Portugueses têm de gastar 7% do ordenado médio líquido para encher um depósito de 50 litros. Gasolina disparou 17% e gasóleo 18% em 2021.
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A fatura dos combustíveis líquidos aumentou ao longo do último ano. A gasolina ficou mais cara 17% e o gasóleo 18%. Para pagar um depósito de 50 litros de gasolina, aos preços de 20 de dezembro (últimos para os quais existe um comparativo europeu), os portugueses têm de gastar 7% do salário médio mensal líquido, que é de quase 1180 euros. Os espanhóis precisam só de 4% da remuneração líquida para pagar 50 litros, os luxemburgueses de 2% e os suecos de 3%.
Na última semana de 2021, a gasolina estava a custar 1,665 euros e o gasóleo 1,501 euros por litro. Segundo fontes do mercado, os dois combustíveis deverão sofrer já hoje um agravamento de três cêntimos por litro.
6,5 milhões de veículos compõem o parque automóvel português: metade depende da gasolina, 48% são abastecidos a gasóleo e só 2% são movidos a energias alternativas.
A tendência de alta dos preços é para continuar? "O aumento registado nos combustíveis fósseis é realizado de forma artificial. Tem a ver com a lei da oferta e da procura. Se os países OPEP produzirem menos, o preço sobe. Estas altas de preços a que assistimos em 2021 nada têm a ver com o aumento de custos de extração ou de refinação. Não creio que a tendência se mantenha em 2022", explica José Mendes, professor catedrático da Universidade do Minho e ex-secretário de Estado do Ambiente e da Mobilidade.
O custo dos combustíveis pode arrastar os preços de outros bens. Segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), os dados de novembro da inflação evidenciaram já uma subida nos preços de diversos bens, sobretudo alimentares, um movimento induzido pelo agravamento do custo final dos combustíveis e não só. O fenómeno extravasa as nossas fronteiras.
"A subida na inflação reflete, em primeiro lugar, uma subida aguda nos preços dos combustíveis, gás e eletricidade. Em novembro, a inflação na energia representou mais de metade da inflação principal", referiu, recentemente, Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu.
Os portugueses têm alternativas? Em novembro passado, venderam-se mais veículos 100% elétricos do que a gasóleo. "É preciso dar incentivos. Quando criei a rede de postos de carregamento para carros elétricos, diziam-me que não havia procura, mas a prova está na evolução das vendas. No caso do hidrogénio, o Estado devia fazer o mesmo, incentivando de várias formas os privados a montar estações de serviço nas grandes áreas metropolitanas. A rede alargar-se-á naturalmente. Os veículos pesados vão precisar de hidrogénio e não de baterias elétricas", sugere José Mendes.
Preço dos combustíveis mobiliza partidos
A campanha eleitoral para as legislativas, que se realizam a 30 de janeiro, ainda não arrancou na estrada, mas os partidos têm tentado marcar a agenda. Um dos temas é o preço dos combustíveis. O PCP pediu, na terça-feira, uma maior regulação no setor. O CDS tinha já dito que o primeiro-ministro "faz de conta que não temos os combustíveis mais altos". A Iniciativa Liberal lembrou que o Interior do país depende mais do transporte rodoviário do que outras regiões, pelo que a redução da carga fiscal sobre os combustíveis faria uma "diferença bem maior" do que as portagens.
Medidas
Autovoucher
O Autovoucher já permitiu a devolução de quase 11 milhões de euros em desconto nos combustíveis desde 10 de novembro, quando os contribuintes começaram a beneficiar deste desconto. Este voucher consiste num apoio do Estado de 10 cêntimos por litro de combustível até a um máximo mensal de 50 litros.
Limitar margens
No dia 22 de outubro de 2021, entrou em vigor uma lei que permite ao Governo limitar as margens na comercialização de combustíveis por portaria, caso considere que estão demasiado altas sem justificação. Até à data, nada sucedeu.