Actuação de Merkel e Sarkozy aparenta "golpe de Estado condicional", diz Eduardo Lourenço
O filósofo e ensaísta Eduardo Lourenço considerou que a actuação da França e da Alemanha face à crise da Europa aparenta "um golpe de Estado condicional".
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"O que se está a passar nestes últimos dias, esta tentativa de forçar outros países europeus mesmo de uma maneira não muito democrática ou pouco democrática da parte do duo Sarkozy-Merkel tem a aparência de um golpe de Estado condicional, como se dizia antigamente", disse o ensaísta à agência Lusa, à margem da apresentação das suas Obras Completas, em Lisboa.
"Nós estamos no centro do vulcão (...)", disse, acrescentando que "esta situação condiciona o futuro do euro e o da União Europeia (UE). E a União Europeia, como disse Mário Soares, é uma das maiores empresas e utopias provavelmente que o ocidente foi capaz de construir".
"Espero que esta utopia realmente não termine desta maneira desastrosa", desabafou Eduardo Lourenço.
"Mas, se for para um bom fim, quer dizer, se daqui resultar efectivamente a solução para o problema urgente dos famosos défices de vários países europeus, e se uma nova fase da construção europeia paradoxalmente sair deste caos em que estamos, enfim, seria quase providencial, mas veremos", sublinhou o ensaísta.
Questionado a pronunciar-se sobre se a Europa falhou, Eduardo Lourenço sustentou que a Europa "falhou menos do que se pode imaginar".
Aqui Europa só quer dizer "a tentativa de se realizar a União Europeia" e ela "nunca existiu". "Portanto não falha, porque não existe ainda; não existe como actor político a tempo inteiro".
Para Eduardo Lourenço, a Europa "existe com um enquadramento e umas perspectivas que nunca foram definidas desde o princípio e, provavelmente, foi essa realmente uma das causas que contribuíram para que nós estejamos nesta confusão".
O ensaísta defendeu que, desde o início da União Europeia, quando ainda poucos países a compunham, não tinha ficado claro o que os grandes países europeus queriam verdadeiramente e que organização de poder económico seria necessária para levar a cabo a "utopia" da UE.
"E se não ficou claro, nós estamos à mercê efectivamente do choque desse projecto com o movimento à escala mundial das economias e dos interesses políticos", argumentou.
* Agência Lusa