A eletrificação do parque automóvel avança em grande ritmo a nível mundial e deverá poupar 5 milhões de barris de petróleo em 2030. O Ocidente e a China andam mais rápido enquanto na Índia o ritmo é mais lento.
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Este ano deverão ser vendidos em todo o mundo 14 milhões de veículos elétricos, mais 35% do que em 2022, que já foi um ano recorde para a comercialização deste tipo de viaturas. A projeção consta de um relatório da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla inglesa) que analisa a eletrificação do parque automóvel mundial e conclui que esta indústria vai crescer ainda mais depressa. Os fabricantes de automóveis estão a apostar na tecnologia elétrica muito além daquilo que se esperava: no ano passado, um em cada sete carros fabricados era elétrico; este ano, a indústria estará muito próxima de um quinto das vendas e, em 2030, estará pelo menos em dois terços do total.
A "explosão" industrial no setor deverá poupar 5 milhões de barris de petróleo em 2030, estima o relatório da IEA, Global Electric Vehicle Outlook. Os dados e projeções deste estudo sugerem que as extraordinárias taxas de crescimento não se vão limitar a automóveis, mas devem em breve invadir toda a produção de veículos, incluindo camiões e autocarros.
Há pelo menos três mercados em evolução rápida, sendo o maior o chinês. A China é a força dominante na produção de baterias para automóveis e várias das suas empresas estão a expandir-se para o fabrico e exportação de carros elétricos. O avanço tem sido mais lento em outros mercados, por exemplo na Índia, o que pode resultar numa divisão do mundo em dois grupos: os eletrificados e os consumidores de viaturas baseadas em combustíveis fósseis. Apesar de tudo, a IEA considera que países como a Índia possam desenvolver outro tipo de soluções baratas, pois os veículos mais populares têm apenas três rodas e baixa potência.
O estudo da IEA mostra que a indústria automóvel está a acelerar todas as componentes da nova fileira, o que é confirmado pelos constantes anúncios de políticas empresariais cada vez mais agressivas. A Tesla, por exemplo, anunciou recentemente a intenção de atingir em 2030 um nível de produção anual de 20 milhões de carros, o que poderia ser um quarto da indústria automóvel nesse ano. A própria empresa desvaloriza a meta colossal, reconhecendo que isso era apenas 1% do parque automóvel mundial, que terá de ser totalmente substituído nas próximas décadas.
Os construtores querem reconverter fábricas, conceber baterias mais eficazes, investir numa nova gama de modelos. Eles tencionam gastar, até 2030, toneladas de dinheiro, um mínimo de 1,2 biliões de dólares (milhões de milhões), para que possam sair das fábricas, nesse
ano, 55 milhões de veículos elétricos. Isto implica a resolução de outros problemas, como comprar as matérias-primas (algumas delas escassas), melhorar a infraestrutura de carregamentos e adaptar a rede elétrica à nova procura.
Transição energética
A eletrificação rápida do parque automóvel é um dos elementos cruciais para cumprir as metas de redução de emissões de gases com efeito de estufa. O setor dos transportes é responsável por 40% das emissões globais e o transporte rodoviário tem uma fatia de 16% do total. As metas internacionais são de redução de pelo menos um quinto nas emissões produzidas por automóveis, antes de 2030, o que evitaria colocar na atmosfera duas Gigatoneladas de CO2 naquele ano (dois mil milhões de toneladas). A este ritmo, o objetivo pode ser alcançado.
O que está em causa é que os automóveis que conduzimos deixam de utilizar combustíveis fósseis e passam a consumir eletricidade, embora a eletrificação dos automóveis seja ambientalmente inútil se essa eletricidade não for cada vez mais baseada em fontes renováveis. A avaliar pelo investimento em energia, as fontes limpas estão a ganhar. Segundo cálculos da IEA, o investimento mundial em energias sem carbono deve crescer 24% entre 2021 e 2023, contra 15% de aumento no investimento em combustíveis fósseis no mesmo período.
Nos últimos anos, houve uma inversão da lógica: por cada dólar gasto em combustíveis fósseis, o setor da produção de energia apostou 1,7 dólares em energias limpas. A aceleração do setor renovável deve-se em grande parte à Guerra da Ucrânia, que levou muitos países, sobretudo na Europa, a sentirem uma forte insegurança energética.
A eventual escassez de minerais críticos na transição energética pode ter impacto nos preços das tecnologias de energias limpas. Nos últimos dois anos, houve um abrandamento no crescimento que se verificava na competitividade de painéis solares ou baterias de automóveis elétricos. A causa foi o aumento dos preços de matérias-primas, sobretudo lítio, níquel, cobalto e cobre. A indústria precisa de quantidades crescentes destes materiais e os preços estão acima da média histórica. As perspetivas sobre o consumo futuro não permitam grande otimismo: cobalto e cobre serão provavelmente minerais caros na próxima década.
O negócio tem incógnitas. Haverá cada vez mais carros à espera de carregamento das baterias e este problema tem de ser resolvido. A transição só será possível quando houver uma forma pouco dispendiosa e rápida de carregar o veículo. A indústria automóvel aposta tudo nesta tecnologia, mas depende dos compradores, que não querem investir em carros complicados ou que possam ficar no meio da estrada.