Quando avaria o sistema de apoio ao maquinista, comboios não podem passar dos 100 km/h. Houve 83 casos este ano.
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Quando avaria o mecanismo de apoio ao condutor Convel, o Alfa Pendular e o Intercidades não podem circular a mais de 100 km/h. Desde o início deste ano, e até meados de outubro, a falha foi registada por 83 vezes.
O problema implica que os dois comboios circulem a metade da velocidade máxima: 220 km/h para as automotoras do Alfa Pendular e 200 km/h para as locomotivas que rebocam as carruagens do Intercidades.
Desenvolvido pelos canadianos da Bombardier, o sistema Convel começou a funcionar em Portugal em 1991. O equipamento é fundamental para a segurança a bordo. Por exemplo, se o comboio ultrapassar o sinal vermelho, e o maquinista nada fizer, é acionada automaticamente a frenagem.
Quando o Convel não está a funcionar, para não comprometer a segurança a bordo, o comboio não pode ultrapassar os 100 km/h se o maquinista estiver acompanhado por um agente - como o revisor. Se o condutor estiver sozinho, a velocidade máxima desce para 60 km/h.
O sistema, entretanto, foi descontinuado pela Bombardier - entretanto comprada pela francesa Alstom. A CP garante que tem "mantido um acompanhamento de proximidade do serviço de manutenção e definido ações com vista à resolução dos problemas técnicos que têm sido detetados".
Atrasos e compensações
Ao fim de 30 anos de serviço, contudo, algumas peças não sobrevivem ao desgaste do tempo. "As avarias que se têm registado estão habitualmente ligadas a falhas em equipamentos eletrónicos, de natureza aleatória" e em que "nenhuma ação de manutenção evita a sua ocorrência", esclarece ao JN/DV fonte oficial da CP.
Nos comboios de longo curso, a falha foi registada por 83 vezes entre 1 de janeiro e 15 de outubro, das quais 68 foram na frota do Alfa Pendular. No ano passado, registaram-se 107 avarias, 60 das quais no Alfa. Em 2019, houve 67 ocorrências, 35 delas no comboio Intercidades.
Quanto mais veloz for a linha, mais penalizadora é a situação. Numa viagem Porto-Lisboa, por exemplo, se o sistema avariar logo no início da viagem, é provável que o comboio chegue ao destino uma hora depois do previsto. Por o atraso ser igual ou superior a uma hora e a responsabilidade ser da CP, o passageiro pode exigir o reembolso de 25% do valor do bilhete. A CP não consegue discriminar indemnizações por atraso dos comboios devido a estas falhas.
O fim das avarias do Convel depende da entrada em funcionamento, em três ou quatro anos, do módulo de transmissão STM. Em Portugal, o sistema está a ser desenvolvido pelas empresas Critical Software e Nomad Tech.