A ajuda de emergência do Banco Central Europeu aos bancos gregos deve estar por um fio: o BCE manteve o teto do mecanismo de assistência de liquidez (ELA, na sigla inglesa) nos 89 mil milhões de euros, mas terá ajustado a taxa de desconto (haircut) que aplica à dívida pública que os bancos vendem em troca de dinheiro novo.
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Assim, a Grécia teve de prolongar por mais dois dias o encerramento de todos os bancos no país e manter o limite de 60 euros nos levantamentos diários de notas nas caixas multibanco.
Na prática, o BCE ameaça tirar o tapete aos bancos gregos, um dia depois da vitória do "não", clamado por mais de 60% dos gregos, às exigências dos credores. Hoje, o Eurogrupo reúne-se já sem Yannis Varoufakis, o polémico ministro helénico das Finanças que anunciou ontem a sua saída, dando lugar a Euclid Tsakalotos, até agora coordenador grego das negociações com os credores. Segue-se uma cimeira extraordinária da zona euro.
O primeiro ministro grego, Alexis Tsipras, que conseguiu o apoio popular que pretendia para adquirir mais força negocial, já prometeu apresentar novas propostas para manter a Grécia na moeda única. François Hollande e Angela Merkel exigem "propostas sérias".
Em comunicado, ontem ao final da tarde, o BCE apertou ainda mais o setor bancário helénico. Decidiu "ajustar as margens de desconto [haircuts] sobre as garantias aceites pelo Banco da Grécia no âmbito da ELA". Como a dívida pública grega é de alto risco agora, esse desconto aplicado pelo BCE deverá ter aumentado (cerca de 10%, diz-se), pelo que os bancos estão a ficar sem títulos em stock para poder continuar a recorrer a Frankfurt por muito mais tempo a pedir essa ajuda extra.
Aliás, se dúvidas houvesse, o BCE avisou que "a situação financeira da República Helénica tem um impacto sobre os bancos gregos já que a garantia que estes usam na ELA assenta de forma significativa em ativos ligados ao Governo". E que os fundos em causa "só podem ser fornecidos contra garantias suficientes".
Várias agências de notícias estrangeiras (Reuters e Bloomberg) deram conta da crescente hostilidade de alguns banqueiros centrais em manter a linha ativa nos 89 mil milhões. Dois governadores terão votado contra.
Depois de não ter pago 1,5 mil milhões de euros ao FMI a 30 de junho, a Grécia enfrenta o teste de fogo a 20 de julho, dia em que terá de ressarcir o BCE em 3,5 mil milhões. Se não o fizer, é quase certo (automático) que Frankfurt desligará a máquina, os bancos gregos vão todos à falência (ficam sem dinheiro) e só poderão reabrir com uma nova moeda em circulação. É a saída do euro. Até lá, os bancos vão gerindo a situação atrás de portas fechadas. Os balcões vão ficar encerrados mais dois dias - hoje e amanhã - e o limite diário de 60 euros em notas por cartão mantém-se, anunciou a Associação Helénica de Bancos (AHB).
Como o BCE deixou de reforçar a ELA desde 26 de junho, as instituições tiveram de fechar portas para evitar uma corrida aos balcões e aos depósitos, tendo sido impostos vários controlos de capitais para travar a drenagem de dinheiro.
Necessidade de liquidez
O chefe do Governo grego, Alexis Tsipras, telefonou, ontem à tarde, ao presidente do Banco Central Europeu (BCE) para falar da necessidade imediata de liquidez por que passam os bancos da Grécia e alertando para a urgência de reabrir a atividade bancária no país. O telefonema surgiu depois de se saber que o BCE não irá aumentar o limite da linha de ajuda financeira à Grécia, ao contrário do que o Governo pretendia. Ontem, antes da resignação, Varoukakis deixou cair uma bomba: se necessário, a Grécia tentará introduzir uma moeda eletrónica paralela ao euro para, eventualmente, poder pagar salários e pensões e ter euros verdadeiros para amortizar dívida aos credores oficiais, como o BCE.