dentro. O problema é que muitas vezes os jornalistas deixam-se entusiasmar pelo efeito. E há muitos problemas narrativos porque ainda não aprenderam a gramática. Além disso, a reportagem multimédia é cara, envolve equipas com um nível de formação técnica, e não só, elevado. E demora tempo. Que empresa dá hoje três meses a um jornalista para investigar e trabalhar uma história? Que empresa respeita essa produtividade? No contexto actual, e do ponto de vista empresarial, muitas notícias por dia valem mais do que uma grande história. E essa é uma das razões que tem manchado a respeitabilidade pública do jornalista.
Numa altura em que os diferentes meios - jornais, rádio, televisão - competem entre si com ferramentas iguais, o que poderá distingui-los?
Essa foi uma das grandes novidades trazidas pela internet. Ela fundiu, amalgamou coisas que antes estavam devidamente separadas. De repente, temos jornais como o JN a fazer televisão on-line. As pessoas não se aperceberam, mas foi uma revolução brutal. A rádio está a dar texto em profundidade como não pode dar em antena. O que conta já não é a linguagem radiofónica; é a capacidade de adaptação ao meio, são as melhores histórias, são as histórias contadas com o meio que o meio permite. E a qualidade. Se aquilo que se mostra é bom, legível, interessante, novo, isso vai permitir-me, a mim, leitor, descobrir mais coisas sobre um determinado assunto, seguir dossiers relacionados. Isso é outra responsabilidade, nova, que o ciberjornalista tem: fornece ao leitor tudo, desde o pequeno link até ao grande dossier. Guia-o por informação qualificada. É um papel novo. O ciberjornalismo desafia o papel tradicional do jornalista. Mas também reforça o seu papel, porque vai ajudar o leitor a distinguir o lixo do que é fiável.
O jornalista passa a ser, também, um moderador?
Moderador, filtro, guia da informação. Mas o ciberespaço não é uma derrota para o jornalista; é uma oportunidade para reformar o seu papel tradicional. E para assumir novos papéis, que nunca foram tão necessários.
Dentro dessa lógica de moderação, há também os agentes anónimos, e são muitos, com uma generosidade enorme, e que muitas vezes sabem mais do que o jornalista sobre um determinado assunto e o partilham na net. O ciberjornalista compete também com essa nova fonte de informação?
Esse é outro desafio. O jornalista já não tem o monopólio da informação, mas por isso convida-o a um reforço das suas qualidades e competências tradicionais. Não é, no entanto, isso que está a acontecer.
Neste cenário, é possível fazer futurologia, antecipar os próximos 15 anos?
O futuro, como dizia Einstein, está um bocadinho difícil de inventar. As expectativas e as projecções são negras, apontam para baixo, com excepção de alguns gadgets. Passariam por uma melhoria da sustentabilidade do próprio negócio jornalístico, por apostar mais na qualidade e menos no efeito, na instantaneadade, que é importante, mas não o mais importante. E essa é provavelmente a maior batalha que vamos ter: convencer as empresas de que têm de dar não só informação rápida, mas melhor. Aliás, muito melhor. Só assim será possível evitar a fuga dos leitores. Mas mesmo isto não é uma resposta segura. Outra coisa que se exige para um futuro próximo é a constante monitorização dos hábitos em transformação das pessoas em geral e dos leitores em particular. Estar atento aos movimentos, saber o que esperam dos jornalistas para que as empresas possam adaptar o seu negócio. Com este diálogo surdo que tem existido, continuará a aumentar o risco da perda de contacto entre as empresas e as pessoas para quem trabalham - e isso é fatal. Desse ponto de vista, têm sido cometido muitos erros, o que ajuda a explicar a erosão dos leitores. Não sei como vamos estar daqui a 20 anos, porque há 15 era impossível adivinhar o ponto em que estamos, nomeadamente no que diz respeito ao aparecimento da televisão on-line e dos gadgets. A velocidade com que tudo mudou é impressionante. Prever o futuro é muito arriscado. Mas no que ao jornalismo diz respeito, tudo tem de passar pelo aumento da qualidade, pelo aumento do serviço público que deve ter o jornalismo. É preciso que as administrações percebam o papel do seu jornalista na comunidade em que se insere. Sem perceber isso, nenhuma estratégia resultará. Continuar-se-á a apostar no acessório e não no essencial. Nos últimos 15 anos apostou-se só no acessório.
E sem saber responder a isso, é impossível dizer se a informação on-line poderá ser rentável quando, e se, for paga?
Nós passámos os últimos 15 anos a tentar e a errar. Não chegámos a lado nenhum. Mas o "Financial Times", por exemplo, tem informação especializada e de qualidade e tem leitores dispostos a pagar por ela. Os gratuitos são a antítese disso. E há muitos jornais sérios que estão ali "in between". Estar no meio é estar no lado mais arriscado. Creio que a resposta passará sempre pela qualidade, pelo valor acrescentado.