O Banco de Portugal disse à Lusa que a reavaliação da adequação dos banqueiros é feita em "cada momento" atendendo a "factos objetivos", quando questionado sobre a idoneidade do presidente executivo do Novo Banco, António Ramalho.
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Segundo o Banco de Portugal (BdP), sendo o Novo Banco uma instituição significativa é o Banco Central Europeu (BCE) o "responsável, designadamente, pela abertura e decisão de eventuais processos de reavaliação de idoneidade".
Contudo, acrescenta que, quando necessário, "toma a iniciativa de partilhar com o BCE toda a informação relevante sobre instituições significativas logo que a mesma chegue ao seu conhecimento e articula com o BCE de modo a permitir uma decisão ponderada sobre eventuais diligências a adotar".
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O regulador e supervisor bancário diz que a adequação dos membros dos órgãos sociais dos bancos é avaliada em conformidade com as regras do Regime Geral das Instituições de Crédito, as orientações da Autoridade Bancária Europeia e as regras do BCE, atendendo para isso aos "factos que cheguem, em cada momento, ao conhecimento das autoridades de supervisão".
"Esta avaliação de adequação é feita em estrito cumprimento de critérios legais definidos para aferição dos requisitos de idoneidade, experiência, independência, disponibilidade e adequação coletiva do órgão, assentando exclusivamente na apreciação de factos objetivos", afirma o BdP.
Diz ainda o Banco de Portugal que também cada banco "está obrigado a reavaliar a adequação das pessoas designadas para os órgãos de administração e fiscalização sempre que, ao longo do respetivo mandato, ocorrerem circunstâncias supervenientes que possam determinar o não preenchimento dos requisitos exigidos".
Na resposta à Lusa, enviada na segunda-feira à tarde, em nenhum momento o Banco de Portugal se refere especificamente ao caso do Novo Banco.
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A Lusa questionou o Banco de Portugal sobre a idoneidade do presidente executivo do Novo Banco, após conversas telefónicas de António Ramalho com o ex-administrador do Novo Banco Vítor Ramalho, divulgadas na imprensa, em que António Ramalho disse estar a agendar uma reunião com o então presidente do Benfica para o "preparar" para a Comissão de Inquérito.
Luís Filipe Vieira tem elevadas dívidas ao Novo Banco e vários créditos foram reestruturados e vendidos em condições que, na comissão parlamentar de inquérito, levantaram dúvidas aos deputados.
Segundo o inspetor tributário Paulo Silva, no processo da operação Cartão Vermelho citado pela revista "Sábado", esses encontros preparativos "vêm ainda mais evidenciar a preocupação, de parte a parte, que o devedor e o credor têm com a Comissão Parlamentar, em tentativas de concentração de posições entre pessoas que [...] tiveram intervenções que indiciam lesivas monetariamente para o Novo Banco que, em face do mecanismo de capital contingente, foram transferidas para o Fundo de Resolução".
Segundo o despacho de indiciação da operação Cartão vermelho, diz a "Sábado", há dois ex-diretores do Novo Banco referidos, Álvaro Neves (suspeito de "relacionamento privilegiado" com os empresários referidos no processo) e Pedro Pereira (referido em escutas como contacto de um consultor de uma entidade ligada à compra de créditos do Novo Banco a Luís Filipe Vieira). O Novo Banco disse à "Sábado" que Álvaro Neves foi despedido e Pedro Pereira está suspenso de funções com processo disciplinar em curso.
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A coordenadora do BE, Catarina Martins, questionou na sexta-feira a idoneidade do presidente do Novo Banco. O deputado do PS João Paulo Correia disse à CNN Portugal que o Banco de Portugal "deve analisar se António Ramalho e a restante administração continuam a reunir as condições de idoneidade para continuarem a dirigir o Novo Banco", caso se confirme o veiculado na imprensa.
Já o presidente da comissão parlamentar de inquérito ao Novo Banco, Fernando Negrão (PSD), defendeu que, se existirem indícios, haja uma investigação do Ministério Público ao sucedido.