O presidente do Lloyds Banking Group, António Horta Osório, considerou, esta sexta-feira, que as responsabilidades da banca na crise financeira minaram a confiança dos clientes, pelo que os bancos têm que alterar a sua forma de atuar para reconquistá-la.
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"Tal como o ambiente externo se alterou, os bancos têm que mudar. Acredito que a chave para recuperar a confiança está em três pontos: mudança de cultura, aumento da estabilidade e apoio ao crescimento através de uma política de crédito prudente", afirmou o banqueiro, durante a intervenção que fez, esta sexta-feira, num almoço promovido pela Câmara do Comércio Luso Britânica.
Neste encontro, realizado na residência oficial do embaixador britânico em Lisboa, Horta Osório defendeu, no discurso a que a Lusa teve acesso, que o maior desafio que os bancos enfrentam atualmente é a quebra de confiança dos consumidores.
"Sem a confiança dos nossos clientes, os bancos são efetivamente incapazes de prosseguir o seu papel no apoio à recuperação e à construção de uma economia mais forte", realçou Horta Osório.
O líder da segunda maior instituição financeira do Reino Unido sublinhou que, durante vários anos, houve na banca uma cultura de "complacência" face à gestão do risco, uma perda do foco no cliente e a procura de elevadas receitas para compensar o ritmo de subida dos custos.
"As práticas base do negócio bancário foram progressivamente relaxadas a favor de ganhos financeiros de curto prazo", sublinhou.
"Para mim, isto demonstra a importância de um setor bancário eficiente, capaz de alocar corretamente os recursos, para construir uma economia forte que possibilite a melhoria significativa da qualidade de vida dos cidadãos e os lucros sustentáveis para os bancos", assinalou Horta Osório.
Na sua opinião, no curto prazo, a forma de restaurar o crescimento económico passa pela redução da incerteza e pela restauração da confiança, de forma que o setor privado possa crescer, compensando o processo de desalavancagem no setor público.
"Em toda a Europa, a espiral de fraca confiança dos consumidores que implica uma quebra na procura e a falta de apetite pelo investimento e pela criação de empregos está a empurrar a economia para mais recessão, ou atrasando qualquer perspetiva de recuperação", disse Horta Osório.
E acrescentou: "As empresas observam o ambiente de fraca procura e cortam a sua força laboral, atrasando os investimentos. É um ciclo virtuoso".
Horta Osório salientou que a banca não pode mudar esta situação por si só. "Os bancos não podem obrigar as famílias e as empresas a pedir empréstimos com a finalidade de sustentar a procura no curto prazo. Nem devem fazê-lo", sustentou.
Ainda assim, segundo o banqueiro, os bancos "podem e devem desempenhar um papel importante no suporte da recuperação" económica, assumindo as suas responsabilidades na gestão dos depósitos das famílias e das empresas e usar estes fundos de forma prudente para suportar o investimento e o crescimento.
"Acredito que um modelo de negócio que coloque o cliente no centro e, assim, devolve resultados sustentáveis ao longo do tempo é totalmente alinhável com os interesses dos investidores", afirmou, defendendo que as atividades dos bancos de retalho devem ser "simples" e "aborrecidas".
O responsável admitiu que esta mudança vai demorar algum tempo, mas realçou a necessidade de ser assegurado que nenhum banco está numa posição em que ameace a segurança dos seus depositantes.
"Os eventos recentes no Chipre complicaram a capacidade de assegurar esta confiança, mas devemos reconhecer as melhorias significativas feitas ao nível da estabilidade da indústria", frisou.
E concluiu: "É claro que os clientes, os bancos e os reguladores querem uma economia forte. Cabe à indústria financeira mudar para estabelecer as condições que permitam a reconstrução da confiança. Posso assegurar que o Lloyds está empenhado em desempenhar o seu papel para liderar esta mudança".