Custo acumulado é de 20,6 mil milhões. Dava para financiar a saúde pública durante dois anos.
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Em 2019, os contribuintes em Portugal pagaram uma fatura de 1,5 mil milhões de euros relativa aos apoios concedidos à Banca, valor que, ainda por cima, repete o custo líquido suportado pelo Orçamento do Estado em 2018, indicam dados novos do Instituto Nacional de Estatística (INE). Desde 2008, já lá vão 20,6 mil milhões, o que daria para financiar a Saúde durante dois anos.
Portanto, nestes dois anos que foram marcados por um enorme brilharete do ponto de vista orçamental (défice mínimo de 0,4% do PIB em 2018 e excedente histórico de 0,2% do PIB em 2019), os contribuintes ainda arcaram com mais de 3 mil milhões de euros em ajudas à Banca.
São sobretudo despesas herdadas dos compromissos assumidos no passado por causa de bancos falidos, caso do BES (e dos apoios subsequentes ao Novo Banco via quadro de resolução), BPN, Banif.
Recorde-se que o Estado até ganhou dinheiro com os apoios que concedeu a bancos, como BCP (ganho líquido de 919 milhões de euros, segundo o Tribunal de Contas) e BPI (ganho de 167 milhões). Mas isso foi totalmente eclipsado com a destruição de valor provocada pelos outros.
Ainda de acordo com o balanço feito pelo Tribunal de Contas ao período de 2008 a 2018, além da capitalização da CGD (mas esta é pública), o universo privado BES/NB já fez evaporar mais de 5,5 mil milhões de euros dos contribuintes.
A fatura do BPN, um banco consideravelmente pequeno quando foi nacionalizado, já supera os 4,9 mil milhões de euros em prejuízos públicos.
O Banif, outro banco de pequena dimensão, absorveu 3 mil milhões de euros em fundos dos contribuintes.
De acordo com cálculos do JN/Dinheiro Vivo, significa que desde 2008, o custo acumulado imputado aos portugueses para aguentar o sistema financeiro e bancário já vai nuns significativos 20,6 mil milhões de euros. É despesa líquida, o custo final depois de já subtraídos os ganhos que o Estado teve com algumas das ajudas (juros e devolução de capital).
Vozes contra os bancos
Só para se ter um termo de comparação, 20,6 mil milhões de euros dariam para financiar todo o setor da Saúde pública (pagar salários, materiais, consumos, a fornecedores, tudo) durante dois anos inteiros, segundo se deduz do Orçamento do Estado.
Agora, com a crise do coronavírus e com o estado de emergência económica em que o país (assim como os outros, claro) mergulhou, crescem as críticas contra os bancos por estes não estarem a apoiar a economia ao máximo.
Há relatos de que vários bancos continuam a praticar spreads altos, na ordem dos 3%, em linhas de crédito bonificado para pequenas e microempresas. Muitas estão prestes a colapsar ou já faliram com a ausência de procura.