Alemanha surpreendida com decisão de Atenas de referendar reestruturação da dívida
O governo alemão mostrou-se esta terça-feira surpreendido com a decisão do primeiro-ministro grego, George Papandreou, de referendar as medidas da União Europeia para reduzir a dívida helénica, dizendo esperar "informações oficiais" de Atenas para tomar posição.
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"São desenvolvimentos da política interna na Grécia sobre os quais o governo federal não tem informações oficiais, e por isso não comenta", disse um porta-voz do Ministério das Finanças alemão referindo-se ao anúncio feito por Papandreou na segunda-feira, no parlamento grego.
Já Rainer Brüderle, líder parlamentar dos liberais, um dos partidos do executivo germânico, considerou "estranho" o comportamento do governo grego.
"A decisão parece indicar que a Grécia quer livrar-se dos compromissos assumidos", disse o político alemão à emissora de rádio Deutschlandfunk.
"Não podemos aceitar que a Grécia não queira combater a sua própria miséria, mas espere receber generosas ajudas dos europeus", acrescentou Brüderle.
O líder da bancada liberal exortou, simultaneamente, o governo de Angela Merkel a elaborar um plano B e um plano C para o caso de os gregos rejeitarem em referendo a planeada reestruturação da dívida pública em 50%, decidida na cimeira da zona euro de quarta-feira passada, a anteceder um novo empréstimo de 100 mil milhões de euros da UE e do FMI a Atenas, ainda em preparação.
"Tanto a Alemanha como a Comissão Europeia e os outros países da zona euro têm de se preparar para as consequências da atitude da Grécia", sublinhou Brüderle.
"Se o povo grego rejeitar os acordos existentes, chega-se a um ponto em que a Grécia que não deve receber mais dinheiro, é necessário então evitar os riscos de contágio de uma bancarrota do país", acrescentou.
Por seu turno, Joerg Rocholl, professor da Escola Europeia de Gestão e Tecnologia, em Berlim, disse à cadeia de televisão ZDF que se os gregos votarem contra a restruturação da dívida pública e os memorandos assinados com a chamada "troika" da UE e FMI "é possível" que a Grécia tenha de sair do euro.
Na opinião do mesmo economista, se Atenas não cumprir as suas promessas, "os outros países da moeda única já não se sentirão comprometidos com as ajudas externas, o que significa que a Grécia já não poderia ficar no euro".
Papandreou anunciou perante deputados do seu partido, o PASOK, no parlamento helénico, que o voto no referendo "será vinculativo" e que se o povo grego recusar o novo acordo com os parceiros do euro e com a UE, este não será promulgado.
Segundo o ministro das Finanças grego, o referendo deverá realizar-se depois de serem conhecidos os pormenores sobre o acordo de reestruturação da dívida, um processo que pode durar até princípios de 2012.
A imprensa alemã destacou esta terça-feira a decisão do governo grego de referendar as ajudas europeias.
"Papandreou Desafia O Seu Povo", disse em manchete o Tagesspiegel, de Berlim, que coloca ao lado um comentário sobre o mesmo tema, intitulado "A Grande Decisão", em que se sustenta que o resultado do referendo será mais importante do que o fim da Ditadura dos Coronéis, ou a adesão da Grécia à UE, por exemplo.