Deslocalização de encomendas é a principal ameaça e há seis concelhos muito dependentes do setor.
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No dia em que o Instituto Nacional de Estatística divulgou os números das importações e exportações, que se traduziram na redução drástica da taxa de cobertura da balança comercial do setor têxtil, as principais associações reuniram com a Comissão de Economia, Inovação e Obras Públicas, avisando o que há meses se ouvia em surdina: o têxtil está novamente em crise e 2019 vai ser um ano de estagnação, senão de recuo, com despedimentos à vista.
Em Guimarães, no auditório da Fraterna, os avisos de uma crise presente ou a chegar partiram dos responsáveis pelas principais associações. João Costa, da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP), classificou de "demasiado grande" o aumento das importações em janeiro e destacou que "o momento presente é de algum arrefecimento", prevendo um 2019 estagnado ou a decrescer.
Grupo Inditex
O principal problema é, de forma unânime, o decréscimo das encomendas por parte do Grupo Inditex, com sede na Corunha, em Espanha, e que detém marcas como a Zara, Bershka, Stadivarius, Massimo Dutti e outras.
O gigante do têxtil viu na desvalorização da lira turca uma oportunidade e consegue preços 15% abaixo dos que Portugal pratica, constituindo-se como uma ameaça a empresas portuguesas de média dimensão que dependem quase exclusivamente daquele grupo.
José Alberto Robalo, da Associação Nacional das Indústrias de Têxteis-Lar (ANIT-LAR), corrobora a versão da ATP na "previsão de estagnação". A Associação Nacional das Indústrias de Vestuário e Confeção (ANIVEC) pede mais formação e a Confederação Portuguesa das Micro, Pequenas e Médias Empresas (CPPME) anuncia "dezenas de encerramentos e despedimentos" provenientes de subcontratados que estão "em desespero". Já o IAPMEI diz estar ciente do problema.
A expressão "quando a Inditex espirra, o Vale do Ave constipa" nunca fez tanto sentido, mas a constipação pode alastrar-se aos vales vizinhos do Cávado e Sousa. É que há seis concelhos dos três vales onde o setor têxtil representou, em 2018, mais de 60% do total de exportações.
Póvoa de Lanhoso
O concelho mais dependente é a Póvoa de Lanhoso, onde nove em cada dez euros exportados provêm do têxtil. Fonte da Câmara Municipal disse estar consciente da realidade do têxtil e reconhece que a quebra de encomendas "representa uma ameaça", mas "tudo tem sido feito para diversificar", como é exemplo a Prozis, de produtos alimentares, e a Lavoro, no calçado, instaladas recentemente no concelho.
Depois da Póvoa de Lanhoso, os mais dependentes são Fafe, Barcelos, Lousada, Vizela e Guimarães.
A Cidade Berço é o maior dos seis concelhos mais dependentes do setor têxtil, e marcou presença ontem na reunião entre deputados e associações empresariais do têxtil, à semelhança de Fafe e Vizela.
"Guimarães tem diversificado a sua economia com setores como o agroalimentar e a metalomecânica", ressalvou Domingos Bragança, autarca vimaranense.