Concorrência Stella Li, vice-presidente executiva da BYD inaugurou o concessionário da marca em Lisboa e, em entrevista ao DN, JN e TSF, criticou as novas tarifas da UE sobre os elétricos chineses, que a marca vai contornar com uma fábrica na Hungria.
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A BYD, acrónimo de Build Your Dreams, é a marca líder global em veículos eletrificados - 100% elétricos e PHEV Híbridos Plug-in. Os números são impressionantes. Entre janeiro e julho deste ano, a BYD conquistou uma quota de 22% do mercado global, com mais de 1,9 milhões de veículos vendidos, o dobro da Tesla, a marca que surge em 2.º lugar nesta tabela, com 11% do mercado e perto de 950 mil automóveis entregues a clientes.
A CEO que vai tirando o sono a Elon Musk esteve esta semana em Lisboa, na inauguração de um novo concessionário da marca. A BYD está presente em 88 países e em mais de 400 cidades, com fábricas na China, Brasil, Tailândia e Uzbequistão, sendo que estão em construção unidades no México, na Turquia e na Hungria.
Esta última localização, dentro da UE, é a chave para evitar as novas tarifas sobre os veículos chineses, que devem entrar em vigor este outono. Stella Li revela que a “fábrica na Europa vai estar operacional a partir do final de 2025”, mas acrescenta que o investimento na Europa não vai ficar por aí. “Vamos passar a produzir carros na Hungria, mas vamos investir mais na Europa, incluindo centros de Investigação e Desenvolvimento (I&D) e também vamos ter mais concessionários um pouco por toda a Europa.”
Um corte óbvio nos custos de transporte, mas também uma bela forma de evitar tarifas de importação. Em cima dos 10% que todos os veículos produzidos fora da UE pagam ao entrar na Europa, os construtores chineses enfrentam uma nova vaga de tarifas. São novas taxas desenhadas para proteger uma indústria europeia que acordou tarde para a mobilidade elétrica e que luta para concorrer, em preço, com os veículos chineses. A Comissão Europeia argumenta que o aumento de importações de veículos chineses para a UE está assente numa política de subsídios estatais injusta, que os coloca em território europeu a preços muito mais baixos. Em algumas marcas a nova tarifa pode chegar perto dos 38%, sendo que no caso da BYD é de 17,4%.
Um valor significativo num mercado que vive de margens apertadas. Stella Li fala de uma importante redução de custos, com a futura inauguração da fábrica na Hungria, “sobretudo porque ao produzir aqui vamos evitar tarifas de importação”.
A vice-presidente e CEO para as Américas da BYD, responsável, por exemplo, pela entrada e sucesso da marca no mercado brasileiro, não evita um sorriso aberto ao comentar a decisão de Bruxelas. “Não consideramos que seja o caminho certo, porque no fim do dia quem paga é o consumidor. É uma decisão contra os interesses do consumidor europeu.”
Stella Li não concorda com o argumento de que as marcas chinesas têm potencial para “matar as marcas europeias”, afirmando que esse “não é um argumento realista, porque nós investimos muito no futuro e na eletrificação, investimos muito dinheiro em I&D, em tecnologia, e o que estamos a ver é o resultado desse investimento”. Deixa, por isso, um recado simples e claro aos construtores europeus. “As outras marcas, as chamadas marcas tradicionais, têm de apressar o passo, têm também de investir na eletrificação e acreditar no futuro.”
Sobretudo uma empresa tecnológica
A BYD investe rios de dinheiro em I&D de baterias. Esse esforço materializou-se na bateria Blade, que recorre à química LFP - usa lítio ferro-fosfato como cátodo -, uma tecnologia que garante mais segurança, estabilidade térmica e durabilidade, sendo praticamente livre de cobalto, um elemento cuja mineração tem sérios impactos ambientais, sobretudo em países em desenvolvimento.
Outra face desse investimento é o sucesso comercial da BYD enquanto fornecedor de baterias a outros construtores, como a Tesla. Stella Li acredita na sua evolução, tanto na densidade energética, como na performance a temperaturas extremas.
E também não tem dúvidas de que a condução autónoma será o futuro. “Nós já temos um grande centro de I&D, mas acabámos de abrir um outro de software especialmente dedicado à condução autónoma e inteligente. Com toda a concorrência que existe na China, acho que será lá que vamos estrear a condução completamente autónoma, mas mesmo que não usemos toda essa capacidade de condução autónoma, os sistemas de ADAS (Advanced Driver-Assistance Systems) serão cada vez mais avançados.”
Um exemplo bastante prático que já equipa o SUV U8 Yangwang: “Num parque de estacionamento, encontramos um lugar, carregamos num botão e podemos sair do carro que ele estaciona sozinho, mesmo a grande distância.”