
Izabela Matusz, embaixadora da UE no Panamá
La Prensa
O Fórum da Economia Eurolatina acaba de terminar. Os temas aí debatidos têm todos os ingredientes para virem a ser fundamentais na definição do futuro dos europeus. Foram três dias de intensos trabalhos, cujo resultado pode resumir-se numa ideia simples: a região, apesar da sua diversidade sócio-económica, pode ser uma valiosa alternativa da União Europeia (UE) à dependência da China em matérias-primas críticas e o Panamá, com o seu valioso canal, será o epicentro dessa mudança geoestratégica.
A embaixadora da União Europeia no Panamá, Izabela Matusz, destacou na sua intervenção a importância de reforçar a cooperação económica. A diplomata sublinhou ainda o papel do país como "parceiro estratégico e porta essencial entre ambos os continentes", reconhecendo a sua posição única como ponto de encontro entre o Atlântico e o Pacífico. Matusz foi mais longe ao realçar o investimento de 45 mil milhões de euros na região ao longo dos últimos dois anos, no âmbito do programa Global Gateway, que visa trazer alguma homogeneidade de desenvolvimento aos países visados pelo apoio dos 27 estados da UE.
"Um eixo fundamental do debate inaugural foi a necessidade de reorientar o diálogo. Impõe-se passar da simples extração de matérias-primas críticas para a industrialização soberana. Neste caminho, a digitalização não é um luxo, mas uma ferramenta de coesão social. O investimento em infraestruturas logísticas e digitais deve garantir que a conectividade avançada,(....) resolva as desigualdades e impulsione um crescimento inclusivo em toda a Ibero-América, transcendendo o benefício dos grandes centros urbanos", afirmou Alberto Barciela, diretor do Congresso de Editores de Meios UE-América Latina, num comentário realizado à margem do Fórum realizado na Cidade do Panamá.
Terras raras
Nem de propósito, nesta quarta-feira, dia 3, enquanto jornalistas, políticos e especialistas ainda debatiam os caminhos para desenvolver o comércio entre as duas regiões, tendo em conta até as maiores afinidades culturais, comparativamente a uma superpotência económica oriental que atua de forma silenciosa, a UE tomou a decisão arrojada de avançar com o programa ReSourceEU. É um investimento de três mil milhões de euros, para reduzir a dependência de matérias-primas críticas fornecidas pela China. As medidas incluem a criação, em 2026, de um Centro Europeu de Matérias-Primas Críticas, restrições à exportação de resíduos industriais e uma nova doutrina de segurança económica.
O ReSourceEU baseia-se no Regulamento Europeu das Matérias-Primas Críticas, assunto abordado durante o Fórum no Panamá, que estabelece metas para 2030 a fim de garantir a segurança do aprovisionamento da UE: pelo menos 10% do consumo anual de matérias-primas estratégicas extraídas na UE, 40% processadas, 25% recicladas e não mais de 65% de qualquer uma dessas matérias-primas proveniente de um único país. O caminho é longo, uma vez que a realidade é que sete dos 18 materiais listados no Regulamento não cumprem o requisito de 10% de mineração na UE, e 21 dos 24 materiais ficam aquém da meta de 40% de processamento.
Atualmente, mais de 90% dos ímanes de terras raras da UE provêm da China. Em que medida é que a América Latina poderia ajudar? Alguns dos participantes no Fórum realçaram as diferenças entre as duas zonas do planeta. À maior desigualdade social e instabilidade política da América Latina contrapõe-se, por exemplo, alguma lentidão europeia, quer na tomada de decisões, quer no capítulo da regulamentação excessiva, que torna tudo mais burocrático.
O Chile, a Argentina e a Bolívia formam o chamado "triângulo do lítio", concentrando as maiores reservas mundiais. Mas aqui está o paradoxo ainda por resolver: enquanto a Europa precisa destes materiais, a América Latina não quer repetir o erro histórico de ser apenas fornecedora de matérias-primas de baixo valor. Há que preservar o ambiente e as populações e isso implica um preço final mais elevado.
Canal do Panamá

O epicentro deste novo eixo comercial, que certamente incluiria, as terras raras, cujo fornecimento é vital para a indústria dos veículos elétricos e outros setores de alto valor acrescentado, poderá ser o Canal do Panamá. Ricaurte Vásquez Morales (na foto), administrador de uma das mais importantes infraestruturas para comércio mundial por via marítima, apresentou um plano de diversificação de receitas. O projeto prevê a construção de dois novos portos, um do lado Atlântico e outro do lado do oceano Pacífico, bem como a construção de um gasoduto, uma autoestrada para o transporte de carga por via terrestre e um novo reservatório para abastecer o canal.
A ameaça direta de Donald Trump ao Canal do Panamá, no início do seu segundo mandato na Casa Branca, alegando que a infraestrutura, que tanto custou aos EUA em termos de construção e financiamento, estaria nas mãos dos chineses, foi rapidamente afastada. Bastou para tal que um membro da Administração dos EUA se deslocasse ao Panamá para perceber "in loco" que havia apenas algumas concessões a empresas de Hong Kong no que se refere aos portos e não ao canal propriamente dito, que aliás está integralmente nas mãos dos panamianos desde há 25 anos.. "Gerimos cerca de 6% do comércio marítimo mundial por volume", sublinhou Ricaurte Vásquez Morales durante a conferência. Com uma potencial maior cooperação eurolatina, o crescimento do tráfego do canal será mais do que certo.
O Fórum de Economia Eurolatina: "Ponte Estratégica: A Nova Agenda Económica UE-América Latina", da EditoRed, organizado pela Prestomedia e com La Prensa como meio anfitrião, contou com o patrocínio da Davivienda, da Latinex e do Conselho Nacional de Jornalismo, e com o apoio da Delegação da União Europeia no Panamá, do Canal do Panamá e do Centro Latino-Americano de Jornalismo.

